Som excessivo nos parques da capital

Lugares que deveriam servir de descanso, relaxamento e práticas de exercícios físicos para os curitibanos podem estar mascarando riscos à saúde das pessoas. De acordo com pesquisa realizada pelo mestrando em Acústica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o biólogo Bani Szeremeta, os parques Jardim Botânico, Passeio Público, São Lourenço e Barigüi possuem níveis de decibéis acima do recomendado pela Lei Municipal 10.625 em áreas verdes. Essa porcentagem acima, segundo o pesquisador, pode trazer a longo prazo problemas de saúde como taquicardia, dor de cabeça, nervosismo, irritabilidade, entre outros.

Na pesquisa, o biólogo identificou também os sons que as pessoas percebiam nos parques, que seriam os pássaros, o tráfego de veículos, outros sons naturais, o barulho das pessoas, de máquinas, música, o tráfego aéreo, a sinalização e o barulho do trem (nesta seqüência). O som do tráfego foi o único considerado ?desagradável? pelas pessoas pesquisadas. Mas o curioso é que, por estarem em um local que aparentemente existe para o descanso, as pessoas não conseguiam perceber que esses ruídos estavam acima do recomendado. A maioria dos entrevistados (71,94%) respondeu que o nível sonoro era ?normal? e 81,5% deles disseram que ?não incomodava?. ?Embora os níveis sonoros estejam altos, estar no parque faz com que a pessoa se torne mais tolerante a estes níveis?, explicou Szeremeta. Aliado a isso, o biólogo escolheu para a pesquisa parques mais próximos às áreas urbanas, e não aqueles que estão um pouco mais afastados, como o Tanguá, por exemplo.

A questão da percepção das pessoas com relação ao que agrada e o que desagrada quando o assunto é ruído traz à área da acústica um campo novo a ser estudado, chamado de ?paisagem sonora?. Dessa forma, o pesquisador não avalia somente os ruídos, que são os sons desagradáveis, mas também outros tipos de sons cuja qualidade está ligada a fatores como a percepção das pessoas. E o local mais propício a desenvolver esse tipo de pesquisa, segundo o biólogo, são justamente os parques. ?O parque é um indicador biológico da qualidade ambiental?, comentou. A pesquisa foi feita com 335 freqüentadores dos parques.

Para o pesquisado, o poder público pode contribuir com os níveis sonoros no meio urbano. Segundo Szeremeta, uma das alternativas seria criar no entorno do parque uma zona de amortecimento.

Problemas no dia-a-dia

Além do tráfego e dos vizinhos, outros ruídos urbanos e mais evidentes também podem causar problemas de saúde. Exemplos dados pelo físico e especialista em Gerenciamento Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) de Campo Mourão, Artur José dos Santos Pires, são os walk-mans, os aparelhos de MP3, as propagandas de porta de loja, o barulho dos carros coletores de lixo e até o som alto das casas noturnas.

Para o professor Pires, esses são ruídos inevitáveis, gerados pela qualidade de vida dos dias de hoje. Ele exemplifica isso com os veículos muito mais equipados e que emitem um volume de som cada vez mais alto. Em casas noturnas,  o perigo é ainda maior. ?Uma das maiores causas da oteosclerose, além do fator hereditário, é o som alto. A doença aparece geralmente em pessoas com 30, 40 anos de idade, mas hoje está aparecendo bem mais cedo?, alertou.

Níveis de decibéis preocupam

Para os pesquisadores da área de acústica, o que preocupa hoje não são os níveis de decibéis em indústrias, por exemplo, onde os trabalhadores usam proteções nos ouvidos. O problema é justamente o nível normal – segundo estudos alemães, o máximo que o ouvido humano deve suportar para não ter problemas é 55 dB(A), no máximo 65. O nível é preconizado também pela Organização Mundial da Saúde.

Porém, de acordo com o professor Paulo Zannin, coordenador do Laboratório de Acústica Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR), níveis acima de 65 já podem causar problemas. Em academias de ginástica, um estudo do laboratório revelou que os níveis sonoros chegavam até a 85 dB(A). ?É absurdo, pois aí já chegamos em níveis que se deve proteger o trabalhador. E não é o que acontece. Há estudos que dizem que sons altos provocam dependências nas pessoas?, destaca Zannin.

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