Passou da conta!

Políticos de antigamente costumavam alertar para algum perigo de golpe, algum prenúncio de turbulência institucional, com a frase ?há algo mais no ar além de aviões de carreira?. Os aviões de carreira da época eram da Real, da Panair, da Vasp, da ainda resistente Varig. Que estavam sempre no ar, voando pra baixo e pra cima neste País continental. Hoje não se vê mais tanto avião de carreira nos céus. E os que se arriscam a voar, o estão fazendo com atrasos, transportando passageiros estressados, furiosos, nem sempre acompanhados de suas próprias bagagens.

Parece que o apagão aéreo que começou depois do maior desastre já ocorrido na aviação civil brasileira, vitimando todos os 154 passageiros do Boeing da Gol que se chocou com um jato executivo da Embraer, está chegando ao fim. Ontem o dia foi mais tranqüilo em todos os grandes aeroportos do País. Já não restam dúvidas de que o problema começou com a crise que envolveu os controladores de vôo e foi agravado, chegando ao caos, com uma série de traquinagens da companhia TAM. Aviões retirados do serviço, a pretexto de manutenção não programada, venda de passagens além da capacidade dos aparelhos, pânico do pessoal de terra, nos balcões da empresa, e falta total de transparência de conduta dos dirigentes da companhia, por sinal sempre elogiada no passado pela seriedade e competência no relacionamento com sua grande clientela nacional e internacional.

O silêncio da TAM só foi rompido anteontem, com uma tímida nota oficial lida em canais de televisão. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que substituiu o Departamento de Aviação Civil (DAC) na fiscalização e controle do setor, revelou-se de extrema incompetência para evitar a situação e, depois, para resolvê-la com a urgência exigida. Seus dirigentes continuam batendo cabeça. Aliás, está na hora de se saber de onde vieram os diretores da Anac, seus currículos, experiência, se realmente têm gabarito para ocupar cargos tão importantes e tão vitais para a segurança e eficiência da aviação civil brasileira. Meros ?companheiros? não servem para ocupar posições técnicas, devem ser abrigados em outros cargos de confiança, coisa que no Brasil temos em abundância. Quanto ao ministro da Defesa, o simpático político baiano Waldyr Pires, nada a destacar além da sua simpatia. Como ele pediu, todos deveremos continuar rezando, pedindo a Deus que resolva a crise e ponha fim no sofrimento de milhões de passageiros e seus parentes que vêm sofrendo com a falta de aviões no ar.

Resta, enfim, a lição que esperemos que as autoridades tenham aprendido. A crise começou sete, dez anos atrás. O tráfego aéreo cresceu, multiplicou-se por cem. A estrutura que deveria dar suporte a progresso tão grande não aconteceu, os aeroportos foram ampliados, mas não o suficiente para atender à demanda; são mais shoppings do que terminais de passageiros. Os controladores de vôo, formados por uma única escola da Aeronáutica, são um quinto dos necessários nas torres e salas de controle dos Cindactas. E não são encontráveis para reposição ou reforço de equipe nas esquinas ou salões de videogame. São profissionais altamente qualificados, no mínimo dois anos de curso e muitos meses de treinamento monitorado.

É o momento de a caixa-preta da aviação civil ser aberta e seu conteúdo exibido à sociedade brasileira. Os responsáveis pela vergonha que estamos passando perante o mundo têm que ser punidos, os prejudicados pelo apagão têm que ser indenizados. Chega de brincadeira!

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