Pecuaristas recebem indenização por gado abatido

O governo federal começou ontem a indenizar os pecuaristas do Mato Grosso do Sul que tiveram de sacrificar seus animais por causa do surgimento do foco de febre aftosa. O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Alves Maciel, chegou ontem a Eldorado, onde foi detectado o primeiro foco. Já são 21 os casos confirmados da doença no Estado, todos notificados pelo Brasil à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, na sigla antiga).

Numa primeira etapa, serão pagos R$ 10 milhões em indenizações, por cerca de 2 mil cabeças de gado. No total, estão liberados R$ 33 milhões, conforme determina a Medida Provisória 265, editada ontem. O montante deve atender aos produtores de Mato Grosso do Sul e Paraná, mas os recursos reservados aos paranaenses só serão liberados com a confirmação dos focos, o que ainda não aconteceu.

Dos R$ 33 milhões, R$ 20 milhões serão gastos com as indenizações, R$ 6 milhões com garantia de renda aos pecuaristas que tiveram o rebanho sacrificado, R$ 6 milhões para ações de controle na fronteira e R$ 1 milhão para outras ações. O dinheiro destinado à garantia de renda dos pecuaristas será usado para compra da produção local, principalmente de leite. As indenizações serão pagas pelo Banco do Brasil e o valor a ser entregue aos pecuaristas será o de mercado, praticado depois da confirmação dos focos. O ministério calcula que hoje o valor da arroba no Mato Grosso do Sul é de R$ 45, contra R$ 55 no período que antecedeu o embargo.

Exportação

O presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte e do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa), Sebastião Guedes, admitiu que o reaparecimento da doença no País prejudicou o cenário de exportações de carne do Brasil. Até agora, 49 países suspenderam de forma total ou parcial as compras do produto nacional. ?As exportações poderão cair US$ 800 milhões ao longo de um ano?, calculou. Guedes classificou a situação como ?retrocesso?. ?Esse problema dificulta o acesso a novos mercados?, afirmou.

Guedes lembrou que o reaparecimento da doença prejudica as negociações para abertura do mercado do Japão, dos Estados Unidos e dos países do Sudeste Asiático para a carne bovina ?in natura?. Com os Estados Unidos, país para o qual o Brasil só pode vender carne industrializada, as negociações para vender carne fresca perduram por muitos anos.

Doença já afeta cotação do suíno

A Associação Paranaense dos Suinocultores (APS) já identificou uma queda de 30% no preço dos suínos no Paraná a partir da primeira suspeita de febre aftosa no rebanho bovino local anunciada no dia 22 de outubro. ?O quilo do porco vivo que era de R$ 2,30 caiu para preços entre R$ 1,80 a R$ 1,60?, informa o vice-presidente da entidade, Romeu Carlos Royer.

A preocupação ainda é injustificada. Até agora não foi identificado qualquer caso de suspeita de aftosa em suínos no Paraná nem no Mato Grosso do Sul. A maior parte dos criadores no Paraná, por sinal, está longe das áreas de risco sanitário, pois a grande parte da produção está no oeste do estado.

A queda no preço se explica, em parte, porque o Paraná é um grande exportador de animais vivos, e a maior parte dos estados compradores fecharam suas fronteiras impedindo a circulação dos animais. Das 408 mil toneladas de carne suína que o Paraná deve produzir em 2005, 19% são exportadas, 40% vão para outros estados e 32% serão consumidas internamente.

Segundo Royer, quase 20% das vendas do estado são realizadas na forma de animais vivos para abate, e nada resta senão esperar os resultados dos exames para que seja restabelecido o tráfego dos animais.

Hortifruti

Os focos de febre aftosa também estão prejudicando a venda da produção de melão, abóbora e melancia dos municípios de Mundo Novo e Eldorado, já que o Paraná fechou a divisa para entrada de produtos de origem animal e vegetal, impedindo a entrada da produção dos dois municípios. A decisão prejudica diretamente os produtores, já que 95% da produção é vendida para os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Só em Mundo Novo o produtor José Carlos Lunardi já perdeu 120 toneladas de melão que apodreceram na lavoura sem comprador. Nos próximos dias começa a colheita de melancia e, se não houver solução os prejuízos serão imensos, já que os produtores financiaram o plantio nas revendedoras de sementes e insumos e agora sem vender o produto, não terão como pagar a dívida, que já está em parte vencida.

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