Disputa no PT é uma ameaça para Lula

O Partido dos Trabalhadores já vive um processo interno de acomodação de forças visando a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o próprio futuro da legenda. A disputa mais visível coloca de um lado o ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais e Articulação Política, e as forças aglutinadas pelo ex-ministro José Dirceu, também conhecidas como ?os paulistas?. Genro tem apoio de lideranças petistas de outros estados e Dirceu quer retomar o controle férreo que os paulistas tinham sobre a agremiação.  

O ex-ministro e ex-deputado José Dirceu vem acumulando uma série de vitórias internas que o tornam hoje mais uma vez, talvez, o que sempre foi: nome mais forte do partido, depois do presidente Lula. A imposição de um candidato à presidência da Câmara, Arlindo Chinaglia, e a vitória deste candidato revigorou José Dirceu. Internamente ele ainda conseguiu impor o nome do novo líder do partido na Câmara, deputado fluminense Luís Sérgio, derrotando os não-paulistas que defendiam o pernambucano Maurício Rands. Dirceu conseguiu uma terceira vitória em curto espaço de tempo: um ato em sua homenagem em Salvador, durante os festejos dos 27 anos do PT. E agora ele prepara uma campanha pela sua anistia.

São coisas que Lula não vê com muito entusiasmo, a ponto de manifestar que pretende ficar distante do projeto de Dirceu conseguir sua anistia, após punição no final de 2005. Acusado de ser um dos articuladores do mensalão, José Dirceu deixou o cargo de ministro chefe da Casa Civil, voltou à Câmara Federal, onde se defendeu, foi julgado e perdeu seus direitos políticos por oito anos.

Agora, Dirceu os quer de volta. E com Chinaglia na presidência da Câmara, ele tem um forte aliado. Todos estes movimentos contrariam o presidente Lula e o ministro Tarso Genro, um ex-trotsquista que no auge da crise política do mensalão defendeu a proposta de refundação do PT, proposta de imediato refutada por Ricardo Berzoini e por José Dirceu, ambos da corrente Campo Majoritário, que controla 44% das estruturas do partido. Como a corrente Movimento PT, liderada por Chinaglia, tem o controle de 14% do partido, a conclusão que se chega é a de que a aliança tática firmada entre Dirceu e Chinaglia tem hoje o controle de 58% do partido. O que levou José Dirceu a dizer que se Tarso Genro aparecer na sua frente de novo com a proposta de refundar o partido, ?ia acrescentar mais uma coça a seu currículo?.

Unidade

A unidade obtida pela cupula do PT é considerada um dos fatores fundamentais da construção da vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Atualmente, esta unidade está rompida e o PT que levou Lula à presidência também não existe. É o novo PT que está sendo forjado no combate entre o grupo de José Dirceu e o ministro Tarso Genro.

O temor de Lula e de Genro é que este confronto comprometa o segundo mandato do presidente. Uma das demonstrações de que o PT tem hoje munição para incomodar Lula é a reivindicação do grupo de José Dirceu de colocar a ex-prefeita Marta Suplicy num ministério forte, como o da Educação ou das Cidades. Açodado por partidos aliados, Lula não precisa de mais pressões. E hoje o PT pressiona. Até agora Lula não deu nenhum sinal positivo aos companheiros.

Lula sabe que vem ocorrendo no interior do PT algo longe de ser sinceramente um debate de idéias, como a produção de documentos para discussão pode fazer crer. É uma luta mesmo por poder. Um lado briga para ultrapassar o desgaste que os escândalos do ano passado geraram e permanecer no comando. O outro – que eleitoralmente já cresceu após esse desgaste – busca valer-se do fato de ter passado à margem dos escândalos para crescer no vácuo que imagina ter ficado.

O grande problema para Tarso e talvez para Lula é que o ministro tem um comando pequeno sobre o partido. Tido como alguém que age de forma muito independente, ele perdeu mesmo boa parte da influência que tinha sobre o PT do Rio Grande do Sul, quando disputou internamente com Olívio Dutra a candidatura ao governo do estado e os petistas acabaram perdendo a eleição para Germano Rigotto, do PMDB, em 2002.

Tarso, porém, é um dos melhores formuladores do PT. E não tem medo de dizer o que pensa. Por conta dessas características, foi sendo alimentado por petistas de fora de São Paulo que, realmente, têm força de comando sobre parcelas do partido. O ministro vem sendo respaldado pelos governadores de Sergipe, Marcelo Déda, pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, pela governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, entre outros.

Voltar ao topo