Número de mortos no trânsito cresce todo ano

Pelo menos 50 mil pessoas morrem por ano no Brasil vítimas de acidentes de trânsito. A cada ano os números de mortos e feridos crescem nas estatísticas. Para acabar com esse problema, seria necessária uma revolução cultural da população, que abrange a educação e o fim da impunidade. Essa é a opinião do psicólogo Salomão Rabinovich, presidente da Associação de Vítimas de Trânsito (Avitran).

Ele classifica o grande número de óbitos no trânsito como uma questão de saúde pública mundial. ?No Brasil, a situação é muito séria e os números só aumentam. Isso é resultado da cultura automobilística distorcida do brasileiro. Acha que basta ter reflexo e andar em velocidade para dirigir?, afirma Rabinovich.

Segundo ele, as pessoas mais atingidas pelos acidentes têm menos do que 35 anos. Os custos com os sinistros e suas conseqüências chegam a US$ 10 bilhões por ano. ?Infelizmente não vamos conseguir resolver o problema do trânsito somente com medidas pontuais. É necessária uma revolução cultural, que leva gerações para começar a aparecer?, revela. Para Rabinovich, os ingredientes para essa revolução são: educação, cultura, cidadania, fim de privilégios e da impunidade, justiça ágil, legislação moderna, moralidade dos órgãos públicos e sensibilização política. ?Quando atingirmos tudo isso, também atingiremos o trânsito?, frisa. Ele cita o exemplo do Japão, que fez diversas mudanças e conseguiu diminuir pela metade o número de mortes em vinte anos.

Rabinovich defende uma avaliação psicológica mais apurada nos testes de concessão ou renovação da carteira de motorista e a obrigatoriedade do uso do bafômetro nas fiscalizações das polícias rodoviárias estaduais e federal. ?De nada adianta o Código Brasileiro de Trânsito (CBT) abaixar o nível de álcool permitido se não há instrumentos para fiscalizar. Não podemos esperar ninguém matar para depois fazer este teste no Instituto Médico Legal. Com a obrigatoriedade do bafômetro, muitas pessoas já ficariam fora de circulação?, comenta.

Manutenção

O psicólogo acredita que outro motivo para a grande quantidade de acidentes é a falta de manutenção dos veículos. Por causa disso, ele deseja a implantação da Inspeção Técnica Veicular, prevista pelo CBT, mas que nunca foi aplicada. Os carros teriam que passar por avaliações todo ano. ?O brasileiro compra o carro, gasta uma fortuna em equipamentos de som e não verifica se os freios e a suspensão estão em ordem. Não é só colocar combustível. O veículo precisa ser tratado como um filho, que sempre necessita de cuidados. Se a inspeção fosse aplicada, poderíamos salvar entre 4 e 5 mil vidas por ano?, ressalta.

Lesões pioram conforme a velocidade

O Hospital Cajuru, um dos que mais recebe vítimas de trânsito em Curitiba, tem uma média diária de 70 atendimentos relacionados com acidentes de trânsito. Desses, pelo menos três são casos graves. O diretor técnico do hospital, Luiz Carlos von Bahten, explica que o nível de velocidade do veículo influencia diretamente no tipo de lesão que pode acometer o motorista e os passageiros do carro.

Velocidade superior a 70 km/h, as chances para lesões graves são altíssimas. A velocidade entre 40 e 60 km/h pode provocar ferimentos moderados. As lesões leves acontecem quando o carro está com velocidade inferior a 40 km/h. ?Os motociclistas e ciclistas são sempre os que sofrem mais, com grandes chances das lesões serem gravíssimas. As pessoas dentro dos carros estão protegidas contra os impactos com a existência de airbag, cintos de segurança e freios ABS. Isso diminui muito as lesões?, conta Von Bahten. O airbag e os freios ABS somente são encontrados em carros de luxo.

Para ele, a obrigatoriedade destes itens de segurança em todos os carros e a redução da velocidade são essenciais para que o número de mortos e feridos pare de aumentar. ?Também é preciso alertar que não se pode dirigir depois da ingestão de bebidas alcoólicas. A dobradinha direção e bebida não funciona?, completa. Os gastos com um paciente grave na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) de um hospital pode chegar a R$ 200 mil, segundo Von Bahten. (JC)

Capital registra queda nos acidentes

Em Curitiba, foram registrados 17.279 acidentes no ano passado. Apesar de o número ser expressivo, houve uma redução de mais de mil acidentes em relação a 2003. O número de vítimas no mesmo período foi de 8.928, sendo 84 fatais.

O tenente-coronel Altair Mariot, comandante do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), explica que o grande problema do motorista curitibano é a imprudência. A distração e pequenos erros, como mudar de pista sem olhar nos espelhos retrovisores, podem causar acidentes. Os casos mais graves ocorridos na cidade são resultado de uma combinação perigosa: volante e bebidas alcoólicas. ?Principalmente de madrugada, os acidentes com vítimas fatais estão ligados com o consumo de álcool. Beber e dirigir é resultado da imprudência?, avalia Mariot.

Para ele, a situação somente vai melhorar quando o comportamento do motorista mudar. ?Os governos federal, estadual e municipal têm feito o possível. É preciso chegar e mexer com a sociedade para a consciência no trânsito. Tem que apelar para a mudança de postura e trabalhar com as crianças, os futuros motoristas?, classifica Mariot. (JC)

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