A tecnologia foi criada para facilitar a vida das pessoas. Porém, muitas vezes, acaba complicando. Em pleno século XXI, ainda é grande a quantidade de gente que se bate para executar tarefas aparentemente simples, como acessar a caixa de mensagens do telefone celular, programar o videocassete, utilizar o caixa automático do banco ou o computador.
Segundo a professora de Ciências da Computação e coordenadora do Laboratório de Usabilidade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Adriana Betiol, tudo isso acontece porque geralmente os equipamentos eletrônicos são construídos pela lógica de funcionamento e não de utilização de sistemas. ?A tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas e tem como objetivo automatizar uma série de processos com a finalidade de facilitá-los. O problema é que ela não é uma coisa intuitiva, sendo realmente complicada de ser utilizada?, afirma.
As dificuldades resultam na subutilização dos produtos adquiridos. Exemplo freqüente disso acontece com os aparelhos de telefonia celular. Muitas pessoas compram telefones repletos de recursos e pagam um preço caro por isso, mas acabam utilizando apenas as funções básicas. Aparentemente, o equipamento moderno acaba sendo mantido apenas pelo status social que possa vir a representar.
Adriana explica que, geralmente as pessoas mais velhas, com idade acima dos cinqüenta anos, são as que mais sentem dificuldade em utilizar a tecnologia. Isso acontece porque elas não tiveram contato com a mesma durante grande parte da vida, tendo uma adaptação um pouco mais árdua. Entretanto, embora muitas vezes não admitam, os jovens também podem ter determinados sistemas como uma verdadeira pedra no sapato. ?Muitas pessoas ficam inibidas diante das inovações. Existem profissionais ilustres, altamente capacitados e de inteligência inquestionável, que se sentem incompetentes quando estão diante de um computador. Mesma coisa acontece com os avós que vêem seus netos pequenos e que ainda nem sabem ler e escrever direito executando tarefas que, para eles, parecem impossíveis. Isso acaba gerando um grande sentimento de frustração.?
Na opinião da professora, a solução seria a adoção de técnicas de usabilidade por parte de fabricantes de equipamentos elétricos e eletrônicos. O conceito é considerado relativamente novo e consiste na utilização de técnicas, no ciclo de desenvolvimento dos produtos, que venham a facilitar a vida do usuário. O tema deve ser abordado, na próxima quinta-feira, Dia Mundial da Usabilidade, em palestras promovidas no campi de Curitiba da PUCPR. Discussões semelhantes devem acontecer em cerca de cem cidades de trinta países do mundo.
Dificuldades dos mais velhos
Embora algumas pessoas tenham dificuldade de lidar com a tecnologia como motivo de vergonha, muitas admitem o problema e desejam soluções. É o caso da dona-de-casa Júlia Sbizera, de 80 anos, que todos os meses tem dificuldade de utilizar o caixa eletrônico do banco quando vai receber o dinheiro da aposentadoria.
?Procuro lidar com o caixa sozinha, mas depois de algumas tentativas fracassadas acabo pedindo ajuda aos funcionários. Ainda prefiro mil vezes usar o caixa normal. É bem menos complicado?, conta.
Já o aposentado João Maria Oliveira, de 56 anos, afirma que seria o primeiro a se matricular em um curso sobre como utilizar o forno de microondas. Embora não tenha problemas em usar o caixa do banco, ele considera o forno um verdadeiro bicho-de-sete-cabeças. ?Tem muita coisa no forno que eu não sei usar e até nem sei para que serve. Às vezes, parece que existem botões demais?, diz. (CV)