Perito que atestou tortura em Celso Daniel morre em São Paulo

Está morto Carlos Delmonte Printes, de 55 anos, legista que atestou sinais de tortura no cadáver de Celso Daniel, prefeito do PT em Santo André. "Morte suspeita", registrou a polícia de São Paulo.

"Está descartada a hipótese de assassinato", declarou Domingos Paulo Neto, veterano delegado, diretor do Departamento de Homicídios, que vasculhou por cinco horas o escritório onde Delmonte foi encontrado, caído no chão. Não havia sinais de tumulto no imóvel, nem de violência aparente na vítima.

A polícia crê em "morte natural", mas não elimina suicídio. Há indícios de que ele planejava esse fim. O que aponta para isso é uma carta que o morto deixou, escrita de punho próprio em várias páginas, onde pede providências sobre a cerimônia fúnebre – queria ser cremado -, a preocupação em avisar familiares e divisão de algum dinheiro no banco.

Um filho morto no trânsito e outro acometido de grave doença eram um tormento em sua vida. Andava angustiado. Travava uma luta desigual com a depressão. O coração enfraquecido também o preocupava. Desde que fez um curso na Swat, a superpolícia americana, uma gripe muito forte o abalou. Veio pneumonia e, depois, miocardite.

Recentemente, montou seu gabinete particular no 17º andar do edifício Saint Paul, à rua Botucatu, 591, Vila Mariana, zona Sul. Ali, passava horas isolado – lendo, estudando, trabalhando, que eram seus hábitos prediletos.

Hoje (12), chegou ao prédio às 3h40, informou o filho Guilherme. O circuito fechado de TV mostra o legista entrando no Saint Paul, desacompanhado. Quando amanheceu, Guilherme ligou para o pai, que não atendeu. O rapaz tentou outras vezes, sem resultado. Intrigado, por volta de uma da tarde, ele encontrou o corpo.

Delmonte estava de cuecas. Os peritos da polícia verificaram que ele se havia barbeado. "Ele estava inicialmente com um quadro gripal, que evoluiu para uma pneumonia e acabou em miocardite, uma inflamação que pode tê-lo levado à morte", disse Paulo Neto, o chefe da investigação. "Ele não apresentava nenhum sinal de violência no corpo. Nada foi roubado. A princípio, não é um quadro de assassinato."

O delegado trabalha com a possibilidade de Delmonte ter tido uma "morte natural", mas também suspeita de "suicídio passivo" – ele teria deixado deliberadamente de tomar os medicamentos. A família não queria, mas a polícia decidiu levar o cadáver para submetê-lo a um procedimento ao qual Delmonte se dedicou praticamente a vida inteira – a necropsia. Os peritos vão examinar as vísceras do colega, para saber se ele ingeriu remédio em dose excessiva. "Vamos investigar qualquer possibilidade, serão realizados todos os exames", disse Paulo Neto. Seu relato tem o reforço dos parentes mais próximos, a ex-mulher e a atual, que são médicas.

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