Paraná perde turistas para Santa Catarina

A Secretaria de Estado de Turismo do Paraná não tem em suas estatísticas um número oficial, mas estima-se que o litoral do Estado recebeu pouco menos de 1 milhão de turistas na temporada de verão. Já a Santur, o órgão de turismo de Santa Catarina, registrou, apenas em Balneário Camboriú, mais de 862 mil visitantes em 2005. Para os moradores da região no Paraná, o porquê da preferência dos turistas pelo estado vizinho, incluindo aí milhares de paranaenses (o Paraná é o segundo estado que mais manda turistas para Santa Catarina) é uma charada fácil de matar: tudo está ligado à infra-estrutura.

?É a principal diferença entre o litoral do Paraná e o de Santa Catarina. Enquanto estamos discutindo sobre uma maneira decente de o turista chegar até a Ilha do Mel, por lá já se estrutura a construção de espaços para transatlânticos aportarem em Camboriú?, avalia Jaime Luiz Cousseau, presidente da Associação Comercial e Industrial de Pontal do Paraná.

A terceira parte da série Raio-X do Litoral mostra que a região, na avaliação de seus moradores, recebeu diversas melhorias, mas  ainda é carente em alguns setores.

O objetivo da série é representar com exatidão a situação do litoral, trazendo ao leitor um retrato de pontos cruciais que devem estar na agenda do próximo governo estadual. A escolha dos temas foi baseada nos depoimentos das pessoas ouvidas pela reportagem. No próximo domingo (24), a série será encerrada com as propostas dos candidatos ao governo do Paraná para sanar os problemas da região.

Sucessivas gestões catarinenses apostaram na infra-estrutura para transformar o Estado num atrativo durante todo o ano. ?Balneário Camboriú já desbancou Florianópolis e hoje é o modelo que pretendemos adotar em todo o litoral catarinense?, revela o diretor de planejamento da Santur, Flávio Agostini. A mudança é resultado de um misto de estímulos da administração municipal e estadual, que aceitou o desafio de criar atrações durante o ano. Por isso Camboriú, antes conhecida por uma baía poluída, melhorou sua infra-estrutura para poder receber Ferraris e restaurantes japoneses.

No Paraná, o litoral parece só ganhar vida na temporada, mas os problemas gerados pelo acúmulo de turistas com a falta de estrutura são um fator negativo, na avaliação do presidente da Associação Comercial de Pontal. ?Por vezes falta água, a iluminação é deficiente. Quando recebemos muitos turistas, os problemas parecem que se multiplicam?. Mas ele também aponta algumas melhorias. ?As estradas estão em ótimo estado, tanto a BR-277 quanto as rodovias estaduais. Depois da revitalização, a PR-412 melhorou?, diz Cousseau. Além disso, o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) já tem projetos para a construção do trecho paranaense da BR-101 -que faria a ligação direta entre os portos de Antonina, Paranaguá e de Itajaí (SC), sem a necessidade das cargas passarem por Curitiba – e para mais uma linha férrea ligando Curitiba ao litoral. ?A execução de novas obras depende de vontade política, mas seria sem dúvida a salvação do litoral do Paraná?, diz o prefeito de Antonina, Kleber Oliveira Fonseca.

Mais deficiências

Para Maurício Lense, presidente da Associação Comercial de Guaratuba, outro complicador é a coleta deficiente de lixo nos municípios. ?É difícil para os empresários investirem aqui. Estão construindo um hotel internacional em Guaratuba, mas quero ver o que os europeus vão pensar quando verem o lixo acumulado nas esquinas?, reclama. Lense lembra ainda que Guaratuba não possui um hospital de emergência. ?Como é que podemos ter uma população idosa por aqui se quando alguém tem um ataque cardíaco precisa ser levado até Joinville ou atravessar o ferry boat para ir até Paranaguá??, questiona.

Revitalização depende de vontade política

Os balneários de Flamingo e Riviera e um trecho da Avenida Atlântica de Matinhos sofrem constantemente com a ação das correntes marítimas, que destruíram a calçada da beira-mar e engoliram parte da faixa de areia da praia. No passado, Caiobá, que fica na mesma cidade, já passou por isso e, com algum investimento, conseguiu resolver o problema do mar levando embora a preciosa areia (mesmo que isso o problema tenha sido causado por sucessivas levas de ocupação desordenada).

Em junho do ano passado foi apresentado na Prefeitura de Matinhos um estudo para recuperação e revitalização da orla da cidade. O responsável técnico pelo estudo, o geólogo Antônio Fernandes da Cunha Neto, acredita que ações simples e que custariam valores razoáveis podem recuperar, em até 30 meses, as praias do município. De acordo com o estudo que desenvolveu ao longo de 11 anos, o geólogo afirma que gabiões como os que foram construídos há 25 anos nas praias Brava e Mansa resolveriam o problema da erosão e manteriam a areia na orla.

?Além disso, não adianta apenas jogar pedras nas praias para segurar os barrancos, isso apenas acelera o processo de erosão?, diz. Mesmo a técnica de engordamento, que consiste em jogar mais areia nas praias, é ineficiente, aponta o estudo. Para Neto, sem o suporte dos gabiões, o mar carrega a nova areia facilmente. Segundo o geólogo, o custo para a colocação dos gabiões e recuperação das praias numa extensão de 4,5 quilômetros custaria por volta de R$ 7,5 milhões.

Na época, a Associação Comercial do município apresentou também uma proposta audaciosa da construção de uma marina de um quilômetro de extensão, que sairia da região do Pico de Matinhos, famoso ponto de prática de surfe, em direção ao mar. ?Além de espaço para ancorar 220 barcos, seria um pólo turístico para bares, lojas e restaurantes?, diz. Ele acredita que o investimento, em torno de R$ 12 milhões, é sinônimo de revitalização econômica.

Mas o projeto está engavetado. Segundo o prefeito Francisco Carlim dos Santos, apenas o Relatório de Impactos do Meio Ambiente, exigência do Ministério do Meio Ambiente para esse tipo de obra, custaria em torno de R$ 2,6 milhões. ?O problema é que temos divergências com o governo estadual, que acredita que, apesar de mais caro, a melhor solução seria a desapropriação da área próxima à orla?, diz. O motivo: quase todas as habitações na área são resultado de ocupação irregular.

Voltar ao topo