Projeto ajudará negros a ficarem na universidade

Vai ser lançado em abril deste ano um projeto que pretende ajudar 15 estudantes negros que ingressarem nas universidades da Região Metropolitana de Curitiba. O projeto Adebori (que significa “aquele que veio para vencer”) de Permanência de Negros no Ensino Superior do Paraná também quer promover discussões sobre a importância da adoção de políticas para promover a igualdade de oportunidades entre as raças. Atualmente, somente 2% da população negra do país ingressa nas universidades. Dados do Adebori indicam que somente 1% ? 42 alunos ? dos estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) são negros.

De acordo com Marcilene Garcia, coordenadora do projeto, a maioria dos negros que entra nas instituições de ensino superior não consegue terminar o curso. “A evasão é muito grande porque eles não têm condições de arcar com os custos”, afirma. O objetivo do projeto é garantir a permanência de 15 estudantes que ingressarem nas universidades públicas ou privadas em 2003. Será fornecida uma ajuda de custo mensal de R$ 250,00 por aluno, além de acompanhamento com um professor tutor e de atendimento médico e psicológico. Parte do dinheiro para o projeto vem da fundação suíça Avina, que realiza ações ecológicas e sociais na América Latina. Para completar os recursos, o projeto está querendo fazer parcerias com empresas, organizações não governamentais, políticos e com a sociedade civil.

A coordenação do projeto está negociando com as universidades de Curitiba e região para conseguir bolsas integrais para esses estudantes. Os alunos interessados vão passar por uma seleção. Segundo a coordenadora, serão avaliados o perfil e a necessidade do estudante.

Em abril do ano passado, foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, projeto que fixa uma cota de 20% das vagas para negros nas universidades federais e estaduais. Serão beneficiadas as pessoas que se auto declararem negras ou pardas no ato da inscrição do vestibular. A percentagem pode aumentar de acordo com a decisão da instituição, levando em conta a proporção da população negra na região onde se encontra. As universidades têm autonomia para adotar ou não a medida. O projeto prevê a fixação da cota por 50 anos. Os candidatos negros precisam atingir a nota mínima para participar da seleção.

Duas universidades do Rio e uma da Bahia já adotaram o sistema. O primeiro vestibular com a cota da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) causou polêmica porque vestibulandos brancos ficaram de fora, mesmo tirando notas melhores do que os negros. Alguns candidatos entraramr na justiça para conseguir a vaga. Em Curitiba, somente a UFPR se manifestou sobre o assunto, informando que pode fixar a cota em 2004.

Neutralizar desigualdade

Marcilene afirma que a cota é uma maneira de garantir igualdade a um grupo historicamente excluído. “É neutralizar uma desigualdade racial, garantir um tratamento singular”, defende. “O critério deve ser outro. Como é possível tratar igual no vestibular?” O prazo de 50 anos para a permanência das cotas agrada a coordenadora. “Não é para sempre, só até a igualdade prevalecer”, argumenta.

Marcilene acredita que a polêmica no Rio foi causada pelo sentimento de perda. “Para promover a igualdade é preciso abrir mão e isso não vai acontecer naturalmente, já que a vaga sempre esteve lá”, explica. “É difícil aceitar porque está lidando com um espaço de poder, que é o conhecimento.” Ela encara a medida do governo como muito positiva. “O Estado está reconhecendo agora que não deu um tratamento igual para os negros”, diz.

Marcilene acredita que a responsável pela baixa ingressão dos negros nas universidades é a educação prestada nas escolas públicas. “Os alunos negros, principalmente as crianças, não se identificam nos livros didáticos e no espaço escolar, com as decorações mostrando pessoas brancas”, avalia. “Isso faz com que a repetição e a evasão escolar sejam maiores entre os negros.” Segundo a coordenadora, uma pesquisa indica que o negro tem 2,6 anos a menos de escolaridade do que o branco sob as mesmas condições e que apenas 3,3% dos estudantes que concluem o ensino médio são negros. Marcilene conta que a situação pode melhorar um pouco com a aprovação recente de uma lei que torna obrigatória a inclusão de uma matéria sobre História e Cultura Afro-Brasileira na grade curricular das escolas públicas.

Para obter mais informações sobre o projeto, entre em contato no telefone (41) 233-6125.

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