Paranaenses engrossam turismo de Santa Catarina

Praias encantadoras, diversas opções de lazer e turistas o ano inteiro são fatores que garantem grande parte da receita de Santa Catarina. Não fosse a temperatura da água – geralmente muito mais fria – e as opções de cardápio, com seus eisbeins e marrecos recheados, um visitante desavisado poderia pensar que estava em alguma parte do Nordeste brasileiro.

Segundo um levantamento da Santur, o órgão oficial de turismo de Santa Catarina, os paranaenses são alguns dos visitantes que há muito tempo descobriram algumas das vantagens de passar férias no Estado vizinho. Em 2005, representaram 27,38% dos visitantes, atrás apenas dos gaúchos. E motivos para escolher o litoral catarinense não faltam. Ótima infra-estrutura, proximidade, qualidade das estradas e inexistência, pelo menos por hora, de pedágio, são algumas delas.

Com isso, milhares de paranaenses irão engrossar a estatística, dirigindo-se para Santa Catarina na temporada que se inicia, e deixando preciosos reais no bolso dos vizinhos. ?O curitibano, principalmente, é um excelente consumidor?, afirma Pedro Francisco Silva Filho, que há 27 anos gerencia uma barraca de venda de alimentos na praia de Balneário Camboriú.

E essa opinião é compartilhada por todos os empresários e vendedores do município ouvidos pela reportagem de O Estado. Balneário, como é conhecida a cidade, distante cerca de 200 quilômetros de Curitiba, transformou-se na ?menina dos olhos? da Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Turismo, sendo responsável por gerar uma receita de mais de U$ 207 milhões do total de quase R$ 505 milhões que o turismo gerou para Santa Catarina em 2005.

?Balneário Camboriú já desbancou Florianópolis e é o modelo que pretendemos adotar em todo o litoral catarinense?, revela o diretor de planejamento da Santur, Flávio Agostini. Essa mudança é resultado de estímulos da política municipal, que aceitou o desafio de criar atrações durante todo o ano – mesmo que fora do verão faça frio na região. ?A Prefeitura decidiu priorizar o turismo, que é a verdadeira vocação do catarinense, e com isso aumentou a receita do município diversas vezes?, conta o diretor de marketing da Santur, Valdir Walendowsky.

O objetivo da Santur agora é que o litoral todo gere renda para os municípios durante o ano.

?Apenas no verão, o turista deixa no Estado cerca de U$ 450 milhões?, afirma o diretor de planejamento da Santur. Segundo Agostini, em Florianópolis, por exemplo, assim que o Carnaval termina, as pessoas dão a temporada por encerrada.

Mesmo a possível privatização da BR-376, no lado paranaense, e da BR-101, no lado catarinense, assusta a Santur. ?Com o pedágio a qualidade da estrada, dos serviços e a segurança devem melhorar. E as pessoas não se importam em pagar por isso?, diz Walendowsky.

Na temporada, aposta no público jovem e diversificado

O segredo de Camboriú para ter uma boa ocupação dos hotéis e pousadas mesmo em julho, foi apostar em aspectos que antes eram deixados de lado pelos administradores locais. ?Antes se combatia a criação de casa noturnas, por exemplo. Hoje elas são responsáveis por atrair gente até de outros países para Balneário?, explica Walendowsky. A mentalidade era de que, além do barulho, os grandes gastadores eram as famílias. Hoje a receita da cidade vem, em grande parte, do bolso de pessoas de 20 a 30 anos que buscam atrações a mais do que apenas areia e mar.

Um dos clubes noturnos da região, o Warung, que fica na cidade vizinha de Itajaí, foi eleito recentemente por uma revista inglesa como o terceiro melhor clube do mundo. ?O interessante é que quando ele foi aberto, há uns três anos, houve muita resistência da Prefeitura e até da população local. Hoje, o marketing que ele gera é importantíssimo?, diz o diretor de marketing.

Além dos clubes, Balneário Camboriú desenvolveu uma gama enorme de opções para um público jovem e até mesmo mais requintado. ?A principal característica do perfil desse jovem que vem à cidade e à região é ser das classes A e B?, diz Agostini. Ou seja, são pessoas que, apesar de ter dinheiro para gastar, são exigentes. Por isso nos últimos anos Balneário, antes conhecido por uma baía poluída e uma cidade adotada principalmente por idosos, melhorou sua infra-estrutura para poder receber Ferraris e restaurantes japoneses.

Quem caminha pelo centro de Camboriú parece estar num verdadeiro shopping a céu aberto devido às lojas de grife que se estabeleceram por lá. ?As lojas ficam abertas o ano inteiro, mas o verdadeiro movimento começa depois do Natal?, explica a lojista Rosilda Daniel. Grande parte da receita, completa a vendedora, vêm de curitibanos, londrinenses e maringaenses. ?Além das lojas de marca, a cidade se vale muito dos atrativos característicos do Estado, como as malharias, por exemplo?, diz.

A Santur, que espera que Camboriú receba cerca de 1 milhão de turistas no verão, quer aumentar o número de pessoas que vão ao Estado baseado no sucesso internacional da cidade, já vendendo até mesmo pacotes de viagem para o litoral todo para europeus e norte-americanos. Hoje, a grande maioria de argentinos e paraguaios que visita o Brasil, tem como destino Santa Catarina.

Problemas de cidade grande

Balneário Camboriú e a região pagam o preço de terem se transformado em cidade grande, enfrentando problemas difíceis de serem contornados. A principal reclamação dos turistas ainda é a qualidade da água do mar. ?Quando queremos pegar praia temos que nos dirigir para a Praia dos Amores ou Cabeçudas?, diz Airton César Cunha, curitibano que tem um imóvel em Camboriú.

De acordo com a Prefeitura, essa idéia de que as águas do Balneário são impróprias para banho não reflete mais a verdade. Desde o início da década, sucessivas administrações locais, às custas de uma política dura de combate aos esgotos irregulares, melhorou muita a qualidade da água.

Outro desafio para o governo do Estado e para as prefeituras é combater o crimes ligados à proximidade do Porto de Itajaí, que alimenta o tráfico de drogas, a pirataria e o contrabando. O ?camelódromo? de Camboriú, mesmo já tendo se tornado atração turística, preocupa a Prefeitura por causa da quantidade de produtos contrabandeados, o que pode ser um ponto negativo na hora de atrair turistas de fora do País. (DD)

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