Soldado da paz, amigo da viola

Foto: Mara CornelsenDe olho em nossas praias, a Tribuna está trazendo para os leitores, neste verão, histórias de vida, relatadas por personagens que moram no Litoral. Na primeira reportagem da série, apresentamos o Mestre Eugênio, da Ilha de Valadares, que é comendador da República – recebeu comenda do Ministério da Cultura – por sua relevante contribuição à cultura brasileira. Ele é mestre em fandango, dança e música típicas do litoral paranaense. No domingo passado, conhecemos a história de ?Jacaré?, o personagem mais popular do Balneário Santa Terezinha, em Pontal do Paraná. Hoje, vamos contar quem é o ?seu Zé?, que dentre outras habilidades toca violão muito bem. Não é para menos, aprendeu a tocar com Pixinguinha!

Do alto dos seus 72 anos, o descendente de italianos José Arriello ou simplesmente ?seu Zé?, não perde a pose nem a elegância. Todo fim de tarde dá uma passadinha no restaurante do Chico – seu amigo – toma uma cerveja, troca um dedo de prosa, abraça a mulher com quem se casou há três anos e volta para casa, no Balneário Santa Terezinha, em Pontal do Paraná. Figura querida entre os moradores da região, tem muita história boa para contar. Fez um pouco de tudo nessa vida. Até aprendeu a tocar violão com o mestre Pixinguinha, nos idos dos anos 50s, quando ainda morava no Rio de Janeiro. Boêmio declarado, pega o violão e encanta quem estiver por perto, mostrando suas habilidades. Porém, tímido, logo passa o instrumento para algum outro tocador e se recusa a novas exibições.

?Seu Zé? já construiu muita casa em Santa Terezinha. Desde que foi morar na praia, há 14 anos, reforçava o orçamento familiar com os ?bicos? de pedreiro. Depois que sua primeira esposa faleceu, ele resolveu se aposentar de verdade. Mas ainda assim deu palpites na construção da casa de sua vizinha – a Maria Lúcia – e acabou casando com ela. ?A Maria Lúcia é a mulher mais inteligente do litoral. Conseguiu me conquistar?, brinca.

De cabelos brancos, ternos olhos azuis e uma simpatia irresistível, ?seu Zé? também prende a atenção com sua experiência de vida. Em 1952 ele servia no Rio de Janeiro e foi um ?Soldado da Paz?, integrando a tropa brasileira que foi para o Canal de Suez, no Egito. Ficou 8 meses naquela região, com outros 600 soldados brasileiros. Quando voltou, largou a farda, mudou-se para Curitiba e comprou um caminhão.

?Naquele tempo para ir de Curitiba a São Paulo a viagem durava até 24 horas. A Estrada da Ribeira era um horror. Tunas, naquele tempo, ainda era chamada de Pedra Preta?, recorda.

Casou-se, vieram os quatro filhos – um é engenheiro, outro é professor, outro é padre e a filha é administradora – e ele trocou o caminhão por um táxi, que dirigiu durante 20 anos. Mais tarde foi trabalhar como motorista da Petrobrás, e, por fim, mudou-se para Santa Terezinha, onde vive muito feliz, conforme assegura, embora se queixe da violência que tem perturbado o sossego de quem mora nas praias. Sua única e declarada frustração, depois de muito tempo de conversa, é que adoraria ter bisnetos, mas até agora nenhum de seus seis netos lhe propiciou esta alegria.

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