FHC critica o recuo nas conquistas políticas

Diplomático, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) evitou ontem, durante sua visita a Curitiba para participar de ciclo de palestras, pesar nas críticas às políticas econômica e externa do governo Lula.

O ex-presidente preferiu pregar a intensificação do debate político para evitar que a população perca a crença nas instituições e no governo: "É preciso haver proximidade entre os políticos e a população, e não se chegará a isso sem uma reforma política", vaticinou.

FHC vê com reservas as propostas nesse sentido em tramitação no Congresso: "Querem retirar avanços. A complexidade da política brasileira não é um problema de esquerda ou de direita, é de democracia. Avançamos na institucionalização da vida política e não podemos permitir a perda da legitimidade conquistada ao longo de tantas lutas". Ele considera que a questão não está sendo avaliada na medida adequada por falta de comando e liderança na condução dos debates: "Está na hora de discutir formas de representação mais eficazes", ajuntou referindo-se à reforma eleitoral.

Juros

Indagado sobre as declarações do presidente Lula, apontando o comodismo da população diante de juros bancários, FHC ponderou que a fixação das taxas dependem de uma multiplicidade de fatores: "É o Banco Central quem dá as regras, portanto não adianta mudar de banco. Existe a poupança, outro patamar que limita os juros. Há muitos fatores, mas certamente a população não é a responsável por eles". Minimizou o efeito das declarações do presidente, sugerindo que ele deve estar insatisfeito com as taxas atuais: "Quantas vezes eu também não fiquei? Mas ele podia olhar para outros lados, o dos bancos e o da política econômica, por exemplo. Não quero ser leviano. Não quero fazer com o Lula o que ele tantas vezes fez comigo".

Em relação à política externa do governo petista – alvo de críticas de vários países vizinhos, principalmente após a concessão de asilo político ao presidente deposto do Equador e a visita secreta do ministro José Dirceu à Venezuela- contemporizou que a América do Sul vive um momento de irritabilidade: "Nossa diplomacia tem uma tradição de cautela. Neste momento o Brasil tem sido um pouco insistente porque tem a hegemonia no continente. Liderança se tem, ou não. Não se pode propagar "eu sou líder" sem provocar a reação contrária dos demais".

Ele observou que há uma preocupação em relação ao peso econômico e político do Brasil na América do Sul e que qualquer palavra acaba tendo um peso muito grande: "Nosso País tem uma tradição de atitude construtiva na região, mesmo agora, com esse episódio do Equador. Não se deve transformar em cavalo de batalha algo que é mais afeto à retórica do que aos fatos". Ele acha importante e natural que o Brasil lute para ter assento no Conselho de Segurança da ONU, mas adverte que a caminhada nessa direção não deve deixar feridos: "Interessa mais manter a boa relação com a vizinhança. O Brasil vai precisar do apoio dos vizinhos para chegar lá". 

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