Eleitores se despedem do presidente por carta

“Aqui na minha cidade, quando escrevi a primeira vez para você pedindo a cadeira de rodas para minha esposa, muitos riram de mim, achavam que nunca esta carta chegaria às suas mãos. Mas chegou e todos aqueles que acreditaram e não acreditaram ficaram muito felizes, pois nunca nenhum presidente se comunicou com a classe mais pobre. Você fez a diferença.”

A mensagem, enviada a Lula em 9 de novembro deste ano, chegou de Rio Tinto, na Paraíba. É uma das 631.977 correspondências recebidas pelo presidente Lula por meio de cartas ou e-mails em oito anos de governo. O tom das mensagens mapeia altos e baixos durante seu governo: a expectativa e a torcida do início, as decepções e conquistas pelo trajeto. A 26 dias do fim do mandato, Lula continua recebendo cartas. Como na carta de Rio Tinto, o tom agora é de nostalgia.

Muitos pedidos

Ao ler as primeiras cartas chegadas à Presidência, no início de 2003, já era possível ter uma pista da relação que a população teria com o presidente metalúrgico. “Oi, Lula”, começam muitas delas, dispensando o cerimonioso “excelentíssimo senhor presidente da República do Brasil”. Antes de desfiar suas histórias, muitos exibem uma intimidade e uma expectativa na solução dos problemas que é resumida assim: “O senhor, que é do povo como eu, vai me entender…”

Quase todos os textos seguem um padrão: quem escreve primeiro faz um elogio, uma crítica ou dá uma sugestão, depois conta um pedaço de sua história e faz um pedido no final. Tem quem procure dinheiro, remédio, emprego, uma casa, um empréstimo para comprar um carro e até a intervenção do presidente para ajudar marido e mulher a salvarem o casamento em crise.