Polícia Federal prende 46 de quadrilha que fraudava compra de ambulâncias

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira, 46 pessoas, entre elas os ex-deputados Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Ronivon Santiago (PP-AC), assessores de 8 deputados e do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), funcionários dos Ministérios da Saúde e do Desenvolvimento e empresários, todos suspeitos de participar de uma quadrilha que desde 2001 fraudava processos de licitação e de venda de ambulâncias para municípios a partir do desvio de verbas do Orçamento-Geral da União. Falta encontrar 8 pessoas com mandados de prisão já expedidos, entre eles dois assessores da Câmara.

A fraude envolveu a compra de mil ambulâncias, num valor total de R$ 110 milhões dos cofres federais, de acordo com informações do diretor-regional executivo da Polícia Federal de Mato Grosso, Tardelli Boaventura, que comandou os trabalhos da chamada Operação Sanguessuga. A quadrilha tinha sua sede em Cuiabá. "O comando da fraude era da família Trevizan Vedoin, que centralizava tudo na empresa Planam", disse Tardelli. "Calculamos que o preço foi superfaturado em pelo menos 110%. Portanto, entre R$ 50 milhões a R$ 60 milhões foram desviados do Orçamento da União." Ambulâncias eram vendidas como se fossem uma UTI móvel completa, mas quase sempre tinham apenas uma maca e uma haste para o soro.

Muitos dos assessores presos foram demitidos hoje mesmo. Eles trabalhavam com parlamentares de partidos envolvidos com o mensalão, como o PP, o PL e o PTB. O deputado Carlos Rodrigues, conhecido como Bispo Rodrigues, renunciara para fugir da cassação, pois era um dos principais suspeitos de envolvimento com o esquema montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pelo qual partidos aliados recebiam dinheiro para dar apoio ao governo.

Rodrigues não esperou a PF procurá-lo. Ao saber que havia contra si um mandado de prisão provisória (que vale por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco), entregou-se na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Sem óculos, com os cabelos eriçados, vestindo uma camiseta azul, com paletó e calças escuras, ele caminhou tranqüilamente até a entrada da PF, um pouco antes das 11 horas. Misturou-se às dezenas de pessoas que aguardavam na fila para tirar o passaporte e quase passou despercebido pelos fotógrafos de plantão. Mas acabou sendo reconhecido. Apresentou-se, prestou depoimento e recebeu ordem de prisão. Outras 14 pessoas foram também presas pela PF em Brasília.

Ronivon Santiago, o outro ex-parlamentar preso, foi capturado por policiais no Acre. Ele já protagonizara um escândalo em 1997, quando foi acusado de ter vendido seu voto a favor da emenda constitucional que permitiu ao então presidente Fernando Henrique Cardoso disputar a reeleição. Na ocasião, Ronivon renunciou ao mandato, mas foi reeleito em 2002. Assumiu o mandato, mas foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por comprar o voto de eleitores.

Também foram presos assessores dos deputados Vieira Reis (PRB-RJ), Nilton Capixaba (PTB-RO), Maurício Rabelo (PL-TO), Elaine Costa (PTB-RJ), Edna Macedo (PTB-SP), João Mendes (PSB-RJ) e pastor Pedro Ribeiro (PMDB-CE).

De acordo com informações do delegado Tardelli Boaventura, desde 2004 foram instalados 140 inquéritos para apurar a fraude, iniciativa tomada a pedido da Controladoria-Geral da União (CGU), que suspeitou do preço das ambulâncias nas auditorias feitas nos municípios. Com permissão judicial, instalou grampos telefônicos. Em março, conseguiu quebrar o sigilo bancário dos suspeitos. Percebeu que havia uma movimentação muito grande nas contas.

Ainda conforme informações do delegado da PF, de cada ambulância repassada ao município a quadrilha recebia propina de 10%. Isso sem contar o superfaturamento. Maria da Penha Lino, que por influência da Planam passou a trabalhar como assessora direta do então ministro da Saúde Saraiva Felipe a partir de 1.º de agosto do ano passado, recebia, de acordo com o delegado, de R$ 2 mil a R$ 10 mil por processo que liberava. Liberou centenas.

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