Rádio leva cidadania à Vila dos Cegos

Um trabalho de conclusão de curso (TCC) está mudando a rotina dos moradores da Vila dos Cegos, localizada no bairro Santa Quitéria, em Curitiba. Realizado pela aluna da Universidade Positivo Evelise Cristina Toporoski, o projeto implantou uma rádio comunitária com notícias e entretenimento apresentada por ela em parceria com moradores da vila. Ao todo, 89 pessoas vivem no local: 29 delas com deficiência visual.

Para a participante Arminda de Carvalho, o projeto de Toporoski trouxe uma maior divulgação sobre a vila e seu cotidiano. “Participei na rádio com telemensagens. Achei muito bom, pois mostra um pouco da vida que levamos aqui”, relata.

Toda a comunidade é adaptada com calçadas para cegos, que indicam a entrada de suas casas. “Não tenho dificuldade alguma para viver aqui. Quando preciso de algo mais complicado, peço ajuda aos vizinhos”, conta. Mas Carvalho reclama das dificuldades que enfrenta fora da comunidade. “Tenho problemas quando preciso pegar o ônibus e ir para outros lugares. Muitas vezes os motoristas de ônibus passam reto pelo ponto, por isso preciso da ajuda de outros passageiros para me avisar quando o ônibus chega. É preciso uma maior conscientização das pessoas e motoristas, sem contar que já recebi diversas vezes o troco errado”, reclama a moradora há mais de dez anos na comunidade.

Outra reclamação feita pelos moradores da vila é a dificuldade em se conseguir um trabalho formal. “Trabalho como vendedora ambulante por não conseguir emprego registrado. Todos alegam que não temos qualificação, mesmo com as cotas que privilegiam os deficientes”, diz a moradora Zilda Maria Rosão.
Porém, mesmo com os cursos, a dificuldade em conseguir trabalho existe. “Tenho cursos de telefonista, assistente de raio-X entre outros, mas existem poucas oportunidades de trabalho”, conta Dorival Aparecido da Silva.

Assistência

A Vila dos Cegos recebe atendimento da Pastoral da Criança de Curitiba. Enquanto visitava a vila, a equipe de reportagem de O Estado acompanhou o trabalho desenvolvido mensalmente pelos agentes. “Realizamos o cadastro, acompanhamento e também o atendimento aos menores que vivem na vila”, explica a líder da Pastoral do setor oeste de Curitiba, Suzete Baggio. As maiores ocorrências registradas pela Pastoral na vila, envolvem a violência e maus tratos infantis.

A intenção da criadora do projeto é implantar a rádio após a finalização do curso. “Todos aqui na vila estão empolgados com a rádio, vou apresentar o TCC a uma empresa preocupada com a responsabilidade social, só depende do patrocínio”, estima Toporoski.