Parentes de desaparecidos políticos exigem abertura dos arquivos

Parentes de mortos e desaparecidos políticos da década de 70 exigem a abertura de todos os arquivos das Forças Armadas que ainda existam em poder do Exército, Marinha e Aeronáutica, ou em mãos de algum militar. A intenção é esclarecer as circunstâncias em que desapareceram os militantes das organizações de esquerda durante a ditadura militar. “Chegou o momento de fazer isto, inclusive obrigando militares que ficaram com parte destes arquivos a entregar os dados ao governo”, defendeu Criméia Almeida, viúva do guerrilheiro André Grabois, do PC do B, morto na Guerrilha do Araguaia.

Criméia lembrou que o major da reserva do Exército, Sebastião Curió, ex-deputado federal e hoje prefeito do município de Curionópolis ( em homenagem ao seu sobrenome), disse em várias ocasiões que possui documentos militares sobre a guerrilha do Araguaia. Segundo Criméia, que também foi militante de organizações de esquerda na década de 70, o tenente-coronel Lício revelou que ficou com documentos do Exército com informações sobre desaparecidos e mortos durante o regime militar.

“A nossa luta sempre foi para esclarecer as circunstâncias das mortes dos militantes das organizações de esquerda. Está na hora de fazer justiça e abrir todas as informações”, defendeu Criméia. Ela faz parte da Comissão Especial de Mortos e desaparecidos Políticos e ficou chocada com a linguagem da nota oficial do Exército sobre as fotos do jornalista Vladimir Herzog divulgadas no último final de semana pelo jornal Correio Braziliense, pouco antes dele ser assassinado nas depedências do DOI-CODI de São Paulo em 1975.

“O Exército mantém as mesmas posições da época da ditadura, tratando os guerrilheiros de terroristas”, se queixou Criméia. A ex-militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Iara Xavier Pereira, que também compõe a Comissão dos Mortes e Desaparecidos Políticos, disse ontem que a divulgação das fotos do jornalista Vladimir Herzog só reforça a suspeita de que os arquivos da ditadura não foram incinerados. “Só com a abertura dos arquivos das Forças Armadas poderemos saber o que de fato aconteceu com os desaparecidos”, disse Iara.

Ela teve dois irmãos e o primeiro maridos mortos pelos militares durante a ditadura e é uma das assessoras da comissão dos mortos e desaparecidos que analisam os casos de indenizações a parentes de mortos ou perseguidos pele regime militar. Iara também criticou a ameaça do presidente da comissão, o advogado João Luiz Duboc Pinaud, de abandonar o cargo se o governo não oferecer condições para apurar as circunstâncias das mortes de guerrilheiros. “Ele está desinformado sobre muitos casos que a comissão está tratando”, disse Iara.

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