Em mês de romaria, público menor e comércio fechado em Juazeiro do Norte

Os organizadores da Romaria de Nossa Senhora das Dores, que reúne devotos de Padre Cícero, estimavam um público de cerca de 600 mil pessoas entre os dias 1o e 15 deste mês. A prefeitura calculou que metade esteve na cidade. O comércio contabilizou, nas últimas três semanas, 55 lojas fechadas. A redução do número de estabelecimentos e de devotos ocorreu, na avaliação de comerciantes, por três fatores: a crise financeira, a seca prolongada e o controle cada vez mais rigoroso em relação ao transporte de romeiros em paus de arara, nas rodovias federais de acesso a Juazeiro.

O sertão que enfrenta a atual crise econômica não é o mesmo de décadas passadas. Os devotos são agricultores de sítios com antenas parabólicas e energia ou de bairros de periferias de médias e grandes cidades do Ceará, Pernambuco, Piauí, Bahia e Alagoas, principalmente, inseridos na economia. As hospedarias provisórias montadas no passado por beatos deram lugar a pequenas pousadas de preços baixos. Os mutirões de farinha e carne seca que alimentavam a multidão de fiéis foram trocados por restaurantes.

As mudanças também ocorreram no transporte dos romeiros. Vans, micro-ônibus e ônibus vão, aos poucos, dominando o mercado. Em tempo de crise, porém, muitos devotos só conseguem chegar a Juazeiro em pau de arara, uma viagem geralmente gratuita – caminhoneiros transportam romeiros sem cobrar, em homenagem a Padre Cícero.

Esse transporte continua apenas nas estradas estaduais ou de terra, sem o controle da Polícia Rodoviária Federal. “Foi difícil juntar dinheiro para pagar a minha passagem e dos meus três netos”, disse a diarista Maria Lúcia dos Santos, 42 anos, de Maceió. “Neste mês, perdi uma das três clientes que eu tinha. Meu orçamento caiu R$ 200.”

Raimundo Donato da Silva, 68 anos, foi um dos migrantes do êxodo dos anos 1970. Trabalhou anos em montadoras no ABC, em São Paulo, até voltar a Juazeiro em 1986 par abrir um bar. “No outro tempo, a seca obrigava todo mundo ir embora. Hoje não, com esses benefícios do governo, o pessoal fica pelo sertão.”

Cordel

A impaciência com as crises política e econômica transparece na literatura de cordel. A tradição dos romances de versos não poupa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff – e acusa o partido até pela estiagem. “Quando o PT assumiu/o Brasil ficou mudado/não tinha seca no sul/os terrenos eram encharcados/hoje está faltando água/é seca pra todo lado”, diz o trecho de A fama do PT, de José Mathias Pinheiro, de Serrita (PE). Em outro verso, Dilma é parceira do diabo. “Dilma mentiu à vontade/que um presidente não faz/com propaganda enganosa/se pegou com Satanás/feriu a Constituição.” Também há inspiração na Lava Jato: “O PT chegou ao fim/o povo não aguenta mais/acabou com o País/os bancos e Petrobrás/pegou fama de ladrão/que diabo você quer mais?”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.