Itaipu Binacional foi a salvação do Paraguai

Cerca de 3 milhões de eleitores devem ir às urnas amanhã para escolher o novo presidente do Paraguai e a relação do país com o Brasil, principalmente por conta da sociedade entre ambos na Itaipu Binacional, que foi um dos temas mais polêmicos durante toda a campanha e pode sofrer conseqüências, dependendo do resultado das eleições.

O líder nas pesquisas de intenção de voto, candidato oposicionista Fernando Lugo (União Patriótica pela Mudança) considera a relação com Brasil através de Itaipu um dos principais entraves para o desenvolvimento econômico do Paraguai e promete aumentar o preço da energia que o Brasil compra do Paraguai (que vende 80% do que tem direito da produção de Itaipu por preço estabelecido em tratado).

Para o consultor do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria, Sidney Ferreira Leite, a vitória de Lugo terá impacto no Brasil. ?Lugo é admirador de Evo Morales e pretende fazer com os valores da energia pagos pelo Brasil o mesmo que o presidente boliviano fez com o gás?, prevê. ?Ele já prometeu buscar cada centavo paraguaio nas relações que classifica como injustas com o Brasil e com a Argentina na questão energética?, acrescentou. Mas o consultor lembra que o Brasil tem poder de barganha na questão de Itaipu pois o Paraguai ainda tem uma dívida por conta da construção da Usina e disse acreditar que, se eleito, Lugo será muito mais diplomático que seu discurso de campanha.

Sidney estranha o apoio do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB) à candidatura de Lugo e prevê que essa aproximação poderá se tornar um embate quando os interesses dos dois Estados divergirem. ?É estranho, porque a aproximação ideológica entre governantes de esquerda não está se refletindo em cooperação econômica entre os mesmos. E isso fica claro quando vemos que o Mercosul não avança?, comentou.

Já o diretor de uma das principais revistas econômicas do Paraguai, a Enfoque Económico, aponta que a oposição erra em associar Itaipu à falta de desenvolvimento econômico do país. Para o brasileiro Wagner Enis Weber, que vive em trânsito entre Curitiba e Assunción, Itaipu é a grande responsável pelo salto de crescimento econômico e social vivido pelo Paraguai nos último 30 anos. ?Antes de Itaipu o Paraguai era o país mais atrasado da América Latina. O nível de vida material da população local correspondia a 25% da brasileira. Agora, o país é um dos maiores exportadores mundiais de grãos e carnes e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem uma expectativa de vida 1,5 ano maior que a do brasileiro e uma taxa de analfabetismo 50% inferior à nossa?, disse, atribuindo à Itaipu o crescimento médio superior a 7% da indústria do país. Para ele, outro erro é o Paraguai querer renegociar os valores da energia com o Brasil, uma vez que, segundo os indicadores, em 20 anos o país estará consumindo toda a energia que produz. ?Hoje o Paraguai utiliza o equivalente a duas turbinas da usina. Alcançaram no ano passado o previsto para 2010. Com o consumo crescendo 9,3% ao ano, em 20 anos usará as sete turbinas que têm direito. Se querem vender energia para o Brasil, têm de pensar já em uma nova fonte?, comentou.

Para ele, o que ocorre no Paraguai é um sub-registro das informações e a inexistência de estatísticas, que permitem várias conclusões. ?Eles sequer consideram os US$ 1,5 bilhão de Itaipu no cálculo de seu Produto Interno Bruto (PIB)?, disse.

Wagner acredita que os liberais (grupo ao qual pertence o partido de Lugo) tentam desqualificar os benefícios gerados por Itaipu pelo fato de a usina ser o maior símbolo da união entre Brasil e Paraguai, uma vez que eles consideram a influência do Brasil como uma das responsáveis diretas pela manutenção dos colorados (partido do presidente Nicanor Duarte e da candidata da situação, Blanca Ovelar) no poder durante os últimos 60 anos. ?Assim, os veículos de comunicação ligados aos liberais divulgaram, nos últimos 20 anos, a idéia de que a Binacional beneficiou somente o Brasil, excluindo as possibilidades de desenvolvimento paraguaio?, concluiu.

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