Procura-se parceiro para restaurar museu

Fechado há quase um ano e meio em virtude de problemas na estrutura e risco de desabamento, o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) de Paranaguá luta para encontrar parceiros que queiram investir na sua recuperação. O projeto de restauro e revitalização do local – orçado em R$ 3 milhões – já está pronto e aprovado pela Lei Rouanet, um benefício fiscal que permite que as doações de pessoas físicas e jurídicas sejam abatidas do Imposto de Renda. O museu, que desde a década de 50 está sob a guarda da Universidade Federal do Paraná (UFPR), possui um acervo de 25 mil peças e é considerado um dos mais importantes do Estado.

A diretora do MAE, Ana Luisa Fayet Sallas, conta que a batalha para recuperar o museu começou em 2002, quando o programa de revitalização e restauro foi aprovado. Porém, ao longo desse período foram aparecendo imprevistos que prejudicaram o projeto. Entre eles, a solicitação para que a UFPR entregasse o prédio onde estava instalado o acervo da reserva técnica, para o governo federal, que é o proprietário do local. No ano passado, os fortes temporais registrados no mês de julho revelaram o estado crítico que se encontrava o prédio, que foi então fechado para visitação pública.

?E depois do que aconteceu com o prédio da UEL (Universidade Estadual de Londrina), preferimos não colocar em risco os visitantes, que na grande maioria são crianças e adolescentes?, disse Ana Luisa. No ano passado, a marquise na entrada do anfiteatro do Centro de Estudos Sociais Aplicados da UEL desabou, matando dois estudantes e deixando outros 21 feridos. Desde o início deste ano, o acervo da reserva técnica do museu, que reúne 70 mil peças, foi instalado em um espaço próprio em uma das sedes da UFPR em Curitiba. Essa mudança, diz a diretora, foi uma decisão analisada para que o material fosse melhor conservado e permitisse ampliar as pesquisas.

Propostas

Lucimar do Carmo/O Estado
Ana Luisa:?Mais de cem escolas agendam visitas todos os anos?.

Para que o MAE possa abrir suas portas, a UFPR precisa conseguir no mínimo R$ 600 mil, que garantiriam a reforma do retalhado e parte estrutural – a instituição tem garantido apenas a metade desses recursos. ?Com isso, já teríamos condições de abrir o museu e continuar com as obras, sendo que essa etapa até poderia servir de observação sobre o processo de restauro?, ponderou a diretora. Segundo ela, uma média de mil pessoas visitam o museu todos os anos, sendo que 60% são crianças e adolescentes. ?Mais de cem escolas agendam visitas no museu todos os anos porque o local é uma referência em diversas áreas como a arqueologia?, falou.

A diretora adiantou que dentro do eixo de ação da restauração do MAE será montada uma sala de exposições com o acervo do museu no prédio histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade, em Curitiba. ?Será uma exposição didática com a proposta de desenvolver a educação permanente?, explicou. A exposição será montada no subsolo do prédio, em uma área de 180 metros quadrados. Ana Luisa destacou que quem quiser conhecer o projeto de restauração e recuperação do museu pode acessar o site www.proec.ufpr.br.

Obra em Paranaguá levou 60 anos para ser concluída

A importância do Museu de Arqueologia e Etnologia de Paranaguá – antes era chamado de Museu de Arqueologia e Artes Populares (Maap) – é muito grande para o Paraná, pois além de preservar a história do desenvolvimento do Estado, é uma das únicas edificações da arquitetura colonial de três andares no sul do País. As paredes do prédio, que foi construído no século XVII para abrigar uma ordem jesuíta, têm mais de um metro de espessura, sendo que das suas janelas podem se apreciar as belas paisagens da cidade.

Inaugurado oficialmente em 19 de março de 1755, com o nome de Nossa Senhora do Terço, o atual museu levou 60 anos para ser construído, e acabou sendo ocupado por pouco tempo, já que em 1759 a Ordem dos Jesuítas foi banida do Brasil. Nos séculos seguintes, o local passou a sediar diferentes atividades, como residência do comandante da então Vila de Paranaguá, Serviço de Embarque do Exército e do Tiro de Guerra. Mas foi somente em 1930 que o prédio começou a ser restaurado, por iniciativa do médico, professor, pesquisador e folclorista José Loureiro Fernandes.

Em 1938, o prédio foi tombado pelo então Patrimônio Nacional, até 1953 passou por várias recuperações, sendo inaugurado como Museu de Arqueologia e Artes Populares (Maap), sob a guarda da Universidade Federal do Paraná, apenas em 25 de julho de 1962. Seu idealizador, o professor Loureiro Fernandes, foi quem fez a proposta museográfica e museológica do local, que foi centrada na recuperação das tradições populares e na arqueologia, privilegiando a tecnologia a partir das diferentes técnicas de produção da população do litoral paranaense.

As exposições e o projeto museográfico permaneceram até os anos 90s, quando passaram por restruturação. A idéia era modernizar a linguagem, incorporando também a arquitetura do monumento no roteiro de visitação. O museu passou então a ser designado Museu de Arqueologia e Etnologia de Paranaguá (Maep). Em 1999 seu nome foi novamente alterado para Museu de Antropologia e Etnologia (MAE).

O acervo atual do Maep é composto por 25 mil unidades, parte dele à mostra em exposições permanentes e temporárias. Entre as peças estão urnas funerárias, armas e instrumentos retirados de sítios pré-cerâmicos e cerâmicos e em sambaquis, localizados no interior do Estado e litoral. Além de utensílios, adornos e instrumentos de trabalho coletados junto ao povo xetá, contatado na década de 1950 na região da Serra dos Dourados, no noroeste do Estado do Paraná; bem como peças de etnias indígenas de caingangue e guarani, que habitam o litoral do Paraná, além de plumária, cestaria, armas, filmes e fotografias coletadas em comunidades indígenas de diferentes regiões do Brasil.

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