Professores do ensino superior abandonam CUT

O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) – entidade que representa cerca de 74 mil professores universitários ativos e aposentados no Brasil – deixará de ser filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), fundada em 1983. A decisão foi tomada ontem em votação realizada durante o 24.º Congresso do Andes-SN, realizado no teatro da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.

De 289 representantes de universidades brasileiras presentes, 192 votaram a favor da desfiliação, 85 contra e doze se abstiveram. "A maioria dos professores universitários acredita que a CUT já não vem mais cumprindo com eficiência sua função de defender os direitos dos trabalhadores. Nos últimos anos, a entidade vem defendendo posições do governo que vão contra à classe trabalhadora", declarou a presidente do Andes-SN, Marina Barbosa.

A desfiliação vem sendo discutida pelos professores há cerca de dois anos. Segundo o vice-presidente da Associação dos Professores da UFPR (APUFPR), Lafaiete Neves, tudo começou quando a CUT defendeu a posição do governo e não dos trabalhadores em relação à reforma da previdência. Depois, o mesmo teria acontecido em relação às reformas sindical e trabalhista. "Essas reformas eram contrárias a conquistas valiosas dos trabalhadores, mas mesmo assim a CUT se posicionou a favor das propostas do governo. Na semana passada, o presidente da central (Luiz Marinho) foi a Brasília (DF) e, sem conversar com o Andes-SN, se disse a favor da reforma universitária do jeito como ela está sendo proposta, quando todas as entidades que representam os professores universitários são contra o Programa Universidade para Todos (ProUni)", afirmou. "A CUT se tornou uma central chapa branca e os professores não a enxergam mais como um instrumento de defesa de seus direitos".

Lafaiete declara que, com a desfiliação à CUT, o Andes-SN não tenciona realizar filiação imediata a outra central sindical nem criar uma nova, "apenas continuar defendendo bandeiras históricas da classe trabalhadora".

Contra

Embora a maioria das pessoas presentes no teatro da reitoria tenham se dito a favor da desfiliação, muitas alegaram que esta não era a hora de o Andes-SN se desligar da CUT. "A CUT tem a nossa marca. É uma entidade que congrega mais de três mil sindicatos. Não podemos perder espaço, pois dentro da CUT teremos mais condições de enfrentamento em lutas futuras", alegou o representante da Universidade de São Paulo (USP), Américo Kerr. Já o representante da Universidade Estadual do Ceará, José Eudes, defendeu a luta contra as pessoas que, dentro da CUT, tomam posições contrárias aos trabalhadores e não o desligamento da entidade. "Não adianta extinguir a CUT para matar os carrapatos que existem nela", comentou.

Lamentação

O presidente da CUT-PR, Roni Anderson Barbosa, lamentou o resultado da votação e disse que o Andes-SN está tomando uma posição equivocada. "É um equívoco dizer que a CUT está indo contra os direitos dos trabalhadores. Os professores são uma categoria importante e só temos a lamentar, pois a decisão do ANDES-SN visa desconstruir a luta de classe que a CUT vem desenvolvendo há mais de vinte anos". Roni também criticou o fato de a CUT não ter sido chamada para se defender no momento da votação. "A dirigente da CUT nacional, Lúcia Reis, participou da abertura do congresso. Porém, ninguém foi chamado para participar da votação". 

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