Os pais que não têm motivos para comemorar

Enquanto milhões de filhos lotaram lojas e shoppings de todo o País nesta semana à procura de um presente para o homenageado de hoje, muitos pais não têm a menor expectativa de receber uma lembrancinha, nem mesmo uma visita. São pais que estão em asilos, esquecidos pela família.

Rafael Cambilo, 74 anos, mora há seis anos no Lar Sociedade Socorro aos Necessitados, no Tarumã. Ele comenta que poucas vezes recebe a visita do seu único filho. “Não ligo para isso…Acho que é por isso que ele não vem”, diz. Mas para ele a vida não está ruim, acha confortável morar no abrigo, pois tem amigos e tratamento médico.

Vitor Martins, 86 anos, também não recebe muitas visitas e passa as tardes andando pelo jardim. Vez por outra, os dias são animados por grupos de crianças, jovens e outros idosos que vão até o local para uma confraternização. Da família pouco sabe. Se separou da mulher e quase não teve contato com a filha. “Ela nem sabe que estou aqui. Gostaria que ela viesse me ver”, fala.

Grande parte dos idosos busca refúgio no abrigo porque ficaram doentes e não tinham ninguém para cuidar deles, ou ainda, não se davam bem com a família. Edison Silva, 61 anos, por exemplo, tem três filhos, mas não havia compatibilidade com os genros. “As filhas são boas”, diz. A vontade de manter sua independência foi outro motivo. “Gosto de viver do meu jeito, sem depender dos outros”, argumenta. Estes pais também acabam perdendo o contato com os netos, nem mesmo sabem quantos têm. Edison não sabe quase nada sobre os seus, só a idade. “Um de quatro e outro de oito”, fala.

Saudade

Apesar de diversas histórias tristes, muitos pais procuram se manter animados. Wilson Barbosa Leite, 74 anos, é um exemplo de alegria e lucidez. Ele tem quatro filhos, três moram em São Paulo e só a que mora em Curitiba vai vistá-lo. Dos outros não sabe nem se estão vivos. A saudade persiste. “Que pai não gostaria de ver os seus filhos?”, pergunta. Ele pede ainda que exista mais compreensão entre as duas gerações.

No abrigo, uma das distrações de Wilson é escrever poesias. Algumas até estão impressas para serem dadas aos visitantes. Quem for visitar os velhinhos do lar Sociedade Socorro aos Necessitados, pode ser saudado assim: “Se me foi dado o dom das letras e a rima poética, neste exato momento farei com que todas as flores dos campos e lírios dos vales falem em uníssono, agradecendo a visita de vós”.

Creches para idosos

O superintendente da Sociedade Socorro aos Necessitados, Jocy Antônio da Silva, conta que a maior parte do idosos tem uma história sofrida e no abrigo acabam recebendo mais cuidados do que se estivessem em casa. Em muitos lares, todos da família trabalham e ninguém pode atendê-los durante o dia. Para ele, o ideal seria criar um espaço para que os idosos ficassem de dia fazendo diversas atividades e à noite retornassem para casa. Desse modo estariam bem cuidados, teriam convívio social e o vínculo com a família.

A paternidade em crise

A mestra em psicologia da Universidade de São Paulo (USP) Vera Iaconelli defende uma maior valorização dos pais. Segundo ela, as mudanças sociais atingiram em cheio a figura masculina, que ainda não conseguiu se adaptar às transformações. Agora os homens podem lidar com seu lado afetivo, a mulher saiu para disputar o mercado de trabalho e exige que ele divida a responsabilidade da casa e da família, o que gera uma série de conflitos. Segundo ela, as mulheres têm bombardeado os homens com cobranças, muitas vezes desvalorizando o pai na frente dos filhos. “Muitas mulheres deixam transparecer que não respeitam, não admiram e não dão valor para o homem e para o pai dos seus filhos”, afirma. Mas o filho veio daquele homem e ele também vai se sentir desvalorizado. Para a psicóloga, mesmo que esse pai tenha cometido muitos erros, deve ter seu valor reconhecido.

A alegria dos pais adotivos

Nem as barreiras biológicas conseguem desanimar aqueles que querem ser pais e só têm como caminho para realizar este sonho a adoção. “Vou para casa brincar com minha filha”. Esta frase agora é uma das maiores alegrias de Márcio Minarti, que adotou a pequena Pietra há pouco tempo. Depois de muita conversa com a mulher, Simone Minarti, resolveram que era hora de realizar o sonho de se tornarem pais.

Para adotar Pietra, hoje com seis meses de idade, o casal esperou dois anos, até encontrá-la. “É melhor que fosse parecida fisicamente conosco, para evitar o preconceito de quem está em volta. E também é preciso haver afinidade”, explica Márcio. Ele lembra que um dia antes de receber o telefonema para conhecer Pietra, sonhou com o encontro.

Eles estavam a caminho da Vara da Infância e Juventude para saber como estava o processo, quando receberam a notícia pelo telefone. “Nem olhei para os lados para atravessar a rua”, lembra. “Quando chegamos ao abrigo ela sorriu pra mim, quase desmaiei. Eu e minha esposa começamos a chorar”, fala. Ele queria levar a menina naquela hora para casa, mas teve que esperar pelo menos mais um dia para assinar os papéis. Conta que a noite foi longa. Hoje nem consegue descrever a emoção de ser pai.

Preparação

Hália Pauliv de Souza é vice-presidente da Ong Recriar: Família e Adoção, que ministra cursos e palestras para casais que procuram a vara de adoção. Ela comenta que geralmente os futuros pais resolvem adotar uma criança para dar sentido à vida. Mas tomar a decisão não é fácil. Muitas vezes eles passaram por várias tentativas de ter um filho de forma natural, sem sucesso. “Eles precisam elaborar o luto da perda. O sentimento de não poder ter um filho enquanto os outros podem”, explica. A maioria dos casais também sonha com um bebê, mas nos cursos a Ong incentiva a adoção de crianças maiores. “Às vezes a adaptação ocorre de modo mais fácil”, explica.

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