Acusado, Bertholdo denuncia Janene

O advogado Roberto Bertholdo, que foi integrante do Conselho de Administração da Itaipu Binacional, acusou hoje o deputado federal José Janene (PP-PR) de ser o principal responsável pelo sistema de corrupção no Brasil. Segundo o advogado, 80% do sistema de corrupção no Brasil nas diversas esferas seria operado por Janene e seu grupo, no qual estaria incluído o doleiro de Londrina Alberto Youssef .

A entrevista exclusiva foi concedida ao repórter Sandro Dalpícolo, da Rede Paranaense de Comunicação, no Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), em Curitiba. Bertholdo está preso no local, dividindo cela com o doleiro Antonio Claramund de Oliveira, o Toninho da Barcelona. O advogado é acusado de lavagem de dinheiro, exercer tráfico de influência e grampear ligações telefônicas do juiz Sérgio Moro.

Bertholdo afirmou que Janene teria aplicado o mesmo esquema de pagamentos a políticos em Maringá, Londrina e outros municípios do Paraná, ampliando-o para todo o Brasil. ?Ele se tornou conhecido para que, em qualquer operação de corrupção, possa transformar a negociação em dinheiro vivo, o que é a parte mais difícil, pois em corrupção não existe cheque.?

De acordo com o advogado, ele freqüentava a casa de Janene em Brasília uma vez por semana, para almoços e jantares. ?Aconteceu duas ou três vezes de eu estar jantando com Janene e chegar o Youssef com pacotes de dinheiro, que vinha de Curitiba ou Londrina. Janene fazia piadas sobre as malas de dinheiro?, disse.

O doleiro de Londrina Alberto Youssef já esteve preso na Polícia Federal sob acusação de lavagem de dinheiro. De acordo com Bertholdo, Janene tinha por hábito convidar todo mundo para almoço e jantar.

A respeito das acusações de Bertholdo, advogados de Youssef disseram que, no período de pagamento do suposto ?mensalão?, o doleiro estava preso em Curitiba, na sede da Polícia Federal, permanecendo detido entre novembro de 2003 e março de 2005. A assessoria de Janene, que está licenciado da Câmara por problemas de saúde desde outubro do ano passado, refutou as acusações do advogado, dizendo que Bertholdo nunca desfrutou da amizade do deputado nem freqüentava a sua residência em Brasília.

Na terça-feira, dia 8, Bertholdo prestou depoimento de seis páginas à Polícia Federal, depois que a revista Veja publicou reportagem em que era acusado de ser o operador do mensalão. A reprodução de trechos da fita, de acordo com a revista, indicariam que Bertholdo estaria comentando uma possível cobrança de propina em um consórcio de empreiteiros, envolvendo a Itaipu Binacional. Porém, segundo reportagem da Folha de São Paulo, que obteve acesso ao depoimento do advogado, houve uma montagem na fita utilizada pela Veja.

Na gravação em que diz ?seis paus em dólar (U$ 6 milhões), Bertholdo explica que estaria se referindo a outro cliente do escritório que mantinha com seu ex-sócio, o advogado Sérgio Renato Costa Filho. Bertholdo não disse quem seria o responsável pela montagem da fita, mas afirmou que a fonte da Veja seria o seu ex-sócio.

Sobre o suposto recebimento de dinheiro envolvendo o apresentador de TV Carlos Massa, o Ratinho, Bertholdo explicou no depoimento que o valor de R$ 200 mil se referia na realidade à parte de caixa dois da campanha do candidato do PP derrotado ao Senado, em 2002, Tony Garcia. Segundo o advogado, que era suplente de Tony Garcia, o caixa dois do candidato chegou a R$ 1,8 milhão.

Na reportagem da Veja, a revista acusava um suposto esquema envolvendo mais de 50 deputados do PMDB, do qual Bertholdo seria o encarregado de distribuir o ?mensalão?. O advogado negou o fato e disse também que o ex-líder do PMDB José Borba não distribuía propina a deputados em troca de apoio.

Deputado vive recluso em Londrina

O líder do PP na Câmara dos Deputados, José Janene (PR), está refugiado em seu apartamento em Londrina (PR), de onde raramente sai. Pelo menos é o que informa a assessoria dele em Brasília, segundo recente reportagem divulgada pela Agência Estado. O líder do PP na Câmara dos Deputados não atende o telefone celular, ou o aparelho dá sinal de ocupado ou que está fora da área de abrangência. Janene é acusado de ser um dos operadores do ?mensalão?, movimentando R$ 4,1 milhões provenientes do ?valerioduto?, segundo o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Janene está sendo processado e pode perder o mandato. No entanto, há também a possibilidade de se aposentar. As últimas aparições de Janene foram para se deslocar para Curitiba, onde se submeteu à junta médica indicada pela Câmara com o objetivo de avaliar o estado de saúde dele. Os médicos que o examinaram concluíram que Janene não tem condições de exercer as atividades parlamentares. O parecer dividiu os integrantes do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, que analisa as acusações contra o líder do PP na Câmara.

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