Desafios homéricos esperam Barbosa Neto em Londrina

O ex-deputado federal Homero Barbosa Neto (PDT) tomou posse ontem como prefeito de Londrina, a segunda maior cidade do Paraná, em solenidade na câmara de vereadores.

O novo prefeito fez discurso em que prometeu muito trabalho na gestão da cidade, que vinha sendo administrada desde janeiro pelo presidente da câmara, José Roque Neto (PTB), depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o registro da candidatura do deputado estadual Antonio Belinati (PP), que venceu as eleições em outubro do ano passado.

A posse foi assistida pelo senador Osmar Dias, presidente estadual do PDT, o mi-
nistro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT), o vice-governador Orlando Pessutti (PMDB), e o prefeito de Maringá, Silvio Barros (PP), 

“Não podemos errar, nem desperdiçar a oportunidade que o povo nos outorga. Em nome do povo conclamamos a todos à ética, transparência, responsabilidade e respeito a todos. No dia do traba-lhador, vamos começar a trabalhar já”, disse  o novo prefeito de Londrina.

O vice-prefeito, José Joaquim Ribeiro (PSC), abordou o espinhoso tema da relação da prefeitura com a câmara de vereadores que, na gestão passada, teve vários vereadores cassados por corrupção. “Queremos que o relacionamento com essa Casa seja o mais transparente possível”, disse o vice-prefeito.

Nesta entrevista a O Estado do Paraná, Barbosa falou sobre seus desafios à frente do município, disse como pretende enfrentar a crise econômica que é ainda mais grave em Londrina e tentar restabelecer a credibilidade da administração pública perante a sociedade local, que além da cassação de Belinati, conviveu, no ano passado, com um escândalo que atingiu 15 dos seus 18 vereadores.

O Estado: O senhor já tem ideia do que vai encontrar ao assumir a prefeitura? Qual o tamanho da dívida e dos problemas financeiros?

Barbosa Neto: A Prefeitura de Londrina vive um momento que exige corte de gastos e contenção de despesas e é o que faremos depois de assumirmos. Há uma dívida consolidada de R$ 348 milhões, fora outras empresas públicas municipais, como a Cohab-Ld, que deve quase R$ 200 milhões. Por isso, vamos adotar medidas duras pra adequar o caixa da Prefeitura neste primeiro ano de mandato, que, aliás, já vem comprometido por conta das ações da administração interina nestes primeiros quatro meses. Estas ações também vão impactar na nossa administração.

OE: Onde o senhor identifica a origem de toda essa crise econômica que atravessa a cidade?

BN: Ao longo dos últimos anos, naturalmente, o desequilíbrio financeiro se acumulou. Mas, precisamos pensar no futuro da cidade. Não quero falar do passado, quero pensar no bem de Londrina. O tempo é curto e não precisamos perseguir os erros de ex-administradores, mas executar o que planejamos para a cidade.

OE: Essa crise econômica é maior que a crise de credibilidade nas instituições que Londrina viveu, principalmente, no último ano?

BN: O dr. Wilson Moreira (ex-prefeito de Londrina, falecido no ano passado) dizia que “Londrina é a cidade que a crise chega por último e a primeira que ela vai embora”. A última Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina, que é o maior evento que a cidade tem, mostrou isto. Os números foram superiores em tudo, público, comercialização, negócios, etc…, desmentindo a tão propalada crise. Creio que vamos superar isto tudo com muito trabalho e dedicação, contando com a colaboração dos políticos da cidade e do Paraná, bem como de todos os cidadãos de Londrina.

OE:
A política londrinense passou por graves problemas em 2008. Primeiro com a crise na câmara, que culminou na cassação de vários vereadores e depois com a confusão na eleição para a prefeitura. Nos dois casos, a resposta da popula&ccedil,;ão foi diferente. Se, no caso da câmara os vereadores envolvidos no escândalo foram derrotados nas urnas, na eleição de Belinati, a população protestou contra a intervenção da justiça. Como avalia os dois casos e como vê a situação política de Londrina daqui pra frente?

BN: A decisão do povo é soberana e tem que ser respeitada. Sou um democrata e submeto-me a decisão da maioria. O londrinense é inteligente e sabe votar, ao contrário do que diz o ditado popular. Mas, quero ser o pacificador. Quero governar pra todos. O meu secretariado é prova disto: buscamos as melhores cabeças, não importando o partido, pra governar junto conosco. Temos alí, além do PDT, meu partido, o DEM, PC do B, PSB, PPS, PHS, PSC, PMDB, PT, PSDB, enfim, toda gama política. Mas, independentemente de partido, temos o povo representado, com Ph.Ds., doutores, mestres, empresários, donas-de-casa, pessoas representativas e competentes em suas áreas, que se dispuseram a aceitar este desafio e trabalhar pelo bem de Londrina.

OE: Como será sua relação com o deputado Belinati?

BN: A melhor possível. Ele é o político mais popular da história de Londrina, é deputado estadual dos mais atuantes, o que menos falta às sessões na Assembléia Legislativa, e tenho certeza que ele vai ajudar muito a cidade de Londrina, como sempre ajudou. Nós precisamos dele e contaremos com a experiência que ele acumulou ao longo destes anos como político em benefício do povo de Londrina.

OE: Há quem considere o senhor um herdeiro político de Belinati, como encara essa comparação?

BN: Isto não existe. Não quero me comparar a ninguém. Eu sou o Barbosa e o Belinati é uma verdadeira lenda da política paranaense, com 40 anos de vida pública. Estou apenas começando. Olha, querem comparar o Pelé ao Maradona também, mas sempre digo uma coisa: primeiro, o Maradona tem que vencer 3 Copas do Mundo, ser bicampeão mundial interclubes, marcar 1.300 gols e por aí vai. Eu acho que comigo ou com qualquer pessoa será a mesma coisa. O Belinati foi prefeito três vezes, deputado outras várias vezes. Eu não quero tudo isto pra mim. Quero apenas ser um excelente prefeito. Aliás, sem falsa modéstia, vou ser o prefeito que mais vai trabalhar por esta cidade.

OE: Como avaliou o período com Padre Roque como prefeito interino?

BN: A população já avaliou o mandato dele, como um prefeito que teve uma ótima avaliação. Creio que ele foi dinâmico e implantou um ritmo diferente que foi aplaudido pela sociedade. Queremos que ele trabalhe pela cidade na Câmara, como trabalhou na Prefeitura. Quero governar em parceria com a câmara, respeitando a independência de poderes.

OE: O senhor terá maioria na câmara? Como será sua relação com os vereadores?

BN: Quero construir uma relação respeitosa com os vereadores. A cidade precisa da independência dos poderes pra que a democracia se concretize. Sou oriundo do parlamento, respeito os parlamentares e creio que eles terão muito que contribuir, fiscalizando o Executivo e colaborando ao debater os projetos de interesse dos cidadãos.

OE: Quais serão as principais questões que terá de enfrentar de imediato na prefeitura?

BN: A dificuldade financeira, a falta de reajuste dos servidores e as obras que teremos que realizar, mesmo com a falta de recursos são desafios imediatos. Mas, acreditamos que, com a colaboração dos servidores, com a participação dos cidadãos e o desempenho de toda equipe vamos vencer estes desafios e fazer uma grande administração pra que os londrinenses se orgulhem novamente.

OE: O senhor anunciou que pretende cortar cargos na administração. Quantos e quais cargos serão cortados? Quanto pretende economizar com isso?

BN: A atual administração nomeou 183 cargos em comissão. A dificuldade financeira da prefeitura exige cortes profundos neste momento, pois, se não fizermos isto, teremos dificuldade de fazer o pagamento dos funcionários dentr,o de três meses. Por isso, cortaremos na própria carne. Assumi um compromisso de governar com 50 cargos comissionados e é o que faremos. Isto vai impactar numa economia de R$ 3 milhões anuais, aproximadamente, aos cofres públicos.

OE: Todos os envolvidos tentaram evitar uma relação entre a eleição suplementar de Londrina e o cenário de 2010, mas está cada vez mais difícil de separar os casos. O embate PDT PSDB vai se repetir na disputa para o governo? Com quem o senhor acha que Osmar Dias, presidente de seu partido, deveria se aliar para essa disputa? Por que?

BN: Eu defendo a aliança com os partidos que estão na base aliada ao presidente Lula. O PSDB sinaliza que terá candidato próprio, por isso, creio que o senador Osmar Dias não pode esperar muito. Acredito que Osmar Dias saberá formar uma aliança vitoriosa pelo bem do Paraná.

OE: Como será sua relação com o governo do Estado? A rivalidade do governador Roberto Requião com o senador Osmar Dias não pode atrapalhar?

BN: Já visitei o governador, logo após a vitória nas urnas, mas quero estreitar ainda mais a nossa relação. A segunda cidade mais importante do Estado merece o tratamento que o governador sempre dedicou a Londrina e às outras cidades paranaenses. Londrina precisa muito do governador e vamos nos colocar à disposição dele para o que se fizer necessário. Aliás, os senadores paranaenses, todos eles, sem exceção, vão ter o meu pedido pra ajudar Londrina. Por tudo o que a cidade passou, ela merece este apoio. Tanto dos deputados da cidade e de todo o Estado, como os deputados que nos ajudaram diretamente em nossa eleição, como Ricardo Barros (PP), Ratinho Jr. (PSC), Marcelo Almeida (PMDB), tanto dos ministros Paulo Bernardo (PT) e Reinhold Stephanes (PMDB), que são de Londrina, precisamos muito do empenho de todos.