Polícia Federal põe Roberto Bertholdo na cadeia

A Polícia Federal prendeu ontem, em Curitiba, o advogado e ex-conselheiro da Itaipu Binacional Roberto Bertholdo, conhecido por atuar na defesa do ex-deputado Tony Garcia no processo do Consórcio Nacional Garibaldi e por advogar para os deputados José Janene (PP) e José Borba (PMDB), citados nas CPIs que investigam o esquema do mensalão no Congresso. As acusações que culminaram na prisão de Bertholdo são escutas telefônicas clandestinas, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. O mandado de prisão foi expedido pelo juiz substituto Gueverson Rogério Farias, da 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba.

A prisão do advogado faz parte da Operação TNT 2, deflagrada por meio de investigações conjuntas entre Polícia Federal e Ministério Público Federal e que culminou também em nove mandados de busca e apreensão em Curitiba, Brasília e São Paulo. A denúncia da Procuradoria da República revela que o advogado implantou escutas telefônicas para interceptar conversas do juiz da 2.ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro. O objetivo seria obter informações privilegiadas a respeito de processos envolvendo clientes de Bertholdo.

Um desses processos é o do ex-deputado Tony Garcia, que o advogado conseguiu paralisar o julgamento do caso durante três anos através de recursos no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Através da assessoria de imprensa da Justiça Federal de Curitiba, o juiz Gueverson Farias afirmou que existem indícios de que as escutas tratavam, entre outros trâmites, da prisão de Tony Garcia. É possível que o cliente tenha tomado ciência de que havia um mandado de prisão contra ele, em janeiro deste ano, antes mesmo de se efetivar a ação da polícia, o que teria sido repassado pelo advogado. As escutas foram feitas por Bertholdo entre dezembro de 2003 e maio de 2004, de acordo com o Ministério Público. Nesse contexto se encaixariam os crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos responsáveis pela denúncia, atesta que Bertholdo recebeu R$ 600 mil referentes a uma promessa de conseguir sentença favorável em liminar que corria no STJ. ?Esse dinheiro foi pulverizado entre diversos laranjas, caracterizando o crime de lavagem de dinheiro?.

Segundo Lima, as partes envolvidas e o conteúdo desse trâmite são sigilosos. ?Não há comprovação de que houve ato real de corrupção.? Ele afirma que as interceptações que culminaram na prisão do advogado envolvem um determinado cliente, mas não nega que pode haver ligação entre os grampos e quaisquer outros clientes de Bertholdo que despertariam interesse em ouvir conversas do juiz Sérgio Moro. ?O grampo foi para fazer o tráfico de influência, mas não se pode descartar ligação com outras acusações. Ainda não sabemos para quem exatamente interessava esse grampo.?

Apreensões

A Polícia Federal informou que foram apreendidos microcâmeras, aparelhos para filmagem, telefones celulares, detectores de radiofreqüência, veículos importados e dinheiro nas residências e escritórios vasculhados nas três capitais. De acordo com o superintendente da PF, Jaber Saadi, as denúncias devem se consumar através das investigações desse material. ?Sabe-se, porém, que ele tentava comprar até sentenças?, disse.

Roberto Bertholdo chegou na superintendência da PF por volta das 12h20 – a operação teria começado por volta das 4h da manhã. Ele não estava algemado e disse apenas que depois conversaria com a imprensa.

Mas apenas seu advogado, Ivan Xavier Vianna Filho, falou com os jornalistas à tarde. ?Desconheço as razões pelas quais ele foi preso?, afirmou. De acordo com Vianna Filho, as únicas interceptações telefônicas de que tinha conhecimento eram as do ex-sócio de Roberto Bertholdo, Sérgio Costa. ?O ex-sócio do doutor Roberto monitorou-o durante algum tempo no escritório, tendo como alvo o próprio Roberto e seus clientes, mas não era uma escuta clandestina.?

Sólidas amizades no PMDB e no PTB

O Jornal de Brasília revela ainda que, além do PP, sua sigla de origem e de seu cliente José Janene, Roberto Bertholdo tem sólidas amizades no PMDB, como José Borba, e no PTB. Já foi amigo do ex-senador Affonso Camargo, mas os dois se afastaram após os últimos acontecimentos. Outra amizade no PTB é Emerson Palmieri, segundo suplente na chapa comandada por Tony Garcia nas eleições de 2002, na qual Bertholdo era o primeiro substituto. Palmieri foi, até junho passado, diretor de Administração e Finanças da Embratur.

Em seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) citou Palmieri como testemunha no suposto recebimento de R$ 4 milhões para candidatos do PTB que teriam sido doados pelo PT. Segundo o jornal, Palmieri foi secretário particular de José Eduardo Andrade Vieira, ex-controlador do Bamerindus, hoje HSBC, de quem Bertholdo, até bem pouco tempo, era advogado. Também foi tesoureiro de Vieira na campanha ao Senado, pelo PTB, em 1990.

Repetiu a atuação em 1994, indicado por Andrade Vieira para a contabilidade da campanha de FHC, pagando contas que Sérgio Motta indicava. Em seguida, com a quebra do Bamerindus, foi presidente regional do PTB na época em que José Carlos Martinez virou presidente nacional do partido.

Em 2000, voltou a ser tesoureiro na campanha de Cassio Taniguchi, candidato de Jaime Lerner e Martinez à Prefeitura de Curitiba. Na época, denúncia do jornal Folha de S. Paulo mostrou que mais de R$ 20 milhões teriam passado pela contabilidade paralela da campanha, no chamado ?Escândalo do Caixa Dois?. Dois anos depois, Palmieri, já membro da executiva nacional do PTB, foi o representante do partido no comitê de finanças da campanha de Ciro Gomes.

Com o acordo PT-PTB, Palmieri assumiu a diretoria de Administração e Finanças da Embratur. (Da Redação)

Bomba-relógio pode estourar no Palácio do Planalto

A prisão do ex-conselheiro da Itaipu Binacional, Roberto Bertholdo, está sendo considerada como uma bomba-relógio que pode estourar no Palácio do Planalto e na política paranaense, devido às ligações que o advogado estabeleceu na política. Dono de uma biografia no mínimo polêmica, Bertholdo é casado com a filha do ex-deputado paranaense Erwin Bonkoski, um dos líderes do ?Centrão? na era Sarney. Mas seu nome apareceu mesmo nos anos 90, logo após perder a eleição para deputado estadual no Paraná, pelo extinto Partido da Renovação Nacional (PRN), quando tornou-se lobista da Construtora Tibagi.

Conforme apontou o jornalista Jorge Eduardo Antunes em uma reportagem do Jornal de Brasília, à época Bertholdo era o melhor amigo do comandante Jorge Bandeira, piloto e sócio de PC Farias, tesoureiro assassinado do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Com suas ramificações no governo teria conseguido travar no Conselho de Contribuintes da Receita Federal cinco processos nos quais a Tibagi era multada em quase US$ 1 milhão, por sonegação de impostos.

Mesmo com Collor fora do poder, o lobby de Bertholdo funcionava. O jornal brasiliense aponta ainda que, em 1995, os processos contra a Tibagi dormiam na gaveta da conselheira Marian Seif, presidente do Conselho, indicada por Cláudio Vieira, ex-secretário de Fernando Collor. Em agosto daquele ano, o então secretário da Receita, Everardo Maciel, demitiu Marian e fez uma faxina no Conselho. Bertholdo, então, saiu da Tibagi, mas não da vida pública. De acordo com a reportagem de Antunes, foi aí que ele tornou-se advogado de pesos-pesados da política paranaense, como o deputado federal José Janene, líder do PP, e José Borba, ex-líder do PMDB na Camara Federal, que o indicou, no começo de 2003, para o cobiçado cargo de conselheiro da Itaipu Binacional.

Relações com Borba

O ex-líder do PMDB utilizou por vários anos os serviços de Bertholdo. Primeiro, como advogado especializado na área tributária e depois como assessor parlamentar. Antunes afirma que, muito simpático, Bertholdo encantava a assessoria da Comissão de Orçamento e Finanças, de acordo com comentários de quem trabalhava lá. Promovia ainda, segundo algumas testemunhas da reportagem do Jornal de Brasília, festas animadas numa casa alugada no Lago Sul. Mais recentemente, Bertholdo teria redigido a polêmica e dura nota de despedida de Borba da liderança do PMDB, na qual ele acusou o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza de lotear cargos no governo federal.

Mas a ida de alguém tão próximo do esquema Collor para a Itaipu nos primeiros meses do governo Lula, para um cargo disputado – com salário de R$ 14 mil e obrigação de comparecer a uma única reunião mensal, teria de ter um padrinho mais engajado que Borba. Suspeita-se do advogado Daniel Godoy, ex-assessor do governo do Paraná. Filiado ao PT, Godoy seria o homem que o aproximou da cúpula petista, principalmente do ex-ministro José Dirceu, apontado como o avalista final da ida de Bertholdo para o ambicionado Conselho de Administração da Itaipu Binacional.

A indicação, feita em agosto de 2003, não agradou nada o presidente da Itaipu Binacional, o petista Jorge Samek. Bertholdo era filiado ao PP e disputara, em 2002, uma vaga como senador no Paraná como suplente de Tony Garcia, seu cliente e ex-deputado estadual acusado de gestão fraudulenta, sonegação fiscal, evasão de divisas, subfaturamento em importações e clonagem de veículos na administração do Consórcio Garibaldi. Samek teve de esperar quase dois anos para ver Bertholdo deixar o assento no Conselho de Administração.

Em janeiro de 2005, Bertholdo foi acusado de agredir, manter em cárcere privado e extorquir R$ 900 mil do ex-sócio Sérgio Renato Costa Filho. Por ordem do então ministro José Dirceu, acabou desligado em 22 de fevereiro deste ano. Já Bertholdo sustenta que foi ele quem pediu afastamento. (Da Redação)

Desvio e grampo no escritório teriam causado agressão

A agressão de Roberto Bertholdo a Sérgio Renato Costa Filho teria até mesmo ligação com a chamada Operação Big Brother, investigação da Polícia Federal para apurar uma negociata de títulos podres da Eletrobrás e Petrobras que pretendia lesar o Banco do Brasil em R$ 3 bilhões. O escândalo, segundo o jornal de Brasília, teria ramificações políticas, com gratificações as mais diversas. Mas nunca ficou provada a ligação de Bertholdo com o caso.

No meio da operação, porém, apareceu a acusação de Costa. A tortura teria acontecido por causa de suposto desvio de R$ 900 mil e de um possível ?grampo? no escritório, que teria captado uma comprometedora conversa entre Bertholdo e Tony Garcia, o que fez com que Costa resolvesse desfazer a sociedade.

Bertholdo teria acusado o ex-sócio de grampeá-lo e de desfalque. Segundo depoimento dado à polícia, Costa disse ter sido algemado, recebido choques, ameaçado de enforcamento e espancado durante 14 horas, com a ajuda de um segurança, do motorista e de dois homens que se diziam policiais civis.

O espancamento de Costa teria uma testemunha: Michel Saliba de Oliveira, ex-presidente da subseção de Curitiba da OAB, que atuava junto com Bertholdo na defesa de Tony Garcia e que foi preso na Operação Big Brother. Antes de desaparecer, com medo de represálias, Sérgio Renato Costa Filho teria relatado o episódio ao presidente da OAB-PR, Manoel Antônio de Oliveira Franco, que ofereceu a Saliba duas alternativas: renúncia ou licenciamento. Preferiu se licenciar.

Bertholdo, que ainda mantém escritório em Brasília, teve a prisão decretada em março pelo juiz Sérgio Moro. Em junho, obteve um habeas corpus. Neste período ficou foragido da Justiça, protegido em carros blindados e sem ser incomodado em Brasília. (Da Redação)

Defensor nega sessão de tortura

Em março desse ano, enquanto Bertholdo estava foragido, o seu advogado, José Roberto Batochio, esteve na redação de O Estado e afirmou que o episódio de Costa ?tratava-se de um episódio banal de desentendimento que tomou proporções de agressão e seqüestro?. Ele explicou que foi uma discussão que teria terminado em mútua agressão física. ?Como Bertholdo é mais forte, Costa acabou se machucando mais?, afirmou Batochio, dizendo que não houve, contudo, sessão de tortura. Mas Batochio confirmou a acusação de que Bertholdo teria coagido Costa a assinar papéis e transferir R$ 900 mil para uma conta sua.

Ao Jornal de Brasília, Roberto Bertholdo contou que foi a investigação o motivo que o fez abandonar o cargo de Conselheiro da Itaipu Binacional. Bertholdo confirmou ser amigo dos deputados José Borba e José Janene (PPB-PR), além do ex-deputado estadual Tony Garcia, para os quais já advogou. ?E também sou advogado do deputado Ricardo Barros (PP-PR)?, completou, citando o deputado federal acusado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de crime contra a ordem tributária.

Negou qualquer relação com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Porém afirmou já ter cumprimentado Dirceu e que já haviam até conversado. ?Mas nunca falei mais de um minuto?, insistiu. Disse também que não fez qualquer proposta de ampliação da Itaipu Binacional para viabilizar que a empresa realizasse assistência social.

Sobre uma possível viagem feita por ele em um jato de propriedade da Vip Jet, que é fornecedora da Itaipu, a seqüência de respostas de Bertholdo foi ?não sei?, ?acho que não?, ?jamais?, ?quase certeza que não?, ?nem conheço? e ?todos os meus vôos são feitos com meu dinheiro, dinheiro particular?. Porém a informação está em desacordo com os registros da Itaipu, onde consta o pagamento de viagens para o advogado entre Curitiba e Foz do Iguaçu e de Foz do Iguaçu para o Rio de Janeiro. (Da Redação)

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