A confirmação da pré-candidatura do ex-presidente Itamar Franco à presidência da República pelo PMDB já mobilizou o grupo de apoio no Paraná do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho. O deputado Artagão de Mattos Junior disse ontem que está agendando um encontro de Garotinho com as maiores lideranças do PMDB e, principalmente, com o governador Roberto Requião, para tentar garantir um compromisso de apoio ao ex-governador carioca.
O argumento é que Garotinho venceu as prévias do partido, realizadas no dia 19 de março. Devido a uma contestação judicial, as prévias foram transformadas em consulta, mas a convenção de junho poderá decidir pelo reconhecimento do resultado. Representante da campanha de Garotinho no Paraná, Artagão Junior disse que as posições de Requião, do presidente estadual do partido, Dobrandino da Silva, e do vice-governador Orlando Pessuti serão preponderantes para assegurar a maioria dos cem votos dos delegados do Paraná na convenção. Na prévia que virou consulta, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, foi o mais votado no estado.
Artagão Junior comentou que Requião, embora tenha votado em Rigotto, assumiu o compromisso de respeitar o resultado da consulta. "A posição do governador norteia a maioria dos filiados do PMDB do Paraná. Se ele disser que está com o Garotinho, 90% dos votos vai com ele. E ele disse, diante de 200 pessoas, no discurso de abertura das prévias, que aquele que fosse vitorioso teria sua manifestação de apoio. Nós esperamos que ele dê andamento a esse compromisso", afirmou.
Artagão afirmou que, na avaliação do grupo de Garotinho, o ex-presidente Itamar pode estar apenas levando adiante uma estratégia para desfocar o crescimento do ex-governador carioca nas pesquisas de intenções de votos. "Pode ser que esta candidatura tenha só este objetivo, já que o primeiro a se manifestar favorável à candidatura do Itamar foi o Quércia, que sempre foi contrário à candidatura do Garotinho", disse. Para o deputado estadual peemedebista, como Garotinho subiu nas pesquisas depois de oficializado como candidato único no PMDB, pode estar havendo uma tentativa de dividir seus espaços.
Ainda vale
O presidente estadual do PMDB, Dobrandino da Silva, disse que votou em Rigotto na consulta, mas na convenção de junho irá optar por Garotinho. "A minha luta é para que tenhamos um candidato a presidente. O meu era o Rigotto, mas nós temos que respeitar o resultado das prévias. O Itamar Franco é um nome de expressão, teve vários mandatos. Pode até ser um nome melhor que o Garotinho, mas não participou da prévia. Acho que o Garotinho disputou esse processo e agora tem o direito de ser o pré-candidato do partido", comentou.
Dobrandino observou que o surgimento do ex-presidente Itamar Franco no cenário das pré-candidaturas peemedebistas tem o mérito de consolidar a participação do partido na sucessão presidencial. "Com o Itamar, fica definitivamente estabelecido que o PMDB terá um candidato. E se ele ganhar a convenção, vamos trabalhar para ele", comentou.
O presidente estadual do partido afirmou que conversou com Requião sobre o assunto e que o governador está surpreso com o crescimento do ex-governador carioca. "Ele comentou, não sei se a sério ou brincando, que o Garotinho, com um bom projeto de governo e o Carlos Lessa (economista) de vice, até dava para apoiar", disse.
?Itamar não pode ser levado a sério?
Porto Alegre (AE) – O vice-presidente do PMDB e deputado federal Eliseu Padilha (RS) criticou ontem o gesto do ex-presidente Itamar Franco de anunciar sua pré-candidatura à Presidência da República pela legenda. "Não pode ser levada a sério", afirmou. Padilha viu na posição de Itamar duas possibilidades: ou ele estaria tentando melhorar sua chance de concorrer ao Senado ou pretenderia tentar uma aproximação do PMDB com o PT. O deputado destacou que o comunicado de Itamar foi feito depois de um encontro dele com o ex-ministro José Dirceu. "Ou quer aumentar o cacife para o Senado ou para servir ao PT", relacionou Padilha.
A atitude de Itamar surpreendeu o PMDB gaúcho pelo fato de ter ignorado a realização das prévias da legenda, em março. Ao anunciar agora seu nome, ele "desconsidera não só o partido como a base, que tomou uma decisão", argumentou Padilha. O deputado observou que, "formalmente", ele tem o direito de reivindicar a candidatura – já que a convenção só oficializará a posição do partido em junho -, mas "politicamente não tem nenhuma legitimidade". Padilha observou que o partido está comprometido "extra-oficialmente" com o ex-governador Anthony Garotinho, que venceu a prévia, disputada contra o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto.
Oposicionistas vêem influência de Dirceu
Brasília – Enquanto os governistas ainda comemoravam a pré-candidatura do ex-presidente Itamar Franco, alguns oposicionistas do PMDB partiram ontem para o ataque. Itamar anunciou anteontem que, em junho, vai disputar com o ex-governador Anthony Garotinho as prévias do partido para escolher o candidato à Presidência da República. O anúncio foi feito diante de Garotinho, no mesmo dia em que o ex-presidente teve um encontro de mais de uma hora com o petista José Dirceu, ex-ministro e deputado cassado por suposto envolvimento no escândalo do mensalão.
"A presença do José Dirceu, que se deslocou de São Paulo para encontrar o Itamar em Juiz de Fora, dá a nítida impressão de que o ex-ministro foi fazer do Itamar o pré-candidato do PMDB com objetivos eleitorais em favor do Lula. Uma candidatura que nasce com o manto dessa suspeição fica frágil", reclamou o deputado oposicionista Moreira Franco (PMDB-RJ).
Se Itamar levar adiante a pré-candidatura e vencer as prévias do PMDB, o cenário no partido se inverte. Para Lula, a saída de Garotinho é conveniente, pois as pesquisas eleitorais mostram que o ex-governador tira votos do presidente. Além disso Garotinho tem relacionamento amistoso com o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Uma aliança de Garotinho com o tucano no segundo turno é certa. No caso de Itamar, acontece o oposto. O ex-presidente certamente estaria ao lado de Lula na segunda etapa da disputa.
Um dirigente do PMDB comentou que o lançamento da pré-candidatura de Itamar depois do encontro com José Dirceu "pegou muito mal porque a impressão é de que Itamar teria atendido a um pedido do Lula". Na próxima quarta-feira, em Brasília, a direção do partido vai se reunir com todos os candidatos a governador e os presidentes regionais. No encontro, ficará claro que na maior parte dos Estados o PMDB tende a se aliar ao PSDB ou ao PFL. Alianças com o PT acontecerão em apenas três ou quatro Estados, segundo avaliação preliminar feita no partido.