Doações complicam candidatos de 2008

Oitenta e cinco parlamentares candidatos nas últimas eleições municipais no Brasil doaram para campanhas valores superiores ao patrimônio declarado à Justiça Eleitoral.

Os dados são do Projeto Excelências da organização não-governamental Transparência Brasil, que comparou as prestações de contas e declarações de bens dos candidatos nas últimas eleições.

Quatro parlamentares paranaenses constam na lista da ONG. A deputada estadual Rosane Ferreira (PV) é uma das que doaram mais do que seu patrimônio.

Apesar de declarar não possuir nada, Rosane financiou a campanha para a prefeitura da Araucária com R$ 150 mil do próprio bolso. Outros doaram montantes muito próximos de seu patrimônio.

Elton Welter (PT) utilizou R$ 145 mil para campanha à prefeitura de Toledo, enquanto tem patrimônio declarado de R$ 235 mil. A vereadora de Curitiba Professora Josete (PV) gastou quase o mesmo montante de seus bens (R$ 69 mil).

Ela doou R$ 65 mil para a própria campanha. Candidato a prefeito em Londrina, o deputado federal André Vargas (PT) declarou patrimônio de R$ 153 mil, enquanto usou R$ 138 mil na campanha.

O deputado Elton Welter (PT) disse que fez empréstimo para financiar sua campanha. Welter afirmou que teria de rever os números da prestação de contas, mas acredita que a doação apontada no levantamento do site Transparência Brasil corresponde a esses recursos. “Quem não recebe doações tem que se virar. A legislação me permite emprestar e eu fiz. Agora tenho que pagar”, disse.

Rosane Ferreira confirmou a doação para sua campanha eleitoral. “Toda minha campanha foi custeada por mim com salário que recebo como deputada”, disse. Ela tem subsídio de R$ 12,2 mil mensais. Rosane também explicou por que seu patrimônio não aparece nos registros da Justiça Eleitoral.

Ela disse que é casada no regime de comunhão de bens e o patrimônio consta da declaração do imposto de renda do marido. No momento do registro da candidatura, a deputada disse que anexou cópia da declaração do marido, mas a Justiça Eleitoral rejeitou o documento. “

Eu tenho patrimônio sim. Trabalhei para isso. Mas não havia como mostrar à Justiça Eleitoral porque não aceitaram o imposto de renda do meu marido. Um adversário chegou até a pedir a minha impugnação por causa disso”, disse ela, garantindo que não tem bens ou recursos em seu nome.

A vereadora Professora Josete também disse que usou os salários de R$ 9,28 mil mensais da Câmara Municipal de Curitiba para custear a campanha de reeleição. “O patrimônio que declarei é meu imóvel, financiado pela Caixa Econômica, meu carro, que terminei de pagar agora e um terreno na praia. Para a campanha, abri poupança nova em que depositei os salários da Câmara e isso ocorreu após a prestação de contas”, disse.

Já o deputado André Vargas (PT), por meio da assessoria, explicou que a ONG desconsiderou sua declaração de renda, onde estão registrados os bens e recursos que possui, limitando-se a analisar a declaração patrimonial encaminhada à Justiça Eleitoral.

Segundo Vargas, a Transparência Brasil deixou de contabilizar R$ 198 mil correspondentes ao salário que recebeu como deputado federal em 2007, saldo de R$ 91 mil em conta corrente e ainda receita da venda de dois veículos: um automóvel Corolla no valor de R$ 40 mil e caminhonete vendida a R$ 80 mil.