Pesadelo de verão

O Brasil é uma terra de contrastes, feita de incompreensões, recalques e surpresas aberrantes. Ninguém sequer ousou desconfiar, todos estavam curtindo suas vidas, uns trabalhando e outros no justo privilégio de gozar as férias.

Ninguém ousou desconfiar, tampouco as autoridades ligadas ao setor de saúde pública. Ou elas foram dispensadas de suas funções, sem que os contribuintes tivessem ciência do ocorrido? Agora é tarde para entrar em elucubrações, ou recuperar a água escorrida por baixo da pinguela.

Devaneios à parte, eis aí mais uma vergonha nacional. Veranistas e outras pessoas que trafegaram pelo litoral de Santa Catarina (entre Piçarras e Itajaí) em fevereiro, e… beberam um ou mais copos de caldo de cana – isso mesmo -, a inocente e doce garapa tão apreciada pelos brasileiros, podem ter sido contaminados pelo mal de Chagas.

De repente algumas pessoas do local adoeceram e morreram. O diagnóstico apontou a doença transmitida pelo Tripanosoma cruzi, ao que se supunha um protozoário restrito aos ínvios sertões do Jequitinhonha ou aos almanaques do Jeca Tatu.

Não é brincadeira. Dos focos onde proliferaram, ainda não se descobriu como os besouros contaminaram o caldo de cana servido às margens da BR-101. Alguns admitem que foram moídos com a cana, e o horror ficou maior ao se calcular em 50 mil o número de pessoas virtualmente expostas ao risco da doença. Isto, dizem os médicos, poderia se transformar num surto Brasil afora.

Nada demais onde se avançou tanto na identificação dos genomas e na liberação da pesquisa com células-tronco. Como se faz no Primeiro Mundo.

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