Governador denuncia empréstimos

O governador Roberto Requião (PMDB) reafirmou ontem que empréstimos irregulares realizados pelo Banestado serviram para financiar a campanha eleitoral do ex-governador Jaime Lerner (PSB) à reeleição, em 1998. As empresas que emprestaram suas razões sociais para captar empréstimos em paraísos fiscais, no valor de US$ 10 milhões, aparecem, inclusive, no caixa 2 da campanha de reeleição do prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL), em 2000.

Duas dessas empresas – a Redran Construtora de Obras, que administra o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), e a Tucuman – aparecem como doadoras no caixa 2 da campanha eleitoral de Taniguchi. “Essas empresas se recusaram a assumir a dívida, alegando que não tinham feito os empréstimos para elas. Além disso, frisaram que essa foi a fórmula encontrada pelo governo da época para financiar a reeleição”, disse Requião. “Quando cobradas, disseram que o dinheiro era para me derrotar na campanha de 98 e que, portanto, quem devia pagar pelo empréstimo era o governo que me antecedeu”, completou. A Jabur Pneus também foi citada pelo governador como uma das empresas que emprestou sua razão social para empréstimos irregulares.

Denúncia antiga

O governador lembrou que desde 1998 denuncia essas operações. “Mas curiosamente jamais encontrei eco na imprensa. Há um bloqueio da mídia em relação aos desmandos de figuras do governo anterior que formaram uma verdadeira quadrilha”, salientou, pedindo ao Ministério Público rigor nas investigações porque, até agora, somente o ex-diretor de câmbio do Banestado, Gabriel Pires Neto, está preso.

“Esse dinheiro jamais entrou na conta das empresas e o MP pode observar isso quebrando o sigilo das empresas que pagaram o empréstimo e das que remanesceram, que são conhecidas”, advertiu Requião.

Várias empresas foram selecionadas, na época, para emprestar o nome para as operações avalizadas pelo Banestado. No caso da Redran, Tucuman e Jabur Pneus, os empréstimos foram realizados pela agência Grand Cayman e avalizadas pelo próprio banco. O acordo já previa a compra de precatórios para quitar a dívida. Essa prática é irregular, já que as empresas compravam papéis de difícil recebimento, por 5% do valor de face e posteriormente revendiam ao banco por 100% do valor de face. Esses precatórios eram inteiramente aceitos pelo Banestado, que ficou com o prejuízo.

Caixa 2

O escândalo do caixa 2 da campanha de reeleição do prefeito Cassio Taniguchi foi denunciado pelo jornal Folha de São Paulo, em novembro de 2001. Na época, o tesoureiro da campanha de Taniguchi, Francisco Paladino Jr., apresentou um livro-caixa com a movimentação financeira da coligação “Movimento Curitiba Sempre com Você”.

As anotações apontavam gastos de R$ 32,9 milhões, enquanto na prestação oficial junto ao Tribunal Regional Eleitoral foram declarados apenas R$ 3,1 milhões. No livro constavam originais de notas fiscais e muitas cópias de recibos de pagamentos efetuados pelo setor financeiro da estrutura de campanha .

De acordo com o livro-caixa, a Tucuman doou R$ 220 mil – 100 mil em 25 de agosto de 2000 e dois meses depois, em 25 de outubro, fez nova doação, esta de R$ 120 mil. As duas contribuições são identificadas no livro-caixa pela letra “E”, denominação adotada para uma espécie de “engenharia financeira” em que os valores eram devolvidos para as empresas doadoras – uma forma de “esquentar” a prestação de contas oficial entregue à Justiça Eleitoral. A Tucuman usou, nas duas doações, cheques do Banestado, identificados pelos números de série 933.453 e 322.288.

A Redran doou R$ 150 mil, no dia 17 de outubro de 2000, através do cheque 301.806, da Caixa Econômica Federal. A anotação também aparece seguida da letra “E”. O prefeito é acusado de omitir em documento público ou particular declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita para fins eleitorais, previsto no artigo 350 do Código Eleitoral.

Voltar ao topo