Delegado questiona impunidade de fraudadores da União

O delegado Ricardo Saadi, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal (Delefin) em São Paulo, disse que está na hora de “colocar o dedo na ferida”. Saadi revelou seu desapontamento com relação ao reduzido índice de condenações impostas a fraudadores da União. Ele propõe adoção imediata de medidas que, em sua avaliação, podem fortalecer o combate ao crime organizado e à corrupção.

As propostas de Saadi são três: criação de um setor dentro da PF especializado na cooperação jurídica internacional para agilizar a repatriação de valores ilícitos; perdimento de bens apreendidos com acusados de peculato e improbidade em favor dos órgãos de investigação; e controle rigoroso da entrada de recursos no Brasil por meio de offshores.

“99% desse dinheiro que empresas offshores recolocam no mercado brasileiro são procedentes de operações de lavagem de dinheiro”, informou o delegado, maior especialista na PF em inquéritos sobre ocultação de valores desviados do Tesouro por meio de fraudes e sonegação.

“Desde que ingressei nos quadros da delegacia, em 2002, de todas as operações que a gente fez, de todos aqueles investigados, que foram presos temporariamente ou preventivamente, só dois estão presos até hoje”, desabafou o delegado.

“Um que permanece preso, por motivos óbvios, é o Juan Carlos Abadía, muito mais por ser traficante. O outro, envolvido numa fraude no mercado de capitais. A sensação de impunidade é absurda. Ninguém mais está preso, nenhum processo chegou ao seu fim.”

Saadi informou que o Brasil está sendo avaliado pelo Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi).

Na semana passada, o delegado foi sabatinado por uma delegação do Gafi, em Brasília. “Os avaliadores me perguntaram porque no Brasil são poucas as condenações por lavagem de dinheiro, porque o Brasil é um terreno tão fértil para a lavagem. Expliquei a eles sobre todos os recursos que os advogados têm à disposição nas ações judiciais. Outro grande problema é que os desembargadores não têm prazo para apreciar as apelações que ficam paradas à espera de um despacho.”

O delegado da PF sugere ataque maciço ao patrimônio do crime organizado. “O que acontece quando a gente prende um traficante? Nada. Logo ele está na rua e continua suas atividades. Vale muito mais apreender os bens, congelar as contas, tirar casa, carros, congelar a empresa do cara. Tirar a sobrevivência da empresa dele do que prender. É o desestímulo à atividade criminosa mediante o confisco, a descapitalização do sujeito.”