“Partido do Mensalão” move-se para influenciar eleição na Câmara

Sem existência oficial, a bancada do PM ("Partido do Mensalão") move-se pela Câmara para influenciar na eleição do próximo presidente da Casa. Não é um grupo a se desprezar.

São 16 parlamentares ameaçados de cassação por terem sido citados no relatório combinado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios e do "Mensalão" por algum tipo de envolvimento com o esquema operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

O nome do coração da bancada do "mensalão" seria o do corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI). Ligado ao ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou para escapar ao processo de cassação por ligação com o "mensalinho", Nogueira sinalizou para bancada nos últimos dias ao patrocinar uma disputa com o presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, Ricardo Izar (PTB-SP), sobre a quem caberia o patrocínio da imputação dos crimes e das penas sugeridas. A disputa atrasa a tramitação dos processos.

Nogueira montou com o deputado João Caldas (PL-AL), quarto-secretário da Casa, um esquema semelhante ao adotado pelos atletas fundistas. Caldas, como um "coelho", pôs na rua a candidatura para ver se puxa a de Nogueira, ainda não oficial. Se amealhar votos suficientes, renunciaria em favor do correligionário. Quando abordado por parlamentares, Caldas prefere falar das virtudes do não-candidato Nogueira a falar da própria plataforma.

A bancada, com representantes de seis partidos (PT, PP, PL, PTB, PMDB e PFL), possui contornos imprecisos, mas passa o número de citados porque ainda são desconhecidos os nomes de deputados abastecidos pelo duto do PP, supostamente, comandado pelo líder José Janene (PR).

Na relação de saques entregue por Valério à Polícia Federal (PF), por exemplo, consta que João Cláudio Genu, ex-tesoureiro do partido, foi responsável por saques no total de R$ 4,1 milhões, no período de setembro de 2003 a julho de 2004. O destino desses valores permanece uma incógnita.

O nome de Nogueira, porém, não pacificou o PP. Francisco Dornelles (RJ) lançou a candidatura e não alimentaria a aventura do corregedor.

A candidatura de José Thomaz Nonô (PFL-AL) é vista com apreensão pelos acusados de se beneficiarem do esquema. Oposicionista do governo, Nonô mete medo nos mensalistas, quase todos da base aliada do governo.

Nonô tentou evitar esse desgaste. Guardou um silêncio obsequioso enquanto outros se lançavam à sucessão de Severino. Avisado ainda em Nova York pelo próprio presidente da Câmara da renúncia – àquela altura apenas do cargo e não do mandato – Nonô esticou a estada nos Estados Unidos para participar de uma anódina reunião sobre aids e evitar a impressão que estaria disposto a correr para sentar à cadeira de Severino como presidente interino.

O gesto pegou bem entre os aliados de Severino, mas não é suficiente para atenuar a apreensão dos mensalistas. Com sete integrantes na bancada, o PT desejaria ver um petista no comando da Casa. Mas a candidatura do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) seria uma opção melhor do que a de Nonô.

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