Sapataria histórica de Curitiba fecha as portas

Um patrimônio de Curitiba está dando os últimos suspiros. É a sapataria D?Aquino, que fabricava calçados no centro da cidade há mais de 80 anos, e encerrou totalmente as atividades no início do ano. O proprietário, Núncio D?Aquino, de 91 anos, diz que não encontra mais mão-de-obra qualificada para trabalhar com ele. Mas, no fundo, deixa transparecer um certo desânimo com o negócio, misturado com a sensação de missão cumprida.

?Já fechei a sapataria?, anuncia D?Aquino. Porém, ainda resta um bom número de pares de calçados nas prateleiras, todos à venda. A qualidade impressiona: ?Duram por muitos anos. São feitos de couro, caprichados, com os bicos reforçados?. Os clientes atuais, segundo D?Aquino, não ficaram felizes com o anúncio do fechamento da sapataria. ?Eles estão reclamando bastante?, confessa.

D?Aquino assumiu a sapataria, fundada pelo seu pai, italiano da Sicília, há cerca de 65 anos. Fabricava todos os tipos de calçados – botas, sapatos, sandálias e até sapatos de dança e botas de equitação. Também fazia consertos em calçados. Ele chegou a ter duas lojas no centro de Curitiba, e 45 funcionários só na linha de produção dos calçados, entre modelistas, cortadores, costureiros e contadores.

Apesar de confessar que sua memória já não está tão boa, D?Aquino lembra pelo menos o nome de um de seus mais ilustres clientes: ?Manoel Ribas era o meu cliente. Artistas, empresários e outros políticos também compravam nossos sapatos?, conta.

A pequena fábrica, localizada nos fundos de uma loja de antiguidades na Rua Elimiano Perneta, mantém muitos resquícios dos seus áureos tempos, quando D?Aquino chegava a vender sapatos no atacado até para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Mas as duas máquinas importadas da Alemanha e outros aparatos necessários para a fabricação, apesar de ainda funcionarem, pararam completamente. Centenas de formas de calçados, feitas basicamente de madeira, cobrem boa parte do chão.

Do lado de fora, restou um bucólico quintal – já não tão bem cuidado quanto antigamente, segundo o próprio D?Aquino -, de onde hoje podem ser vistos os prédios que cercam o terreno. Prédios que trouxeram um problema para a fábrica. Uma construção nos arredores prejudicou a estrutura de algumas paredes, que estão bastante rachadas. Mas D?Aquino diz que a construtora fará em breve uma reforma, que provavelmente implicará na derrubada de muito da construção original.

Daqui para a frente, D?Aquino pretende preencher seu dia-a-dia pintando quadros, uma atividade que costumava fazer quando jovem e que pretende retomar agora. Já viúvo, vai deixar a propriedade para seus quatro filhos decidirem o que fazer. Segundo ele, nenhum tem interesse em continuar o negócio, pois já estão com suas carreiras encaminhadas em outras áreas. Triste? D?Aquino diz que não. A sensação, para ele, é de missão cumprida.

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