Piraquara apresenta ocupações irregulares em áreas de proteção

Em Piraquara, a grande quantidade de mananciais de água faz com que o município seja responsável por mais de 50% do abastecimento da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Ao mesmo tempo, é um dos principais problemas, já que grande parte das áreas de ocupação irregular está situada justamente nessas áreas de preservação.

Na segunda reportagem da série sobre ocupações irregulares na RMC, O Estado conferiu de perto o dia-a-dia dos moradores da região do Guarituba, em Piraquara, a maior ocupação da RMC. São mais de 12 mil famílias vivendo em uma área de aproximadamente 15 quilômetros quadrados.

A ocupação do Guarituba começou há mais de 15 anos, com a expectativa dos moradores de encontrar um melhor local para viver. Expectativa que poderia até ser semelhante à chegada dos primeiros moradores de Piraquara, índios guaranis que formaram o caminho do Itupava. Bem diferente, no entanto, é a realidade dos atuais ocupantes, que ainda convivem com esgoto a céu aberto, falta de luz elétrica e telefone.

Trazer luz elétrica às casas é o principal sonho da diarista Maria de Lourdes Azevedo, de 54 anos. ?Queria poder pagar luz e ter um serviço decente. Aí a gente se vira para fazer economia para poder pagar a conta?, afirmou. No Guarituba, apenas 40% dos domicílios das áreas de ocupação têm luz regular. O restante é ?rabicho? (ligações clandestinas) feito pelos próprios moradores. Pela forma artesanal como é feito, curtos-circuitos são freqüentes.

Mas a vida já foi bem pior na região, segundo a avaliação da presidente da Associação de Moradores, Maria Aparecida Leonel, a Cida, que mora no local desde antes da ocupação. ?Da noite para o dia, apareceram no mínimo 200 famílias, num espaço em que antes era só mato?, relembra. Os confrontos com a polícia, acrescenta Cida, também eram comuns. Isso sem contar as brigas pela posse do terreno, entre os próprios moradores.

Regularização

Parte da esperança por melhorias na região será concretizada no próximo sábado. É quando 700 famílias vão assinar um contrato de doação, no qual a Prefeitura, dona daquela área, passa o terreno para os ocupantes. Uma das beneficiadas, Alba dos Santos da Cruz, mora com o marido e quatro crianças, e espera ansiosa a regularização. ?Vamos poder reformar a casinha, agora sem medo de que tirem a gente daqui?, comemora. A assinatura dos contratos acontece na Escola Rosilda de Souza Oliveira.

Está prevista também a realocação, no próprio Guarituba, de 800 famílias que encontram-se em área de preservação ambiental. As ações fazem parte do projeto municipal Novo Guarituba. ?É o maior trabalho de regularização fundiária do Paraná e, pelo grau de intervenção, será definitivamente um novo bairro?, afirmou o prefeito de Piraquara, Gabriel Jorge Samaha, o ?Gabão?.

As obras estão sendo possíveis graças à verba destinada pelo governo federal por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê R$ 92 milhões para Piraquara. ?Até maio, esperamos atingir a regularização de 2,4 mil famílias, além de outras 2,5 mil até o fim do ano?, completou Samaha.

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