Pedro pedreiro

O compositor brasileiro Chico Buarque de Holanda sempre foi um homem de grande sensibilidade social. Militou nas forças de esquerda e, por isso, foi perseguido pela revolução militar. Numa de suas músicas falava do trabalhador, o “Pedro pedreiro”, sempre esperando. Esperando o trem, o aumento para o ano que vem e daí por diante.

Os nossos trabalhadores, a cada eleição, ouvem promessas de políticos. Os idealistas geralmente são irrealistas e dão a impressão de que, se assumirem, no dia seguinte as coisas começarão a melhorar. Ou melhorarão de vez, por milagre. Aí seus discursos mais parecem preces que promessas embasadas em dados e planos concretos. Falam em eliminação da fome de milhões, escolas para todos, empregos para todo mundo, salários suficientes, educação para todas as crianças, saúde e o que mais o “Pedro pedreiro” sempre esperou, desejou e nunca recebeu.

Desta vez, um trabalhador assumiu o poder. E um trabalhador bem intencionado, desejoso de atender o esperado pelos trabalhadores o quanto antes. Por isso, as expectativas eram de que, logo que assumisse, as coisas começariam a melhorar. Não melhoraram e, em certos aspectos, até pioraram.

Aí surgem as explicações em economês. A gente costuma dizer que não entende patavina, quando nos falam em linguagem difícil, inacessível.

Consta que a expressão vem dos antigos romanos, que não conseguiam entender a patavina, língua da Patávia, região de seu império. Pois quando assume, o governo começa a falar economês, o que é “patavina” para o trabalhador, o “Pedro pedreiro”.

Na semana passada, o governo Lula enviou ao Congresso Nacional a proposta de orçamento para o ano de 2004. Orçamento é um calhamaço de papéis com palavras e números, mais números que palavras, em que se prevêem as despesas e estimam as receitas do governo. Um monte de advinhações. Se nem tanto, uma idéia de quanto o governo poderá arrecadar de impostos e taxas e quanto deverá gastar. Nunca dá certo, mas seria pior se tudo fosse feito no “olhômetro”. A arrecadação pode ser mais ou menos calculada pelos impostos e taxas existentes ou que estejam sendo criados e majorados.

Só que a maioria dessas receitas depende do desenvolvimento do país. Das suas atividades econômicas, sobre as quais incidem.

Aí a coisa fica ruim, pois os especialistas dizem que o primeiro orçamento de Lula prevê aumento da carga tributária. E especialistas também afirmam que estamos com retração no setor econômico. Que o PIB – Produto Interno Bruto caiu 1,6% no segundo trimestre, em relação ao primeiro. PIB é a soma de tudo o que um país produz em bens e serviços. Traduzindo em miúdos, isso significa que o governo quer tirar mais impostos de uma economia com menor produção. E de um povo com menores rendas e salários.

E parece ter desistido de fazer tudo o que prometeu neste primeiro ano. 2003 seria um ano perdido. Tudo o que tiver que ser feito, começará em 2004. Lembram-se do “Pedro pedreiro”, sempre esperando. Pois terá de esperar novamente, agora para o ano que vem. Pior ainda, arrancar mais tributos de uma economia que está encolhendo será um grande sacrifício para o povo, se não a inanição. O milagre do desenvolvimento, se acontecer, será a partir de 2004.

Voltar ao topo