Pecuária leiteira do Paraná é referência nacional

Integrado na programação da terceira edição da Eurozebu 2005, que está acontecendo de 1.º a 9 de outubro, o 1º Agronegócio Lácteo de Londrina encerrou, nesta quinta-feira, com elaboração da Carta de Londrina, aprovada pelos 150 participantes que desde terça-feira debatem temas para melhor desempenho e rentabilidade da atividade leiteira.

Os encaminhamentos do evento, promovido pelo Governo do Paraná (Secretaria da Agricultura e Emater), juntamente com a Sociedade Rural e Associação Norte-Paranaense de Produtores de Leite, serão tornados públicos após a tomada de conhecimento da Carta de Londrina pelas associações de produtores de leite das regiões Norte e Noroeste. Foi deliberado ainda que o documento estará exposto no site http://www.emater.pr.gov.br/ para acolher sugestões dos segmentos da cadeia produtiva.

O Brasil tem 1,1 milhão de vacas em ordenha, com o Paraná detendo 10% deste total. A pecuária leiteira paranaense enfrenta há 10 anos uma redução de rebanho, embora apresente aumento significativo da produtividade, em torno de 1.700kg de leite por vaca/ano, bem superior à média nacional de 1.180kg.

Para o médico veterinário Otamir César Martins, do Projeto Bovinocultura de Leite da Emater, o incremento ocorre em função da tecnologia disponibilizada e difundida ao produtor rural pelo serviço oficial de extensão rural em conjunto com os parceiros do setor. Lembra Martins que o fator determinante no campo é a compatibilização dos custos de produção com o padrão tecnológico, ?que provocou mudança para melhor no atual perfil empreendedor do produtor de leite?.

Martins analisa que a atividade leiteira também sofreu mudanças territoriais. Nos anos 90 estava concentrada na região Sul, com a região Norte sendo a segunda maior bacia leiteira. Atualmente a região Oeste se destaca, acompanhada pelo Sudoeste, Sul, Centro e por fim o Norte. ?Isto graças à presença ativa dos agricultores familiares que fazem da atividade uma garantia de renda mensal em suas propriedades rurais?, assegura o técnico extensionista.

Quanto à genética do rebanho paranaense, 47% da produção de leite vem de gado mestiço, com vários graus de sangue, proporcionando novas demandas se levado em conta a participação da pequena e média propriedade, que exige animais também de pequeno e médio porte, criado a pasto e de fácil manejo. Assim, no simpósio, foi destacada a necessidade da geração de animais F1 aproveitando a heterose de raças européias leiteiras com raças zebuínas de aptidão leiteira.

Lápis e papel no lugar do computado para fazer contas e anotar dados importantes da atividade leiteira foi a receita dada pelo engenheiro agrônomo Sidney Aparecido Baroni, do Projeto Gestão do Negócio, da Emater.

?Estar com um olho no mercado, visualizando as oportunidades e os riscos, e o outro olho nos custos de produção?, alertou Baroni ao destacar que o produtor não forma preço e sim é tomador de preço e nesta condição necessita identificar as tendências dos preços pagos pelos compradores e ao mesmo tempo avaliar continuadamente os custos do seu sistema produtivo.

De um grupo de 20 produtores de leite, acompanhado por Baroni na região Norte, a média do preço de sobrevivência na atividade leiteira situa-se em R$ 0,42 o litro. Em outro grupo foi identificada que a média de rentabilidade está em torno de 9,2% do preço final.

A avaliação dos dados econômicos permitiu aos participantes do simpósio a conclusão de que a classe produtora tem que se organizar, tal como os segmentos do antes e pós-porteira da cadeia produtiva. São poucos os fornecedores de insumos e também poucos são os compradores, a grande maioria se localiza na produção, dentro da porteira, que perde competitividade e podendo ficar a margem de bons resultados pela falta de integração.

Esta falta de união e de participação foi lembrada pelo produtor rural Louis Baudraz, de Cambé, presidente da Associação Norte-Paranaense de Produtores de Leite, com 50 associados da região de Londrina.

?Hoje existe uma nova realidade na atividade leiteira imposta no Brasil, pela Instrução Normativa 51 de melhoria da qualidade do produto em vigor desde julho deste ano e que afeta os produtores paranaenses?, observa Baudraz, que recomenda aos produtores atenção e dedicação na busca de novas informações ?para todos superarem as dificuldades e continuarem evoluindo na atividade?.

?O governo também é um agente dessas mudanças do cenário da pecuária leiteira, tornando pelas características atuais do setor numa referência nacional?, garante o médico veterinário Newton Pohl Ribas, diretor-geral da Secretaria da Agricultura.

Ao destacar o bom nível de profissionalização do produtor de leite que está obtendo aumento de produtividade, graças aos investimentos da categoria no melhoramento genético, alimentação, sanidade, infra-estrutura e qualidade, Ribas listou o aporte governamental.

Citou o Laboratório Central, instalado na sede da Associação Paranaense dos Criadores, em Curitiba, que em conjunto com a Universidade Federal do Paraná analisa 40 mil amostras de leite por mês, para atender os indicadores de qualidade e conseqüente preços pagos pelas indústrias.

No Programa Leite das Crianças, o atendimento da função social de nutrição de 180 mil crianças pobres estimula o consumo de um lado e a produção do outro ao envolver 15 mil produtores e 70 laticínios regionais, com pagamento médio total médio de R$ 0,91 o litro, sob a coordenação do Conselho Estadual do Leite, que acompanha as planilhas da produção e da industrialização.

Pelo Programa Paraná 12 Meses foram investidos R$ 8 milhões em 2004 e em 2005 já chegam a R$ 5 milhões, ?beneficiando os agricultores familiares na compra de equipamentos de ordenha, resfriadores de leite, ensiladeiras, kits de inseminação artificial, reforma de pastagem, construção e reformas de benfeitorias?, afirma Ribas lembrando do Fundo de Aval.

Programa este criado ano passado pelo Governo estadual para dar acesso ao financiamento bancário a 19 mil agricultores familiares, que não atendiam as exigências da rede bancária e que atualmente podem acessar credito de custeio e investimento, baseados nas normas do Programa Nacional da Agricultura Familiar.

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