Plantio de transgênicos desacelera em todo o mundo

São Paulo – Desde seu lançamento comercial, há 10 anos, o avanço da área plantada com lavouras transgênicas no mundo teve em 2005 seu menor crescimento. No ano passado, a área aumentou 11%, contra 20% em 2004 e 15% em 2003. Em média, o crescimento anual vinha sendo de 20%. As informações são da ISAA, sigla em inglês para Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia.

No ano passado, os agricultores plantaram 90 milhões de hectares de lavouras transgênicas, 9 milhões acima da área plantada no ano anterior. Em valor, o mercado de sementes e insumos para lavouras transgênicas foi estimado em US$ 5,25 bilhões no ano passado. A soja transgênica respondeu por US$ 2 42 bilhões.

De acordo com o presidente da ISAAA, Clive James, apesar da redução da área, não está ocorrendo uma desaceleração na adoção da biotecnologia. "Acredito que o ritmo da adoção de lavouras transgênicas deve continuar forte na segunda década da tecnologia", afirma. James fundamenta essa avaliação no potencial de culturas novas, como o arroz. "É um universo promissor, estamos falando de 250 milhões de produtores de arroz", avalia.

Questionado se não haveria uma perigosa concentração das patentes de transgênicos nas mãos de poucas companhias, como evidencia a forte participação da soja no valor total do mercado James discordou. "Quando surge uma tecnologia nova, é comum que haja uma polarização nas mãos de poucos", afirma. "Mas agora estamos caminhando para uma situação de maior equilíbrio entre participação privada e do setor público", afirma. Segundo James, países como a China estão desenvolvendo seus transgênicos por conta própria e é relevante o papel da Embrapa no Brasil.

A biotecnologia está disseminada por 21 países, mas os Estados Unidos ainda concentram mais de 50% da área cultivada no mundo. Em 2005, os norte-americanos plantaram 49,8 milhões de hectares do total de 90 milhões semeados no mundo. Argentina (17 1 milhões de hectares), Brasil (9,4 milhões), Canadá (5,8 milhões) e China (3,3 milhões) são os quatro outros grandes produtores. Juntos, os cinco países respondem por 95% da área plantada.

Apesar disso, os dados da ISAAA também revelam que os países em desenvolvimento ainda são maioria entre os governos que permitem o plantio. Em 2005, eram 11 países pobres e 10 ricos. Ao todo, 8,5 milhões de agricultores no mundo inteiro plantaram transgênicos, e 7,7 milhões desses produtores são de países pobres. A ISAAA nota que a China sozinha responde por 7,7 milhões de produtores de transgênicos.

Perguntado se a forte resistência dos europeus aos transgênicos estaria bloqueando o crescimento nos países ricos, James disse estar "cautelosamente otimista" em relação à adoção da biotecnologia na União Européia (UE). "Há uma lenta adequação institucional na Europa", avalia. Além disso, James acredita que os países do leste europeu que começam a ingressar no bloco devem exercer maior pressão para alteração do quadro. "A agricultura tem peso maior para esses países", diz.

O presidente da ISAAA acredita que a segunda geração de produtos transgênicos, com características nutricionais, poderá estar disponível a partir de cinco anos. James afirma que as inovações mais próximas do lançamento são produtos com betacaroteno e com vitaminas. "Mas a novidade que terá maior impacto para aliviar a pobreza será a de lavouras transgênicas com resistência à seca", avalia. "Isso é de vital importância para as regiões mais pobres do planeta, como a África."

O continente africano é onde o plantio comercial está menos disseminado, segundo dados da ISAAA. Em 2005, apenas a África do Sul plantou produtos geneticamente modificados. Contudo, James afirmou que há estudos para plantio de algodão transgênico no Egito e na África Ocidental. Já na África Oriental, o milho transgênico deverá ser liberado logo.

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