Pesquisa em 44 países mostra deterioração da imagem dos EUA

As populações de 35 entre 42 países representativos dos cinco continentes mantêm uma atitude geralmente positiva em relação aos Estados Unidos. Mas pouco mais de um ano depois das manifestações mundiais de simpatia e solidariedade aos americanos, provocadas pelos ataques terroristas de 11 de setembro, o descontentamento com os EUA cresceu e a imagem do país deteriorou-se em praticamente todas as latitudes do planeta – entre seus aliados da Aliança Atlântica, na América Latina e nos países em desenvolvimento, na Europa do Leste e, de forma dramática, nos países muçulmanos. Na verdade, em 19 de 27 países onde há dados disponíveis para se fazer uma comparação, a percepção das pessoas sobre os EUA tornou-se mais negativa nos últimos dois anos.

Essas são algumas das conclusões de um estudo sobre atitudes globais dos países sobre eles próprios, o mundo e os EUA conduzido entre junho e setembro passado pelo Pew Research Center for the People & the Press.

Mais de 38 mil pessoas foram entrevistas – mil delas no Brasil. A ex-secretária de Estado Madeline Albright presidiu a comissão que elaborou o questionário de mais de 80 perguntas, aplicado por empresas especializadas em entrevista individuais de cerca de 40 minutos de duração. Concebido antes do 11 de setembro para medir o sentimento de diferentes povos sobre a globalização, o levantamento assumiu um novo caráter depois dos ataques terroristas, que tornaram a opinião do resto do mundo sobre os EUA uma questão mais importante e urgente para os americanos.

Andrew Kohut, o diretor do Pew Research Center, e Bruce Stokes, editor econômico do National Journal e membro do Council on Foreign Relations, que participou da elaboração do trabalho e das análise de seus resultados, apresentaram hoje suas conclusões aos assessores político e de segurança nacional da Casa Branca, Karl Rove e Condoleezza Rice, e Charlotte Beers, ex-executiva de empresas de publicidade que dirige hoje a área de Diplomacia Pública – ou propaganda – do Departamento de Estado.

“A hostilidade, senão o ódio, aos Estados Unidos está concentrado nas nações muçulmanas e na Ásia Central, que são hoje áreas de conflito”, disse Kohut. “Mas as opiniões sobre os EUA são complicadas e contraditórias: em todo o mundo, as pessoas adotam as coisas americanas e, ao mesmo tempo, denunciam a influência dos EUA em suas sociedades.”

Num exemplo típico, uma pluralidade das 44 nações incluídas no levantamento reclamam do unilateralismo americano, mas a guerra contra o terrorismo, que é hoje a viga mestra da política americana goza de amplo apoio fora do mundo islâmico.

Em relação ao Iraque, por exemplo, os europeus concordam por ampla margem com os 84% dos americanos que consideram Saddam Hussein um perigo para o mundo. Três quartos dos ingleses e alemães e dois terços dos franceses compraram a tese do presidente George W. Bush de que o líder iraquiano precisa ser removido do poder. Mas a maioria não concorda que isso seja feito pela força. E franceses e alemães acham que a motivação principal da ofensiva de Washington contra Saddam é a preocupação em garantir o acesso ao petróleo iraquiano e não a ameaça que ele representa para o mundo.

Nessa questão, até os ingleses, que são os mais próximos aliados dos EUA, estão divididos ao meio.

Embora as atitudes em relação aos EUA sejam mais negativas no Oriente Médio e em outras zonas de conflito, a crítica às políticas e aos chamados ideais americanos, como o estilo americano de democracia e as práticas de negócios do país, é mais forte entre aliados tradicionais da Europa e as democracias mais consolidadas do mundo em desenvolvimento, como o Brasil.

A avaliação negativa que os habitantes dos países incluídos no levantamento fazem dos EUA é acompanhada por um claro descontentamento em relação ao mundo. No momento em que o comércio e a tecnologia integram o planeta mais do que em qualquer momento do passado, as pessoas em todas as sociedades acham que o mundo está ficando pior.

“Nosso estudo mostra que um mundo menor não é um mundo mais feliz”, disse Kohut. As conclusões divulgadas hoje são apenas uma parte do estudo. Na primavera americana de 2003, o Pew Research Center apresentará um segundo levantamento feito com base nos questionários, focalizando a globalização e a modernização. A íntegra do estudo está disponível no site www.people-press.org.

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