Esquerda latina teme a derrota de Lula

Dirigentes do Partido dos Trabalhadores admitiram ontem na Venezuela que perceberam a preocupação entre os participantes do 6.º Fórum Social Mundial (FSM) com uma eventual derrota eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais brasileiras deste ano.

Caracas – O secretário-geral do PT, Raul Pont, disse durante entrevista à imprensa que tem mostrado "aos preocupados" que pesquisas recentes apontam Lula como favorito, embora algumas indiquem um empate técnico com o prefeito de São Paulo, José Serra, do PSDB. Pont acrescentou que, em breve, o PT fará suas próprias pesquisas e disse acreditar que o presidente se distanciará de Serra e outros candidatos nas eleições presidenciais de 1.º de outubro.

Mais cedo, o chefe de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, disse que "para a América Latina, a reeleição de Lula é fundamental". Ele também identificou temores de "uma regressão" da esquerda regional com a eventual derrota do partido do presidente brasileiro nas urnas.

De qualquer forma, Pomar reconheceu que o PT "já está em campanha". Ele duvidou que Lula tenha acusado seu partido de atrapalhar sua gestão, como afirmam versões da imprensa, que o chefe de Relações Internacionais do partido considera "exageradas". Os meios de comunicação brasileiros, segundo Pomar, consideram o presidente venezuelano, Hugo Chávez, "ditador e autoritário" e afirmam que ele acabou com a propriedade privada na Venezuela.

"No Brasil, se apresenta um Chávez muito diferente", disse ele, e atribuiu às mesmas fontes jornalísticas uma tentativa de dividir "as forças progressistas" latino-americanas, ao chamar o governo Lula de "esquerda light" e Chávez de "esquerda radical". "Esta é a mesma intenção, muito clara, do governo dos EUA e nós não estamos nesse jogo", acrescentou.

O PT também manifestou sua "imensa alegria pela eleição e posse do presidente Evo Morales na Bolívia e de Michelle Bachelet no Chile". "Com isso, os governos se tornam parte integrante de um bloco que já conta com Hugo Chávez, Néstor Kirchner, Luiz Inácio Lula da Silva e Tabaré Vázquez, liderado por governos de esquerda e progressistas cuja cooperação devemos solidificar cada vez mais, e cujo número pretendemos ampliar ao longo deste ano de 2006", diz o comunicado.

No comunicado, o PT dirigiu "uma saudação muito especial ao heróico povo cubano, que há 47 anos mostrou ser possível derrotar o imperialismo americano, e continua mostrando, ano após ano, resistindo às agressões e ao embargo". Pomar disse que o presidente Lula "deve ser candidato à reeleição em 2006, deve anunciá-lo o quanto antes?. Perguntado sobre quem irá coordenar a campanha, Pomar respondeu que enquanto não houver candidato, isso não será decidido, e que o partido "está preocupado agora com sua regularização financeira".

O PT é uma das dezenas de organizações políticas e sociais brasileiras que participam do FSM em Caracas. Há aproximadamente 8 mil ativistas brasileiros entre os cerca de 70 mil de vários países que participam do encontro iniciado na terça-feira e que se estenderá até domingo na capital venezuelana. O FSM foi criado em Porto Alegre, em 2001, quando a cidade era administrada pelo PT.

A marcha de abertura do evento oficial anteontem teve show com hino nacional brasileiro na abertura, interpretado ao som de onze violinos, duas violas e três violoncelos, acompanhados de guitarra, baixo e bateria. O programa da orquestra seguiu com Asa Branca, Brasileirinho, Anunciação. A platéia, sentada, aplaudia.

Ao contrário dos recentes fóruns gaúchos, que encerraram a marcha de abertura com apresentações mais animadas, o franco-espanhol Manu Chao, por exemplo, o repertório dessa vez foi mais clássico. Além da orquestra do Rio Grande do Norte chamada Casa Talento Petrobras, quem também se apresentou a convite do fórum foram as venezuelanas Cecília Todd e Lilia Vera e o cubano Amurí Perez, entre outros.

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