Rios da Região Metropolitana de Curitiba estão assoreados

Para que as enchentes não causassem estragos, há oito anos, a família de Eva Ferreira Lima teve de erguer em quase um metro o terreno da casa em que viviam, na região em que passa o Rio da Gralha, na divisa de Contenda e Araucária. Não fosse essa decisão, segundo ela, até mesmo chuvas de pouca duração estariam ainda hoje causando prejuízos, pois o rio tem sofrido constante processo de assoreamento e não consegue dar vazão a toda a água.

Segundo o presidente da Eco Rio, Iolando Wojcik, muitos dos pequenos rios da região de Araucária, Contenda, Quitandinha, Lapa e Balsa Nova estão assoreados devido ao saibro e à terra carregada pelas enxurradas. Ele diz que além do Rio da Gralha, que é um dos que está em piores condições, os rios Catanduvas e Hortelã também estão em condições preocupantes. ?Mas o assoreamento dos rios está acontecendo não só na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). É um problema em todo o Estado?, afirma.

O resultado é o aumento da freqüência de enchentes que, segundo ele, fez rarear a mata ciliar. ?Com a diminuição do fluxo de água, outro problema que pode acontecer no futuro é o de os rios secarem?, alerta.

Wojcik diz que a Eco Rio tem realizado esforços para a recuperação de alguns rios, em que possui licença para atuar. ?Mas temos poucos recursos para isso, pois é preciso retirar o saibro e a terra do leito do rio com uma máquina retroescavadeira.? Ele afirma que toda a vez que chove é preciso trabalhar nas estradas em locais próximos aos rios.

Para Wojcik, os principais responsáveis são as prefeituras, que ao realizarem a conservação das estradas o fazem de forma a contribuir para a queda do saibro nos rios. ?Foram feitos alguns cursos de patroleiros há dois anos, envolvendo Contenda, Lapa, Araucária, Balsa Nova e Campo Largo, mas não adiantou nada. Para proteger os rios é preciso cuidar das estradas. É preciso fazer barreiras e sistemas de contenção do saibro?, salienta.

Municípios preocupados

Um conjunto de fatores pode estar contribuindo para o assoreamento dos rios na região. Assim pensa Hélio Bzuneck, biólogo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Araucária. Ele diz que é comum haver moradias irregulares em fundo de vale. ?Há também a questão agrícola, pois muitos produtores não conservam a mata ciliar em torno das nascentes.? Ele afirma também que a rotatividade dos operadores de patrola pode estar contribuindo para o problema.

O secretário municipal de Transportes de Araucária, Ismael Cantador, diz que é a primeira vez que o problema é apresentado a ele dessa maneira. ?No patrolamento das estradas, procuramos evitar que o saibro vá para os rios, mas não existe um estudo aprofundado de como evitar que isso ocorra?, considera.

Para a Prefeitura de Contenda, o problema é a escassez de recursos, o que dificulta a ação da administração pública. Segundo o prefeito Hélio Luís Boçoen (PFL), os operadores de patrolas recebem orientações para que trabalhem sem agredir os rios. Ele diz que pretende trabalhar para a recuperação dos rios, dentro das limitações de recursos e de máquinas disponíveis. ?Nos próximos dias devemos dar um atendimento a esse problema.?

Conforme o chefe do Departamento de Hidrologia da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), Edson Manassés, a tendência é que o desmatamento e o uso impróprio do solo causem o assoreamento de rios. Ele afirma que a principal solução é a preservação da mata ciliar. ?Elas protegem os rios e retêm a água da chuva. Contribuem para a infiltração no solo e para que a água das chuvas chegue a lençóis freáticos.? (RD)

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