Paranaense ainda desperdiça muita água

O verão começou. Com a nova estação, de temperaturas mais elevadas, vem um hábito bastante comum: o de se gastar mais água. Além dessa cultura do desperdício, neste período de férias as pessoas ficam menos preocupadas. Acabam deixando passar outro ?grande vilão? da perda de água: o vazamento. O desperdício está também na distribuição. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o índice de perdas no Paraná sobre os 608,793 milhões de metros cúbicos de água produzida por ano chega a 36,6%.

De acordo com o coordenador do Centro de Controle de Operações da Região Metropolitana de Curitiba, da Sanepar, Pedro Mikowski, quando a região passou por um período longo de estiagem, em 2006, com a necessidade do rodízio no abastecimento, as pessoas passaram a economizar um pouco. ?No entanto, passado esse período drástico, com as chuvas ocorrendo com mais regularidade, as pessoas acabaram esquecendo a escassez e já não economizam tanto?, revela.

Allan Costa Pinto
Mau exemplo no uso da água.

Segundo ele, a tendência do verão é um consumo mais elevado de água. ?Além do hábito rotineiro, os banhos são mais prolongados, há mais gasto com piscina, na hora de fazer a limpeza externa, uso do esguicho e não da vassoura. E tem o vício das pessoas de não prestarem atenção em torneiras, registros e válvulas com pequenos vazamentos?, afirma. O coordenador do órgão ainda lembra que a água que vaza e não é usada passou por tratamento: por isso tem valor agregado e custa. Em quantidade, sobre o que representa esse gasto, a Sanepar alerta: ?Uma torneira que fica gotejando durante um mês representa um desperdício de dois metros cúbicos, o suficiente para atender as necessidades de uma pessoa por 14 dias. Vazamento de um filete de apenas um milímetro consome dois mil litros por dia ou 60 metros cúbicos por mês?. Por isso, para este período eles orientam: ?É fundamental observar se a válvula de descarga está funcionando, se não há manchas de umidade nas paredes e calçadas e também se todas as torneiras estão vedando adequadamente?.

Alguns cuidados são importantes para evitar desperdício e despesa mais alta. De acordo com a Sanepar, antes de viajar, ?uma medida preventiva simples é fechar o registro do cavalete de água. Também é recomendável que protejam o cavalete contra ações de vândalos. A instalação de uma caixa com grade removível dificulta o roubo e a ação de depredadores, o que causa prejuízos financeiros e de consumo de água?. A última recomendação é que o acesso ao leitor da água seja facilitado.

Mikowski completa que em relação ao mesmo período de 2006, o abastecimento de água agora está muito bom. Porém ele alerta: ?Não estamos ainda com 100% do nível de nossas barragens. Então, não temos água de sobra?. ?As pessoas precisam cuidar. Não precisa sacrifício, apenas consciência?, pondera.

Desperdício de água pode ser resolvido com boa gestão

Anderson Tozato
Bittencourt: ocupações irregulares também são problema.

De acordo com o superintendente adjunto de usos múltiplos da Agência Nacional de Águas (ANA), Manfredo Cardoso, a água é um bem finito, mas se for usada racionalmente não faltará. Ele considera como desperdício várias práticas, não apenas os hábitos comuns nessa época do ano. ?A poluição também é uma forma de desperdício, pois dificulta a água potável e faz com que o custo com tratamento seja elevado. O desmatamento também. Tira a proteção, o rio é assoreado e perde vazão?, lembra.

Segundo o profissional, tanto o consumo não consciente quanto as perdas das próprias empresas de abastecimento e as outras práticas que fazem desperdiçar a água são questões de gestão. ?Cada vez mais a água deve fazer parte da vida das pessoas e também deve ser agenda prioritária dos municípios, estados e federação?, afirma.

Para o engenheiro químico e doutor em gestão ambiental, professor André Virmond Lima Bittencourt, fazer a gestão mais adequada da água que se tem disponível já é uma ação boa de combate ao desperdício. Ele acredita que tão necessária quanto a gestão das perdas é a gestão relacionada à ocupação das áreas. Segundo Bittencourt, a ocupação inadequada e o crescimento acelerado e descontrolado prejudicam a qualidade e a disponibilidade da água. ?É preciso mudar a postura e acreditar que, cada vez mais, a água está com restrita disponibilidade per capita. Tudo é válido para otimizar e prolongar as condições de água disponível com mais facilidade. E a gestão é uma questão básica para isso: desde a ponta até o usuário. Se a água for bem gerenciada haverá conforto?, alerta.

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