Ponte desaba na BR-116 e mata motorista

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Desabamento congestionou a rodovia durante todo o dia de ontem.

Uma pessoa morreu e três ficaram feridas no desabamento de parte da ponte sobre a represa do Capivari, na BR-116, que liga Curitiba a São Paulo. Oitenta metros da ponte cederam, fazendo com que um caminhão caísse na represa e outro ficasse pendurado nos escombros. O acidente ocorreu por volta das 23h de terça-feira e causou grandes congestionamentos até o final da tarde de ontem.

O motorista do caminhão que ficou submerso na represa, Zonardi José Nascimento, de 55 anos, foi retirado da água no meio da tarde de ontem. De acordo com o Corpo de Bombeiros, Nascimento saiu de Piraquara em sentido a São Paulo e transportava pneus remoldados. Ele ficou preso na cabine do caminhão e morreu.

No outro veículo que se envolveu no acidente, uma família conseguiu escapar com vida. O motorista Eduardo Egídio Oliveira dos Santos, a mulher Solange Fátima Kaczanoski e o filho de quatro anos, Henrique Oliveira Santos, ficaram feridos e estão internados no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul.

De acordo com o engenheiro supervisor da Unidade Local de Colombo do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), Ronaldo de Almeida Jares, o desabamento foi causado pelo acúmulo de água da chuva no canteiro central. Isso fez com que o aterro que fica ao lado da ponte deslizasse, atingindo dois pilares e causando o desabamento. Jares afirmou ainda que sempre é feita a drenagem na via, mas que isso não foi suficiente. Segundo o coordenador do Dnit no Paraná, Rosalvo Gizzi, não havia como prever esse tipo de acontecimento, "pois no mês de janeiro choveu mais que os últimos 29 anos", afirmou.

Na semana passada, a empresa Empo Engenharia, contratada pelo Dnit para fazer a manutenção da ponte, concluiu um recapeamento na via, mas segundo Jares, isso nada tinha haver com uma identificação do problema. "É um trabalho de rotina", falou.

Durante todo o dia, mergulhadores da Defesa Civil vistoriaram a represa em busca de outros veículos que pudessem ter caído na represa. O trânsito ficou parado desde a madrugada em ambos os sentidos da rodovia. A outra ponte, de São Paulo para Curitiba, foi liberada por volta das 9h15 de ontem, depois de ser vistoriada pelos engenheiros do Dnit e de se confirmar de que não haveria riscos. O congestionamento passou de 20 quilômetros de cada lado. Por volta das 15h30, a pista em direção ao Sul começou a operar nos dois sentidos.

A Polícia Rodoviária Federal estava orientando os motoristas que precisavam passar pela estrada a desviarem o trajeto pela BR-376 – sentido Ponta Grossa – e depois seguir viagem pela PR-151, passando por Castro, Jaguariaiva e Itararé (SP). Foi registrado aumento de fluxo na PR-151. No entanto, o trânsito ficou tranqüilo durante todo o dia de ontem. Na BR-476, mais conhecida como Estrada da Ribeira, não houve aumento no tráfego, porque em função da terraplenagem, os caminhões de maior porte não conseguem passar pela rodovia.

História

A ponte sobre a represa Capivari – no sentido Curitiba-São Paulo – foi finalizada em 1982. Ela tem 280 metros de comprimento. Quando houve duplicação do trecho, foi construída a ponte no outro sentido, ligando o São Paulo a Curitiba.

De acordo com o Dnit, entre 1999 e 2000, a ponte foi totalmente recuperada e não apresentava problemas. Apenas uma peça na junta de dilatação da ponte mais nova precisa ser trocada. O Dnit informou que já estava providenciando os reparos, quando foi surpreendido pelo acidente justamente na ponte que não apresentava necessidade de reajustes.

Calcula-se que a reconstrução do trecho que caiu custe R$ 2 milhões. O governo federal vai liberar a obra sem fazer licitação, em função do caráter emergencial dos reparos. Serão necessários pelo menos seis meses para concluir os trabalhos.

Requião critica governo federal

O governador Roberto Requião sobrevoou ontem o ponto onde houve o desabamento da ponte. Requião criticou a falta de manutenção da estrada, sob responsabilidade do Dnit. "É um caso típico de falta de manutenção. Ficam acumulando recursos para obter superávit primário e deixam de fazer serviços básicos para conservação das estradas brasileiras", afirmou.

Para Requião, é preciso cobrar do governo federal não só a manutenção das rodovias, mas a mudança da política econômica. "Nessa estrada para Curitiba não temos mais manutenção e todos nós sabemos que a União arrecada R$ 12 bilhões com a Cide e esse dinheiro vai para o pagamento da dívida externa", comentou. "Temos que cobrar uma mudança dessa política de superávit primário, de pagamentos absurdos de dívidas de banqueiros e começar a fazer investimentos no Brasil", sugeriu.

O abandono das estradas compromete a estrutura de logística e, assim, atrapalha o desenvolvimento econômico, segundo o governador. "No Paraná, nós estamos cuidando das estradas. A malha viária do Estado está em frangalhos e estamos investindo R$ 800 milhões em sua recuperação", garantiu Requião.

Telefonia afetada pelo acidente

A queda da ponte sobre a represa do Capivari provocou o rompimento da rede de fibras óticas pela qual é feito o transporte de voz e dados entre São Paulo e o Sul do País. Pela rede passavam cabos da Telemar, Brasil Telecom e Impsat.

A TIM Sul também alugava os cabos da Telemar e utilizava a linha para os serviços de recarga dos celulares pré pagos. O serviço não chegou a ser afetado porque a empresa converteu o sistema e passou a utilizar outra alternativa para transmissão de dados. As ligações telefônicas não foram prejudicadas.

Já as ligações interurbanas nacionais e internacionais, bem como o tráfego de internet, sofreram algumas dificuldades. A situação foi contornada pelo desvio do tráfego por Brasília pela rede da Brasil Telecom. Durante os trabalhos de recuperação da rede – que começaram desde as primeiras horas do dia – foram percebidos pequenos congestionamentos que afetaram (também de forma parcial) o serviço móvel da Brasil Telecom GSM em roaming fora da região. A situação foi normalizada a partir de 14h de ontem. (SR)

Técnicos do Dnit avaliam situação

Com o objetivo de tranqüilizar a população, o diretor-geral do Dnit, Alexandre Silveira, desembarcou ontem no Aeroporto Afonso Pena e disse, em entrevista coletiva, que a recuperação da ponte terá caráter emergencial. Segundo ele, o tempo para a restauração da ponte pode variar de três a seis meses, dependendo de avaliação da equipe técnica.

Logo após a coletiva, Silveira foi de helicóptero observar os estragos, acompanhado do coordenador técnico do Dnit, Eduardo Calheiro e do diretor-superintendente do Departamento da Polícia Rodoviária Federal no Paraná, Hélio Cardoso Derenne.

De acordo com Eduardo Calheiros, os técnicos do Dnit vão fazer a avaliação da ponte em conjunto com engenheiros paranaenses. Ele disse que o fator que determinará o tempo a ser gasto na recuperação da ponte está condicionado a diminuição das chuvas. "Quanto antes parar, melhor", afirma. Outro fator importante é a escolha do material para a estrutura da ponte. Segundo Calheiros, se for decidido pela estrutura metálica, a reconstrução pode ser mais rápida.

Os técnicos do Dnit, Carlos Fugati e Vitor Engelhardt, responsáveis pelo reforço da ponte em 2000, afirmam que o trabalho feito havia deixado a ponte nova e poderia agüentar cerca de cinqüenta anos. Eles dizem que o deslizamento de aterros por causa da chuva forte deve ter sido a causa do acidente. (Rhodrigo Deda)

Obras para evitar deslizamentos

Durante os próximos seis meses, quem for passar pela BR-116 com destino a Curitiba ou São Paulo terá que utilizar apenas uma das pontes sobre a represa do Capivari. Para evitar que ocorra outro deslizamento de terra como esse que derrubou uma das pontes na rodovia, o Dnit está providenciando a construção de um muro de pedra na cabeceira da ponte que ficou de pé. Segundo Ronaldo de Almeida Jares, engenheiro supervisor da Unidade Local de Colombo do Dnit, a solução deve evitar novos acidentes.

De acordo com o diretor do setor de tecnologia da Universidade Federal do Paraná, Mauro Lacerda Santos Filho, o desabamento da ponte foi causada pela falta de suporte do terreno no encontro da ponte com o asfalto. "Para evitar acidentes desse tipo, é preciso proteger o terreno fazendo um calçamento do local para evitar a erosão. Esse é um tipo de cuidado que já deveria ter sido tomado no projeto de construção da ponte", explica.

Perigo

Segundo Santos, existem no Paraná cerca de 700 pontes sob responsabilidade do Departamento Estadual de Rodagem (DER). Há ainda outras que estão nas rodovias federais e são de responsabilidade do Dnit, como a ponte que caiu ontem. Santos afirma que, segundo o último levantamento sobre as condições das pontes, realizado no ano 2000, verificou-se que a situação é perigosa. "Mais de 15% das pontes inspecionadas pelo DER precisam de reparos urgentes", disse. O grande problema, de acordo com o professor, é a falta de recursos para realização de obras. "O governo, ao licitar a construção de uma ponte, precisa prever o gasto de manutenção da obra e não apenas da execução", disse. (SR)

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