Deputada admite que fez depósito em conta CC5

A deputada estadual Arlete Caramês (PPS) admitiu ontem publicamente ter sido titular de uma conta CC5 e que seu nome pode estar na relação das pessoas que remeteram recursos ao exterior por meio da agência do Banestado em Nova York.

Os nomes foram armazenados em CD-ROM que estão sendo mantidos em sigilo pela CPI do Banestado. A revelação de Caramês foi feita na sessão de ontem à tarde na Assembléia Legislativa, durante pronunciamento do deputado Valdir Rossoni (PSDB), que negava ser um dos integrantes da lista de 47 políticos paranaenses que operaram contas CC5 na mesma agência e que foi entregue na semana passada aos deputados da CPI do Banestado pelo delegado da Polícia Federal, José Castilho Neto.

Os nomes foram obtidos por meio de um cruzamento de informações feitos entre a relação de candidatos às eleições desde 1994 até 2000, fornecida pelo Tribunal Superior Eleitoral, e os titulares de contas CC5. Caramês afirmou que não tinha nenhuma dificuldade em explicar a origem dos recursos. Ela disse que, na condição de ex-funcionária do Badep, recebeu uma indenização trabalhista do banco (que sofreu processo de liquidação judicial), transformou os recursos em dólares e mandou para o exterior por meio de uma conta CC5. De acordo com a deputada, foi uma operação legal e da qual se utilizaram vários ex-funcionários do Badep.

Já Rossoni ameaçou encerrar sua carreira política se alguém conseguir comprovar que remeteu recursos para o exterior por meio de uma conta CC5. “Não tenho conta legal e muito menos ilegal no exterior”, disse o deputado. Rossoni é empresário do setor madeireiro e afirmou que sempre faz negócios “diariamente” em dólar, mas que jamais foi proprietário de uma conta do gênero.

Rivalidades

Rossoni acusou o deputado Pedro Ivo Ilkiv (PT), um dos integrantes da CPI, de ser a fonte de uma reportagem publicada em um jornal de União da Vitória (base eleitoral de ambos) em que o deputado tucano é apontado como um dos beneficiários do esquema das contas CC5. Ilkiv negou que tenha divulgado qualquer nome da lista e comentou que Rossoni sempre o cita como responsável por qualquer notícia negativa a respeito do tucano.

O presidente da CPI, Neivo Beraldin (PDT), disse que nenhum dos integrantes da Comissão “vazou” as informações da lista. Beraldin disse que sequer teve tempo de examinar os nomes e aconselhou Rossoni a não se preocupar com o que classificou de “especulações”.

Beraldin e Bradock depõem

Deputados e senadores da CPI do Banestado dão continuidade nesta semana às audiências públicas para desvendar o esquema de evasão de divisas por meio da utilização de contas do tipo CC5. Hoje, a partir das 9h, serão ouvidos o presidente e o relator da comissão parlamentar de inquérito da Assembléia Legislativa do Paraná que investigou o caso Banestado, deputados Neivo Beraldin e Mário Sérgio Bradock, respectivamente.

O convite aos parlamentares paranaenses foi feito a requerimento do senador Osmar Dias (PDT), para quem a comissão paranaense tem dados importantes sobre o Banestado que poderiam auxiliar a CPI do Congresso. Em seus trabalhos, a CPI do Paraná ouviu diretores e gerentes de agências do Banestado e também tomou o depoimento da ex-chefe da Fiscalização do Banco Central, Tereza Grossi.

A CPI do Banestado, presidida pelo senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), fechou um calendário de reuniões que prevê a realização de depoimentos até o próximo dia 22 de agosto, com reuniões às terças, quintas e sextas-feiras, às 9h. De acordo com o cronograma definido na semana passada, estão previstas ainda reuniões nesta semana para ouvir Alberto Dalcanale Neto e Ruth Wathely Bandeira de Almeida, gerentes do extinto Banco Araucária, na quinta-feira (14), e os ex-diretores de Fiscalização do BC Tereza Grossi e Carlos Mauch, na sexta-feira (15).

Depoimentos dispensados

Apesar da expectativa criada em torno de seus depoimentos, os ex-gerentes da agência do Banestado em Nova York, Ércio de Paula Santos e Valdir Antônio Perin, praticamente nada acrescentaram às investigações que a CPI do Banestado na Assembléia Legislativa vem realizando. Os dois estavam convocados para a sessão da última quinta-feira, quando foram representados pelo advogado Alessandro Silvério.

O advogado requereu o direito de preservação da imagem de seus clientes, dando origem a um conflito com o presidente da comissão, deputado Neivo Beraldin (PDT), que recusou o pedido alegando tratar-se de um privilégio inconcebível numa audiência pública. Seguiu-se um bate-boca e Ércio de Paula, que estava presente, retirou-se sem depor. Perin sequer chegou à Assembléia. A comissão decidiu então requerer a prisão preventiva de ambos, indeferida pelo juiz da 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, Sérgio Moro. O juiz determinou, porém, que ambos comparecessem para depor na manhã de ontem, ressalvando o direito de não fornecerem informações que pudéssem incrina-los no processo em que já estão indiciados.

Silêncio

Valendo-se dessas prerrogativas constitucionais, tanto Ércio quanto Perin recusaram-se a prestar o compromisso legal exigido dos depoentes. Paula Santos, acompanhado pelo advogado Alessandro Silvério, chegou a responder algumas perguntas dos parlamentares. Acentuou que a agência de Nova York não aceitava depósitos nem saques em espécie, e insistiu que suas operações obedeciam às normas que regem o funcionamento bancário e eram submetidas a quatro auditorias anuais.

O depoimento seguinte deveria ser o de Valdir Perin. Tal como o colega, ele se recusou a prestar o compromisso legal, o que fez com que o deputado Neivo Beraldin, sugerisse a transformação da audiência pública numa sessão secreta. Os deputados Ailton Araújo e Fernando Ribas Carli quiseram saber se, em sessão secreta, os depoentes prestariam o juramento e responderiam aos questionamentos da comissão. Diante da reposta do advogado, de que o procedimento de seus clientes seria o mesmo adotado na audiência pública, a comissão entendeu por bem dispensar seu testemunho.

Ainda na sessão de ontem voltou a depor o ex-gerente de câmbio Eraldo Ferreira, confirmando as informações que já havia fornecido à comissão na semana passada, sobre a captação de depósitos em dólares pela agência XV de Novembro. O deputado Fernando Ribas Carli (PP) propôs e a CPI aprovou, o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal das quatro empresas paranaenses que se beneficiaram do empréstimo de US$ 4,7 milhões efetuado através da agência Grand Cayman três meses antes de seu fechamento: a Tucuman Engenharia e Empreendimentos, a Redran Construtora de Obras Ltda, a Trebbor Informática Ltda e a jabour Toyopar Empreendimentos e Comércio de Veículos Ltda.

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