Um novo olhar sobre os moradores da Vila Torres

Os curitibanos estão sendo convidados a lançar um novo olhar sobre os moradores da Vila Torres, em Curitiba. Trabalho, sonhos, medos, alegrias e tristezas dessas pessoas sobem ao palco no espetáculo Vila Paraíso, que será apresentado no Teatro Guairinha, de hoje a domingo. Fabra Morato, autora da pesquisa que deu origem à peça, passou quase um ano participando da vida da comunidade e conseguiu ver muito além do que a maioria das pessoas consegue enxergar. Ela constatou que são catadores de papel sim, uma profissão que ajuda a cidade a permanecer limpa, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente.

Catadores percorrem as ruas
 e ajudam na limpeza da cidade.

A Vila Torres é um exemplo de contrariedade. Fica numa região central da cidade, perto de tudo e de todos, mas ao mesmo tempo tão excluída. Foi esse universo que Fabra resolveu desvendar quando fazia a sua tese de doutorado em meio ambiente e desenvolvimento, em 2000, pela Universidade de Bordeaux, na França.

Ela conta que não tinha como fazer a pesquisa apenas aplicando questionários, pois os moradores estavam cansados deste tipo de procedimento e de serem considerados como uma vitrine de problemas sociais. Foi aí que Fabra começou a visitar a vila diariamente. Passou quase um ano assim e não conseguiu sair impune. Começou a trabalhar junto à comunidade, no Clube de Mães, e logo surgiu a idéia de contar a vida desta gente batalhadora, e ao mesmo tempo tão sofrida.

Etel Frota: ?A gente muda?.

Logo nas primeiras visitas ela observou o grande número de mães adolescentes e mulheres com 30 anos sendo avós. Enquanto em Curitiba, o índice de mães com menos de 19 anos de idade é de 20%, na Vila Torres sobe para 30%. ?É uma forma que as adolescentes encontram de serem reconhecidas como alguém com valor, como mulher?, explica.

Outro grande problema que ela sentiu foi o preconceito que a cidade tem em relação aos moradores. ?São vistos como parte do lixo. O seu trabalho não é reconhecido?, comenta.

A escritora Etel Frota, que se baseou na tese de Fabra para montar o texto, diz que se emocionou muito ao ter um contato tão próximo com a realidade da vila. A impressão que as pessoas têm é que é um lugar feio, sujo e perigoso. ?A gente muda. Uma vez recebi e-mail de uma pessoa que assistiu à peça e disse que nunca mais conseguiu olhar para o catador de lixo da mesma forma?, diz.

Segundo Fabra, o teatro foi uma das maneiras que ela encontrou para ajudar a comunidade a refletir sobre si mesma e também se tornou um novo canal de comunicação com o exterior. O teatro também abriu as portas para que outros cursos de arte passassem a fazer parte do dia a dia dos moradores. A peça foi montada pelo grupo Pé no Palco, já foi apresentada no Festival de Teatro de Curitiba e ganhou o Troféu Gralha Azul como melhor figurino. As músicas são de Rosy Greca e a direção é de Fátima Ortiz.  

Serviço:

As apresentações acontecerão às 21h, exceto no domingo, que será às 19h. Os ingressos  custam R$ 16 e  R$ 8 (meia). 

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