Petistas ligados a Lula sabiam da negociação de dossiê

Cruzamento feito pela CPI dos Sanguessugas entre telefonemas e imagens no hotel Íbis, em São Paulo, indica que petistas ligados à campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição sabiam das negociações para a compra de dossiê contra políticos tucanos. Seis horas antes de Gedimar Passos e Valdebran Padilha serem presos com R$ 1,75 milhão, na madrugada de 15 de setembro, Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e conhecido como o "homem da mala", entrou no hotel com uma pasta marrom e duas sacolas. E depois de encontrar-se no saguão com Gedimar e subir no elevador, Hamilton telefonou para Jorge Lorenzetti, churrasqueiro de Lula e ex-integrante da campanha presidencial e apontado pela Polícia Federal como responsável pela operação de compra do dossiê contra tucanos.

Hamilton Lacerda ligou para Lorenzetti à meia noite e 33 minutos do dia 15. Falou com ele durante um minuto e oito segundos. Pelas imagens das câmeras internas do hotel, à meia noite e 14 minutos, Hamilton entrou no elevador com Gedimar. Os dois subiram com uma pasta marrom e duas sacolas. A Polícia Federal suspeita que R$ 780 mil, em reais e em dólares, estavam dentro dessas sacolas. No dia 13, Hamilton teria levado R$ 1 milhão ao hotel, de acordo com as investigações da PF. Na ocasião, o ex-assessor de Mercadante também telefonou para Lorenzetti um minuto depois de deixar o hotel Íbis.

"O cruzamento dessas imagens com os sigilos telefônicos põe por terra a tese do Hamilton de que ele não sabia do dinheiro", observou o sub-relator de sistematização da CPI, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que fez o levantamento das ligações com as imagens do hotel. À meia noite e 46 minutos, do dia 15 de setembro, Gedimar acompanha Hamilton até o elevador. Eles conversam um pouco e as sacolas não estão mais com eles. "Como ele (Hamilton) pode não ter visto o dinheiro se estava no quarto com o Gedimar, que horas depois foi preso?", indagou Sampaio. "Além disso fica claro que o Lorenzetti sabia que o Hamilton estava com o Gedimar e o Valdebran", completou o tucano.

Bargas

O cruzamento das quebras de sigilo telefônico também aponta que, no dia 13, Osvaldo Bargas, que também integrava o comitê à reeleição do presidente Lula, ligou 12 vezes para Ricardo Berzoini, presidente do PT e que na época comandava a campanha presidencial. Bargas foi escalado por Lorenzetti para ir a Cuiabá acompanhar a entrevista que Luiz Antonio e Darci Vedoin deram à revista IstoÉ apontando o envolvimento de tucanos com a máfia das ambulâncias. Bargas telefonou a primeira vez para Berzoini às 14h09, do dia 13, antes do início da entrevista. Voltou a telefonar para o hoje presidente afastado do PT às 19h38, quando da entrevista teria acabado. A partir daí, falou mais dez vezes ao telefone com Berzoini, totalizando cinco minutos de conversa. Em depoimento esta semana à CPI, Bargas contou que o repórter o deixou ler a entrevista, assim que acabou de redigi-la.

Carlos Sampaio observou que, pelo cruzamento das imagens do hotel com a quebra do sigilo telefônico, Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil e responsável por verificar a autenticidade dos documentos do dossiê contra os tucanos, normalmente liga para Lorenzetti logo depois de conversar ao telefone com Valdebran Padilha. No cruzamento, o tucano destacou ainda que às 7h23, do dia 15 de setembro, o ex-segurança da Presidência da República Freud Godoy recebeu nove ligações de telefones do Palácio Planalto. "É um fato estranho para quem diz que não está envolvido", argumentou o tucano.

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