Tremores de terra em sete municípios do Paraná

Dois tremores de terra assustaram os moradores de sete municípios da região dos Campos Gerais, na noite de quarta-feira. Segundo o professor de Sismologia do Observatório de Sismologia da Universidade Nacional de Brasília (UNB), Vasile Marza, o evento ocorreu por volta das 21h e a magnitude foi de 4,3 na escala Richter (que atinge 9,5), o que é considerado forte para o contexto brasileiro. No entanto, ele não provoca estragos, mas é facilmente sentido pela população.

Segundo o professor, eventos dessa magnitude são registrados no Brasil, em média, apenas uma vez por ano e até hoje foram registrados apenas vinte cismos que passaram de 3,6 na escala Richter. O que ocorreu no Paraná se originou devido à atividades em placas tectônicas que compõem o subsolo do Estado, não tendo nenhuma relação com a atividade de placas na Cordilheira dos Andes, como o que ocorreu em junho do ano passado e foi sentido na cidade de Cascavel, região oeste do Estado, Goiás e Mato Grosso do Sul.

O epicentro do tremor foi em uma profundidade considerado rasa, há apenas 10 quilômetros abaixo do solo. A magnitude de 4,3 não chega a provocar estragos, mas é o suficiente para assustar os moradores. ?Ele é bem sentido pela população. Só casas mal construídas podem apresentar rachaduras?, explica.

Para que um tremor provoque danos materiais precisa passar dos 5 pontos na escala Richter. No Brasil, o maior terremoto registrado foi em 1955, em Mato Grosso, e atingiu 6,6. Segundo Vasile, não há como prever se o evento vai se repetir, mas a tendência é que a movimentação de terra diminua. No Paraná só foram registrados 13 abalos sísmicos nos últimos cem anos e, segundo o professor, esse pode ter sido o maior deles.

De acordo com o tenente Eduardo Pinheiro, da Defesa Civil, o tremor foi sentido em sete municípios: Telêmaco Borba, Ortigueira, Reserva, Castro, Tibagi, Ponta Grossa e Imbaú. No entanto, em nenhuma cidade houve registro de pessoas feridas ou destruição.

Depoimentos

Mesmo assim o susto foi grande. Lúcia da Luz Schnaider, 45 anos, estava sentada em uma mureta na frente de casa quando o tremor começou. ?Senti alguma coisa mexendo embaixo do meu pé. Era como se o chão fosse abrir. Quase morri de medo. Nunca mais vou esquecer a sensação. Foi horrível?, declarou a moradora do bairro São Francisco de Assis, em Telêmaco Borba. Ela disse também que viu toda a casa tremer e estalar. No início achou que havia acontecido só na casa dela, mas depois percebeu que todos os vizinhos estavam na rua assustados. ?Aí me assustei mais ainda?, falou.

A mãe de Lúcia, Maria Isabel Correia, 73 anos, mora em Imbaú, 27 quilômetros distante de Telêmaco Borba, e também passou pela experiência desagradável. Ela conta que assistia televisão quando sentiu o primeiro tremor. Levantou para desligar o aparelho e veio o segundo. ?Parecia que eu estava no ar. Sacudiu a casa toda, fez um barulho enorme como uma explosão. Na rua levantou um poeirão?, descreveu. Ela também afirma que os vidros da casa tremeram, bem como a calha e as eternites do telhado. Imediatamente ela e o marido saíram e foram para a rua com medo de que a casa desabasse. Depois, o mais difícil foi dormir. Só foi para a cama lá pela 1h e mesmo assim não conseguiu descansar.

O abalo não foi sentido da mesma maneira por outros moradores da região, alguns não observaram nada e outros um tremor bem leve. Tânia Perin estava em casa no bairro Bela Vista, em Telêmaco Borba, e não viu nada. ?Ficamos sabendo porque o meu cunhado telefonou contando?, disse.

O Corpo de Bombeiros de Telêmaco Borba foi informado por um morador que alegava que sua casa, após o tremor, apresentou rachaduras. A equipe foi até a residência e constatou que o problema na parede não está associado aos tremores. Os hospitais da região informaram que não foi registrado nenhum atendimento a moradores em virtude do abalo. 

?Movimentos sísmicos são constantes?, diz professor

Diogo Dreyer

Mesmo que o Brasil não seja atingido por terremotos, tremores de terra são muito constantes no País, até mesmo no Paraná. ?Movimentos sísmicos acontecem o tempo todo no continente. A diferença é que agora eles estão sendo sentidos com mais freqüência?, afirma o professor Renato Eugenio de Lima, coordenador do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Segundo Lima, a freqüência de tremores no Paraná é aproximadamente um grande movimento por ano. ?Pode ser que aconteçam mais, mas nem sempre eles são registrados. Às vezes as pessoas confundem com a passagem de caminhões próximo à suas casas ou simplesmente estão dormindo quando acontece?, explica. Em junho do ano passado, lembra o professor, aconteceu algo semelhante ao tremor da última quarta-feira  em alguns municípios das regiões oeste e central. Em Cascavel, a população sentiu tremores e alguns moradores ouviram ruídos em virtude da movimentação do solo. Acomodações ocorridas em placas tectônicas que compõem a Cordilheira dos Andes produziram ondas de movimentos que chegaram a ser sentidas também nos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. ?Foram reflexos de um terremoto de 7,9 graus na escala Richter que causou mortes no Chile?, diz o professor.

Em 2004, um tremor de terra também assustou os moradores de Matinhos e Guaratuba. Todos os registros dessa quarta-feira recebidos pelo Corpo de Bombeiros foram enviados para o Observatório de Sismologia da Universidade Nacional de Brasília (UNB).

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