Martinez está fora da campanha de Ciro Gomes

O presidente nacional do PTB, deputado federal José Carlos Martinez (PR), não é mais o coordenador-geral da campanha de Ciro Gomes (PPS) à Presidência da República. Acossado pelas denúncias sobre suas conexões com Paulo César Farias, o ex-tesoureiro de campanha de Fernando Collor, o deputado paranaense acabou se desligando ontem da função. O novo coordenador será Lucio Gomes, o irmão do candidato a presidente.

Em nota oficial distribuída no final da tarde de ontem, Martinez alegou que decidiu se retirar da campanha para preservar Ciro e acusou os adversários do candidato do PPS a presidente de tentar desqualificá-lo e a Ciro. “Não podendo atacá-lo por sua biografia, sua honestidade e integridade moral, procuram desqualificar aqueles que o apóiam. Tenho sofrido acusações injustas, que envolvem negócios privados de minha família. Demonstrarei a verdade e levarei às barras dos tribunais aqueles que me ofendem”, justificou.

Ciro Gomes também distribuiu nota oficial sobre o caso. Considerou “coisa chocante” o que classificou de “carga de violência” que se abateu sobre Martinez e afirmou que deplorava o ” radicalismo” da atitude. “Mas o desespero, a falta de compostura e de critério de nossos adversários parecem não ter limites”, comentou o candidato, que aceitou o pedido como um “sacrifício” para oferecer ao deputado a chance de se defender. “É nessa circunstância, e apenas nela, que aceito o afastamento que me pede. Tão logo consiga esclarecer os fatos, volte para integrar minha equipe”, afirmou.

Proteção

Com o afastamento de Martinez, a cúpula da campanha de Ciro acredita que ele está protegido das associações com Paulo César Farias, esvaziando os ataques que o candidato vinha sofrendo por parte dos adversários. Ciro resistiu até onde pode aos petardos contra seu coordenador. Há dois dias, a cúpula do PTB dizia que Martinez era intocável e Ciro Gomes, quando esteve em Curitiba há uma semana, classificou como “calúnias” as acusações contra Martinez. As pressões dentro da Frente Trabalhista pela saída do petebista da coordenação foram aumentando. O senador Roberto Freire, presidente nacional do PPS, era o que mais insistia no afastamento.

Uma reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo mostrou que o dinheiro da dívida do deputado com PC seria proveniente de contas ?fantasmas? abertas pelo tesoureiro de Collor para burlar a fiscalização de órgãos como a Receita Federal. Tanto Ciro como Martinez vinham sustentando que o empréstimo de Paulo César Farias ao deputado paranaense, feito em 1991, foi um ?negócio privado? e legal. Martinez admitiu que ainda pagava parcelas da dívida a herdeiros de PC. De acordo com a reportagem da Folha de S.Paulo, os ?fantasmas? eram nomes inventados por PC para abrir contas bancárias cuja titularidade era dele. Com os ?fantasmas?, o ex-caixa de campanha de Fernando Collor podia fazer suas movimentações financeiras sem aparecer.

Alívio

Para os dois candidatos ao governo do Paraná que apóiam Ciro Gomes – o senador Álvaro Dias (da coligação PDT-PTB-PPB) e o deputado federal Rubens Bueno (PPS) – a saída de Martinez do comando de campanha da Frente Trabalhista foi uma medida adequada. Àlvaro disse que havia aconselhado Martinez a se afastar para responder pessoalmente às acusações sem o envolvimento da campanha. “Há uma exploração de fatos antigos com o objetivo de atingir o Ciro. Como o Martinez é companheiro, decidiu se afastar. Acredito que a população é mais inteligente que os marqueteiros e vai entender que, em política, cada um responde pelos seus atos”, comentou.

Álvaro disse ainda que o episódio não terá impacto sobre sua campanha no Paraná. Segundo ele, a população do Paraná conhece o seu comportamento e já lhe deu vários atestados de boa conduta, referindo-se às eleições que venceu no Estado. O senador afirmou ainda que os adversários que teimam em criticar suas alianças não terão sucesso.

O candidato do PPS ao governo, Rubens Bueno, considerou uma “decisão de bom senso” a saída de Martinez. Para ele, a permanência de Martinez na coordenação iria deixar Ciro Gomes freqüentemente na defensiva.

Processos vão seguir adiante

O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, oficiou ontem ao STF (Supremo Tribunal Federal) transmitindo o seu parecer pela continuidade dos processos envolvendo o deputado federal José Carlos Martinez (PTB) na Justiça. Martinez, que deixou ontem a coordenação geral da campanha de Ciro Gomes (PPS) à Presidência da República, é investigado por sonegação fiscal e evasão de divisas.

A medida provisória que disciplinou a imunidade parlamentar permitiu que os processos contra os titulares de mandatos no Legislativo começassem a andar. Conforme a lei, somente a manifestação do plenário da Câmara Federal ou Senado pode interromper um processo contra deputados e senadores. Isso seria possível por meio da aprovação pelo plenário de um projeto de resolução, de iniciativa da Mesa Executiva, suspendendo o andamento do processo.

Martinez dá sua versão sobre a decisão de sair

Em nota Martinez explica que se orgulha de ter sido convocado para coordenar a campanha de Ciro:

“O PTB e o PDT se uniram em torno desse projeto, que objetiva a mudança do modelo econômico e social, visto que o atual fracassou.

No início, tentaram destruir nossa aliança. Promessas não faltaram. Ministérios, cargos, liberações de verbas, vantagens de toda natureza foram oferecidas ao PTB para que abandonássemos a sua candidatura.

Não conseguiram.

Agora, partem para uma nova estratégia. Não podendo atacá-lo por sua biografia, sua honestidade e integridade moral, procuram desqualificar aqueles que o apóiam.

Tenho sofrido acusações injustas, que envolvem negócios privados de minha família. Demonstrarei a verdade e levarei às barras dos tribunais aqueles que me ofendem.

Sinto, porém, que as infâmias assacadas contra mim podem prejudicar sua campanha, o que significa causar um prejuízo irreparável ao povo brasileiro. Saiba, presidente, que sou apenas mais um de tantos empresários que sofrem com a política atual, obrigados a contrair empréstimos a juros escorchantes para levar adiante seus projetos de desenvolvimento e geração de empregos.

Poucos são aqueles, à exceção dos amigos do rei, que conseguem sobreviver, sem às vezes atrasar pagamentos, ou até ter um título protestado.

Misturar minha vida empresarial com minha atividade política é no mínimo uma desonestidade.

É por isso, para esclarecer a verdade e para atender aos insistentes pedidos de minha família, e ainda, acima de tudo, para preservá-lo, por acreditar no projeto que nos une, que me afasto da coordenação da campanha.

Volto ao meu Paraná, onde estarei buscando votos para elegê-lo presidente da República e me reeleger deputado federal. Quero agradecer o seu carinho, ao dos meus companheiros do PTB e da Frente Trabalhista, e pedir a Deus que não permita que o ódio vença.”

Serra ironiza solução

O candidato à Presidência pela Coligação Grande Aliança (PSDB e PMDB), o tucano José Serra, comentou com ironia a saída do deputado federal José Carlos Martinez (PTB-PR) da coordenação da campanha do candidato Ciro Gomes (PPS).

“Realmente havia muitos problemas, mas o Ciro Gomes o defendeu bastante. É até contraditório ele deixar a campanha se era tão puro assim, segundo o próprio Ciro Gomes”, afirmou Serra. Martinez deixou a campanha de Ciro após a Folha de S. Paulo ter divulgado que ele ainda hoje paga parcelas de uma dívida a parentes de Paulo César Farias, o PC, ex-caixa de campanha de Fernando Collor de Mello.

A declaração de Serra sobre a campanha de Ciro foi dada durante entrevista coletiva concedida após a visita do candidato tucano à sede da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em Brasília. Numa rápida palestra que fez a funcionários da empresa, Serra disse que investirá maciçamente em pesquisa agropecuária.

O candidato voltou a dizer que, nos próximos quatro anos, caso eleito, criará 8 milhões de empregos no País. À tarde, Serra se reunirá no comitê central de campanha com assessores.

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