ONG denuncia indústria do parto ao MPF

Um grupo de ativistas em prol do parto natural denunciou ao Ministério Público Federal, na última semana, a indústria das cesarianas no País. A rede Parto do Princípio – organização não-governamental que reúne mais de 200 mulheres no Brasil e possui representantes no Paraná – entregou à Procuradoria um documento em que afirma haver corporativismo entre médicos para a realização da cirurgia em detrimento do parto normal. O dossiê também acusa a Agência Nacional de Saúde (ANS) de ineficiência na regulamentação e fiscalização do sistema de atendimento ao parto no setor da saúde suplementar. A expectativa da ONG é fazer com que o Ministério Público ajude a diminuir os números que transformaram o Brasil no campeão mundial de cesarianas.

Dos partos realizados no País financiados pelos planos de saúde, 79% são cesáreas. No Sistema Único de Saúde (SUS), este número cai para 27%. Neste ponto, a proposta das ativistas é que a interferência aconteça no sentido de fazer a ANS adotar medidas rígidas para proteger as usuárias dos planos de saúde e, assim, aproximar as estatísticas: ?O problema é que hoje as iniciativas são muito tímidas e quase sempre voltadas para o setor público. A mulher não tem toda informação que precisa para tomar a atitude que melhor lhe convém e a tendência é acreditar no que o médico fala, sem questioná-lo para buscar mais informações e poder fazer sua própria escolha?, afirma a representante da ONG no Paraná, Patricia Merlin.

Segundo ela, a ditadura das cesáreas tem vários fatores, que passam pela preferência dos médicos em agendar o horário – uma vez que isso proporciona melhor programação para suprir suas agendas – até o tempo de duração da cirurgia – uma hora contra até doze horas do parto natural. ?Hoje vivemos também a valorização da formação cirúrgica do médico obstetra nas faculdades, tornando o aprendizado da cesariana procedimento de rotina, e a indicação da cirurgia para evitar ações judiciais contra os médicos. São raríssimos os casos em que são denunciados por conta de seqüelas de cesáreas, diferente do que acontece no parto normal.?

Para Patrícia – que atua como doula, profissional que apóia física e emocionalmente a mulher na hora do parto -, se as gestantes fossem mais bem orientadas no que diz respeito ao parto natural e preparadas para o momento, poderiam mudar de idéia quanto à cesariana. ?A mulher precisa saber que, quando chegar a hora, pode até um determinado momento ficar em casa – não é preciso sair correndo. Ter um médico que seja favorável ao parto normal também é importante, assim como conseguir que o marido esteja junto e que ele também seja orientado, para que não se desespere. Essa tranqüilidade pode facilitar o parto e até fazer com que seja mais rápido.? 

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