Petrobras pode construir megaplataformas no exterior

A suspensão da licitação das megaplataformas P-55 e P-57, um negócio de US$ 3 bilhões, pode resultar na desistência de construção das unidades no Brasil e a transferência destas para o exterior. O governo incluiu as duas unidades no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como parcela dos investimentos públicos necessários para impulsionar a economia neste segundo mandato do governo Lula. As duas unidades, que produzirão petróleo e gás nos campos de Roncador e Jubarte, na Bacia de Santos, tiveram a licitação suspensa em janeiro.

A decisão de suspender a licitação foi tomada, conforme informou a Petrobras, devido aos elevados preços apresentados pelos concorrentes, até 60% a mais do que a estatal esperava gastar com a construção das duas plataformas. O problema, segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, é que parte dos fornecedores decidiu elevar as margens propositalmente para se proteger da falta de repasse de recursos em contratos anteriores feitos com estaleiros locais.

O imbróglio já significa ameaça ao reaquecimento da indústria naval brasileira focada na construção de unidades para o setor petrolífero, informam fontes da própria estatal e de empresas ligadas ao segmento.

A construção das plataformas no Brasil foi item importante no rol de promessas do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva na campanha presidencial de 2002. Lula criticava o fato de a Petrobrás colocar pedidos de novas plataformas no exterior e desconsiderar o impacto gerado com a construção local das unidades.

Um dos casos constatados pelo Estado mostra que repasses feitos pela Petrobras a um estaleiro não chegou a um fornecedor. ?No contrato da P-52 (unidade que operará no campo de Roncador), a Petrobras repassou mais R$ 120 milhões para o estaleiro Keppel Fels Brasil para repor o aumento de custos de matéria-prima no período de realização da obra. O estaleiro não fez o repasse desse recurso aos fornecedores?, revelou uma fonte do setor.

A informação não é confirmada oficialmente nem pelas empresas envolvidas e nem pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), que informa desconhecer este ?desentendimento?. Extra-oficialmente, entretanto, a informação que corre nos bastidores do setor é que, depois de muita negociação, a Keppel Fels Brasil, que tem sua matriz em Cingapura, teria concordado em repassar apenas R$ 60 milhões aos fornecedores.

?Querem levar dinheiro daqui para Cingapura de qualquer jeito?, disse um dos 200 fornecedores que cobram o repasse do dinheiro do estaleiro e que confirma que o setor está ?elevando seus preços em novas licitações para se recompor? de perdas que tiveram de assumir.

?O problema é que eles não percebem que, se continuarem dessa maneira, é muito mais fácil para a Petrobras suspender a regra de conteúdo nacional e fazer licitações internacionais. Aí sim, o dinheiro será transferido para Cingapura de uma vez por todas? argumentou um técnico da estatal.

Voltar ao topo