Petardos sem direção

Nos momentos de desbragada euforia que se seguiram ao anúncio de sua indicação para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) – em poucas horas ele foi e voltou a Paris – o deputado estadual Carlos Minc, ainda secretário da mesma área no governo do Rio de Janeiro, deitou falação afirmando em alto e bom som que botaria tropas do Exército para coibir a derrubada de árvores na região da Amazônia Legal, onde o governador Blairo Maggi, de Mato Grosso, ainda é tido como o chefe todo-poderoso da destruição.

Bastou a discreta, mas peremptória recusa de alguns oficiais-generais para que a idéia fosse substituída pela criação de uma virtual guarda nacional florestal, nos moldes na Força Nacional de Segurança (FSN). A idéia inicial do futuro ministro, ao que se sabe sugerida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, era recrutar nas polícias militares (PMs) e até nos quadros funcionais dos estados, os integrantes da força verde. Todos recordam o comentário jocoso feito na ocasião pelo governador de Mato Grosso, que além de afirmar a indisponibilidade de efetivo na PM parar suprir a aludida cota mato-grossense, sugeriu que o governo federal faria melhor se fosse arrebanhar mandriões na região Sul, apontando como fontes do hipotético recrutamento as cidades de Porto Alegre e Curitiba, em afrontosa falha da esperada conduta de homens públicos de responsabilidade.

Dias depois, já ministro do Meio Ambiente, Minc soltaria mais um de seus petardos ao afirmar que mandaria seqüestrar bovinos porventura criados em áreas ambientalmente vedadas à atividade pecuária na imensa região amazônica. Esqueceu apenas de explicitar às atarantadas testemunhas de seu pronunciamento, de que maneira e com que recursos materiais e humanos seriam executados a identificação e o aprisionamento da boiada clandestina.

Não é propósito deste comentário tripudiar sobre a pessoa do ministro do Meio Ambiente, personalidade idiossincrática que mesmo assim merece respeito, mas acima de tudo porque O Estado jamais destoou da sociedade na exigência de uma gestão meticulosa das políticas de preservação do patrimônio natural, em quaisquer das esferas da administração pública. Voltamos com freqüência ao assunto com a finalidade exclusiva de lamentar que invés de determinações exeqüíveis, na maior parte das vezes as autoridades acabam se perdendo em devaneios que têm imediato rebatimento no noticiário da imprensa, mas pouco ou nenhum efeito duradouro logram produzir.

Basta referenciar a recente posição anunciada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, quanto à inexistência de disposição de parte do governo para a criação da suposta guarda florestal, segundo o figurino idealizado pelo ministro Carlos Minc. Para fiscalizar e coibir o prosseguimento da derrubada da mata nativa, o governo deve valer-se dos meios que dispõe (aí é que mora o perigo), buscando ademais a cooperação dos governos estaduais que integram a Amazônia Legal.

De quebra, o ministro do Meio Ambiente viu-se constrangido a registrar mais uma contestação a uma das derradeiras produções de seu proverbial arquivo de soluções perturbadoras. O ministro da Agricultura e Abastecimento, Reinhold Stephanes, agente escolhido pelo governo para a função prioritária de continuar estimulando o agronegócio, alfinetou o colega de Esplanada sugerindo que há providências bem mais rentáveis e menos espalhafatosas que o seqüestro de animais no campo, como medida punitiva aos pecuaristas que insistem em desafiar a legislação. É provável que alguém tenha soprado a Stephanes o formidável fracasso do governo Sarney, ao tentar algo semelhante.

Convencido de que o discurso intimorato dos primeiros dias perdeu o impulso, o ministro Carlos Minc não desanimou. Em evento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), defendeu a necessidade de normas mais duras contra a emissão de poluentes pela rede industrial. Guardadas as proporções, foi o mesmo que falar de corda em casa de enforcado. 

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