Sobrevivendo na selva de pedra

A sensação de insegurança presente na vida dos moradores de grandes cidades brasileiras está levando muitos a buscar maneiras de se defender pessoalmente da violência. Em situações de perigo, envolvendo criminosos armados, a recomendação da polícia é nunca reagir. Essa não é a opinião do curitibano Gerson Madlener, instrutor de defesa pessoal e fundador do SOBS ? Sobrevivência Urbana. “O fato de reagir, se você souber como, pode te salvar. Você pode sair ferido, mas o importante é sair com vida”, afirma.

Com base no krav-magá, arte de defesa pessoal israelense, Gerson criou uma série de cursos que ensinam a prevenir e enfrentar situações reais de perigo, como assaltos ou seqüestros, mesmo com assaltantes armados com facas ou armas de fogo.

Com extensa formação em cursos de segurança e defesa urbana, Gerson, além de dar aulas em academias, é instrutor da seção brasileira da Tactical Explosive Entry School (TEES Brazil), centro de treinamento de operações policiais e militares na aplicação tática de explosivos, resgate de reféns, sobrevivência policial e operações especiais de alto risco. Também é diretor de segurança urbana da Câmara de Dirigentes Logistas de Curitiba (CDL) e coordena cursos especiais do Centro de Treinamento de Profissionais de Segurança (CPS).

Krav-magá

O krav-magá não é considerado arte marcial. Não há competições esportivas ou regras. Foi criado em Israel no início dos anos 40, pelo húngaro Imi Lichtenfeld. Para resolver qualquer situação de violência de forma objetiva, Lichtenfeld desenvolveu uma técnica de golpes rápidos e curtos, que visam atingir pontos de grande sensibilidade do corpo humano. A nova luta foi adotada como filosofia de defesa do exército israelense em 1948, sendo a instrução de civis liberada somente a partir de 1964.

Lichtenfeld selecionou então um grupo de treze pessoas, para serem responsáveis pela continuidade de sua obra e sua divulgação pelo resto do mundo. Porém foi só em 1987 que o krav-magá passou a ser difundido fora de Israel. Em 1990, um dos treze selecionados por Lichtenfeld, Kobi Lichtenstein, chegou ao Brasil como único autorizado a divulgar e ensinar a arte na América Latina. Foi com o mestre Kobi que Gerson Almeida aprendeu o krav-magá, formando-se no curso de instrutores em 1997.

Objetividade e prevenção

Em Curitiba, além do krav-magá, Gerson ensina sobrevivência urbana, autodefesa para mulheres, direção urbana, além de cursos específicos para crianças. Freqüentam suas aulas pessoas de diversas idades e profissões, que procuram não uma arte marcial, mas uma maneira mais objetiva de se defender. “Viver em paz e respeitar o próximo não afasta a possibilidade de ser agredido”, diz Gerson.

Um exemplo é a analista de sistemas Mariza Degaspari, que há dois anos treina com Gerson. “Procurei o krav-magá para ter a possibilidade de me defender. Não tem filosofia, competição”, diz. O médico Gustavo Adam concorda: “Não tem muito confronto direto. É eficiente e objetivo”.

A maioria dos alunos de Gerson afirma que nunca precisou usar as técnicas aprendidas nas aulas no dia-a-dia. “O treino te dá segurança e ajuda a prevenir situações de perigo”, constata o economista Joel Penteado, que treina krav-magá há três anos. A mesma opinião tem o analista em telecomunicações Fabiano Zanchet: “O krav-magá dá autoconfiança, deixa mais atento. Ajuda você a prevenir situações perigosas no carro, na rua…”.

Assalto

A mesma sorte não teve o comerciante Willian Zaleski. Dono de uma lanchonete nas proximidades do Passeio Público, ele teve que usar o que aprendeu com Gerson em uma situação real. Eram oito horas da manhã de um dia de trabalho quando Willian ouviu uma discussão no caixa e foi verificar. “Vi um rapaz com uma arma escondida sob a manga da camisa”, conta. Ao ver o dono do estabelecimento, o rapaz deu a voz de assalto. “Demos para ele um porta-moedas e nesse momento ele se descuidou.” Willian conta que aproveitou a distração do assaltante para agarrá-lo pelo braço. “Entramos em luta corporal. Ele conseguiu então me bater na testa com o revolver, que se quebrou. Era de plástico. Dominamos ele e chamamos a polícia.”

Willian diz que se não treinasse krav-magá certamente não agiria da mesma maneira. “Não teria a segurança para reagir”, afirma.

Reagir ou não?

Segundo os praticantes, o treinamento dá a capacidade de se avaliar quando é possível ou não reagir. “O krav-magá dá a opção de reagir ou não”, diz Willian. Para outro aluno de Gerson, o revisor técnico Álvaro Antunes, “o treino ajuda a ver se vale a pena reagir. A idéia é evitar o perigo e, se não der, se sair o melhor possível”. Gustavo Adam pensa da mesma maneira: “Às vezes, fugir é a melhor forma de defesa”.

Aula

Em alguns aspectos, uma aula de krav-magá se parece com um treino de artes marciais. Como no caratê ou no judô, existem faixas, para separar os mais experientes dos iniciantes. São treinados exercícios para apurar os reflexos e a visão periférica, além de golpes, posições e imobilizações, mas sempre com referência a situações reais. “Cada semana abordamos um assunto: estrangulamento, faca, refém…”, explica Gerson. “Com o que aprende em seis meses, você já se previne, se defende de qualquer coisa.”

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Amanhã, Gerson Madlener, único intrutor no Paraná autorizado pela Federação Sul-Americana de Krav-Magá, com experiência de mais de 12 anos na área de segurança, estréia, como colaborador do

Paraná-Online, sua coluna semanal Sobrevivência Urbana, sobre defesa pessoal, ação anti-seqüestro, prevenção a acidentes e situações de perigo na rua, em empresas, escritórios e residências, além de outros assuntos referentes a segurança pessoal.

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