Paranaenses foram pioneiros na Antártica

As primeiras pesquisas biológicas do Brasil na Antártica foram feitas por um grupo de pesquisadores paranaenses. Eles também foram responsáveis pela organização dos projetos e laboratórios, que deram origem, em 1983, ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Hoje eles ainda continuam à frente de diversas iniciativas internacionais que mantêm pesquisas no local. Esses trabalhos estão sendo discutidos no 9.º Simpósio Internacional de Biologia Antártica, que acontece em Curitiba até amanhã.

A professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e representante do Brasil no Comitê Científico para Pesquisas Antárticas (Scar), Edith Susana Elizabeth Fanta, foi convidada para elaborar os projetos para a instalação da estação brasileira. Na época, ela chegou a ficar hospedada na estação polonesa, até que as estruturas do Brasil fossem montadas na Baía do Almirantado, na Ilha Rei George. ?Eu fui a primeira mulher a dormir na estação brasileira e fazer comunicação com o País via rádio?, lembra Edith, que já foi 12 vezes para a Antártica. Junto com ela, o professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Matry Bacila, também participou do planejamento dos laboratórios no Continente Antártico.

Mas quem entrou literalmente ?em uma fria? foi a oceanógrafa do Centro de Estudos do Mar, da UFPR, Theresinha Monteiro Absher, que chegou a ficar um ano na estação. Ela conta que ao longo desses 25 anos de pesquisas brasileiras na Antártica, ela é a única mulher que permaneceu no inverno na base do Proantar. ?Eu peguei uma temperatura de vinte graus negativos. Lembro que a água do mar não chegou a congelar, mas ficou com uma camada grossa de gelo?, comentou. A experiência, afirma Theresinha, foi muito importante porque pôde ampliar as pesquisas localmente.

Terra de todos

Há quinze anos, a oceanógrafa estuda os moluscos e invertebrados marinhos. A importância do trabalho, revela Theresinha, está em saber como repor a população local caso aconteça algum desastre ambiental na Antártica. Além disso, se for aberta a exploração comercial na região, as pesquisas poderão indicar quais espécies serão liberadas.

Já a pesquisadora Edith Fanta focou suas pesquisas nos peixes, cujo interesse foi verificar a sua capacidade de se ajustar a um ambiente tão particular, onde a temperatura da água se mantém na média de zero grau o ano todo, e a luminosidade é constante apenas durante seis meses. Segundo ela, os dados dessa pesquisa irão se somar a outros estudos mundiais para identificar o quanto se pode explorar do ecossistema, sem interferir no desenvolvimento das espécies locais. ?A Comissão para Conservação de Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR) é que vai reunir esses dados, onde o Brasil também participa, sendo uma iniciativa inédita no mundo?, explicou Edith.

O professor Matry Bacila tem interesse especial na adaptação biológica de organismos a temperaturas extremas, principalmente aves e peixes. Os mais de 200 trabalhos que já publicou sobre o assunto, em 20 anos de atividades na Antártica, são voltados para a parte molecular. Ele ressalta que hoje atua em pesquisas voltadas para o genoma de algumas espécies, cujos resultados poderão ser empregados na medicina mundial. 

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